São Paulo, quarta-feira, 05 de abril de 2006

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LUÍS NASSIF

O caso Cemar

Em razão do IPO da Equatorial (que controla a Cemar, Centrais Elétricas do Maranhão), o GP Investimentos está proibido de se manifestar sobre o tema. Mas fontes próximas enviam explicações a respeito da coluna de ontem ("Tem gato no setor elétrico").
A Cemar foi privatizada em 2001, vendida para a PPL Global, fundo norte-americano que, após amargar prejuízos com o "apagão", devolveu a concessão pelo valor simbólico de R$ 1. A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) buscou compradores. Apesar de 11 candidatos terem retirado o data-room da venda, o ponto central era conseguir a concordância da Eletrobrás para a reestruturação de seus créditos. Apenas o GP conseguiu, unicamente negociando com os credores a dívida (o mais difícil dos quais era a Eletrobrás) e injetando R$ 30 milhões na companhia.
Conforme a coluna revelou em 2004, dados do Sindicato dos Eletricitários local revelavam que a empresa já havia sido saneada e começava a gerar caixa. Faltava apenas equacionar as dívidas. Se, na condição de maior credora, a Eletrobrás tivesse assumido a empresa, equacionado suas dívidas e, só depois, colocado à venda, teria se apropriado de toda a valorização. Preferiu transferir o ganho.
A Eletrobrás capitalizou crédito de R$ 55 milhões contra a companhia e repactuou o prazo da dívida remanescente, de R$ 400 milhões. Hoje em dia, os 35% da Eletrobrás valem R$ 400 milhões. Significa que os 65% do GP valem R$ 740 milhões -ou seja, uma valorização de mais de 2.300% em dois anos, sem considerar os dividendos distribuídos no período.
Não existe atividade convencional -como é uma empresa de eletricidade- que possa, por milagre, valorizar-se 2.300% no prazo de dois anos. É evidente que pelo menos parte dessa valorização já estava dada e não foi embutida na negociação.
Sobre a entrada do Banco Pactual no grupo de controle da empresa, pagando muito menos do que o preço do IPO, as fontes informam que a negociação começou no início de 2005 e as bases do negócio foram acertadas pelas partes ainda no primeiro semestre. Naquela ocasião, não havia nenhuma perspectiva de IPO da Cemar e a companhia ainda não tinha apresentado os resultados financeiros obtidos no segundo semestre.
Ora, em uma atividade tão previsível como a de distribuição de energia, era difícil que, já no primeiro semestre, os controladores da Cemar não tivessem noção do que seria o desempenho da companhia no segundo semestre. Não se está falando de um Zé Mane qualquer, mas do GP, um dos mais sofisticados fundos do mercado brasileiro.

Light
O diretor-geral da Aneel, Gerson Kelman, confirma que a inadimplência da Light, no Rio de Janeiro, é de 26%. Mas informa que a redução não depende só da empresa mas das condições de segurança da cidade e de outros aspectos, como a introdução de novas tecnologias para evitar os "gatos" -que acabaram questionadas por órgãos de defesa do consumidor.
Por esses fatores extra-empresa, alguns com conotação social, afirma Kelman, a política geral da Aneel é a de redução gradativa das perdas incorporadas às tarifas.


E-mail - Luisnassif@uol.com.br

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