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Credores atacam proposta de ex-subsidiária
DA SUCURSAL DO RIO
DA FOLHA ONLINE, NO RIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A proposta de compra da Varig,
apresentada ontem pela Varig
Log, decepcionou os principais
credores da companhia aérea. Ela
prevê um corte de mais de 50%
dos funcionários da Varig e a redução da frota dos atuais 71 aviões
(54 em operação) para 48.
A proposta da Varig Log prevê a
criação de uma nova Varig, sem
dívidas e com apenas 4.900 funcionários, segundo credores que
participaram da reunião. Hoje, a
Varig tem 10,4 mil funcionários. A
Varig Log diz que seriam 2.000 os
cortes. As dívidas com governo e
demais credores ficariam separadas numa "velha Varig".
Essas dívidas seriam pagas com
os resultados da nova Varig: 5%
das ações da nova empresa seriam
da "velha Varig", que assim teria
acesso aos ganhos da nova companhia nessa proporção e poderia
com eles pagar débitos. Tal proposta causou indignação entre os
credores, já que a aérea tem hoje
uma dívida total de R$ 7 bilhões.
Segundo Odilon Junqueira, presidente do fundo de pensão Aerus, o clima era de perplexidade
diante do inusitado da proposta.
O presidente da Varig, Marcelo
Bottini, participou da reunião,
mas não comentou a proposta.
Para Junqueira, as condições
apresentadas representam a compra da companhia por US$ 50 milhões. Dos US$ 350 milhões oferecidos, parte viria do caixa da companhia e parte de captação no
mercado. Deste total, US$ 200 milhões seriam destinados ao pagamento de dívidas correntes, US$
100 milhões seriam usados para a
manutenção das aeronaves e US$
50 milhões para o pagamento de
indenização de funcionários.
"Na prática, querem levar uma
empresa nova, sem dívidas, por
apenas US$ 50 milhões, o resto é
investimento", disse Junqueira.
Segundo ele, o Aerus não poderia aprovar a proposta mesmo
que quisesse. O detalhamento do
plano de recuperação da companhia prevê o pagamento de R$ 9
milhões por mês ao Aerus, que
deixariam de ser pagos caso a
proposta fosse aprovada.
A presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziela
Baggio, classificou a proposta como um "desastre". Ela destacou o
número elevado de demissões e o
condicionamento a uma concessão de vôo de 20 anos para a nova
Varig. Segundo ela, as demais aéreas têm concessões de dez anos.
A proposta foi apresentada pelo
representante da área financeira
do fundo de investimentos americano Matlin Patterson, Lap Chan.
O fundo possui participação na
Volo do Brasil, empresa que comprou a Varig Log no início do ano.
A Volo é acusada pelo Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias) de ser uma "laranja" do
Matlin Patterson (isso porque estrangeiros não podem ter mais de
20% de participação em companhias aéreas no Brasil). Segundo a
assessoria da Varig Log, a apresentação foi feita por Chan porque o fundo se encarregou de redigir a proposta de compra.
Para que a nova proposta da Varig Log seja aprovada ou rejeitada,
ela terá que ser votada em uma
nova assembléia de credores, a ser
convocada. Isso demandará mais
tempo, o que a empresa aérea não
tem. A oferta pela Varig chegou
em um momento em que o temor
que o não-pagamento de dívidas
com Infraero, VEM (empresa de
manutenção), arrendadores e
fundo Aerus impossibilite a continuidade das operações da aérea.
Ontem, a Infraero enviou nova
carta à Varig alertando de que pode passar a cobrar as tarifas nos
aeroportos no início de cada trecho da aérea, sob pena de seus
passageiros não embarcarem.
Se aprovada, a proposta da Varig Log substituirá o plano de recuperação que foi aprovado pelos
credores da aérea, que prevê a
transformação dos débitos em
ações da aérea via fundos de investimento e participação (FIPs).
Enquanto não há resposta sobre
a proposta da Varig Log, o projeto
original segue: os credores da Varig se reúnem hoje para escolher o
gestor do FIP que controlará a aérea.
(JANAINA LAGE, CLARICE SPITZ, MAELI PRADO, PEDRO SOARES)
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