São Paulo, quarta-feira, 05 de abril de 2006

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Credores atacam proposta de ex-subsidiária

DA SUCURSAL DO RIO
DA FOLHA ONLINE, NO RIO
DA REPORTAGEM LOCAL


A proposta de compra da Varig, apresentada ontem pela Varig Log, decepcionou os principais credores da companhia aérea. Ela prevê um corte de mais de 50% dos funcionários da Varig e a redução da frota dos atuais 71 aviões (54 em operação) para 48.
A proposta da Varig Log prevê a criação de uma nova Varig, sem dívidas e com apenas 4.900 funcionários, segundo credores que participaram da reunião. Hoje, a Varig tem 10,4 mil funcionários. A Varig Log diz que seriam 2.000 os cortes. As dívidas com governo e demais credores ficariam separadas numa "velha Varig".
Essas dívidas seriam pagas com os resultados da nova Varig: 5% das ações da nova empresa seriam da "velha Varig", que assim teria acesso aos ganhos da nova companhia nessa proporção e poderia com eles pagar débitos. Tal proposta causou indignação entre os credores, já que a aérea tem hoje uma dívida total de R$ 7 bilhões.
Segundo Odilon Junqueira, presidente do fundo de pensão Aerus, o clima era de perplexidade diante do inusitado da proposta. O presidente da Varig, Marcelo Bottini, participou da reunião, mas não comentou a proposta. Para Junqueira, as condições apresentadas representam a compra da companhia por US$ 50 milhões. Dos US$ 350 milhões oferecidos, parte viria do caixa da companhia e parte de captação no mercado. Deste total, US$ 200 milhões seriam destinados ao pagamento de dívidas correntes, US$ 100 milhões seriam usados para a manutenção das aeronaves e US$ 50 milhões para o pagamento de indenização de funcionários.
"Na prática, querem levar uma empresa nova, sem dívidas, por apenas US$ 50 milhões, o resto é investimento", disse Junqueira.
Segundo ele, o Aerus não poderia aprovar a proposta mesmo que quisesse. O detalhamento do plano de recuperação da companhia prevê o pagamento de R$ 9 milhões por mês ao Aerus, que deixariam de ser pagos caso a proposta fosse aprovada.
A presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziela Baggio, classificou a proposta como um "desastre". Ela destacou o número elevado de demissões e o condicionamento a uma concessão de vôo de 20 anos para a nova Varig. Segundo ela, as demais aéreas têm concessões de dez anos.
A proposta foi apresentada pelo representante da área financeira do fundo de investimentos americano Matlin Patterson, Lap Chan.
O fundo possui participação na Volo do Brasil, empresa que comprou a Varig Log no início do ano. A Volo é acusada pelo Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias) de ser uma "laranja" do Matlin Patterson (isso porque estrangeiros não podem ter mais de 20% de participação em companhias aéreas no Brasil). Segundo a assessoria da Varig Log, a apresentação foi feita por Chan porque o fundo se encarregou de redigir a proposta de compra.
Para que a nova proposta da Varig Log seja aprovada ou rejeitada, ela terá que ser votada em uma nova assembléia de credores, a ser convocada. Isso demandará mais tempo, o que a empresa aérea não tem. A oferta pela Varig chegou em um momento em que o temor que o não-pagamento de dívidas com Infraero, VEM (empresa de manutenção), arrendadores e fundo Aerus impossibilite a continuidade das operações da aérea.
Ontem, a Infraero enviou nova carta à Varig alertando de que pode passar a cobrar as tarifas nos aeroportos no início de cada trecho da aérea, sob pena de seus passageiros não embarcarem.
Se aprovada, a proposta da Varig Log substituirá o plano de recuperação que foi aprovado pelos credores da aérea, que prevê a transformação dos débitos em ações da aérea via fundos de investimento e participação (FIPs).
Enquanto não há resposta sobre a proposta da Varig Log, o projeto original segue: os credores da Varig se reúnem hoje para escolher o gestor do FIP que controlará a aérea. (JANAINA LAGE, CLARICE SPITZ, MAELI PRADO, PEDRO SOARES)

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