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REUNIÃO DO BID
Rhodes diz que fluxo robusto de investimento se deve mais à liquidez global que às qualidades desses países
Presidente do Citi faz alerta sobre emergentes
MARCELO BILLI
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE
Investidores do mundo todo estão subestimando os riscos de investir nos mercados emergentes,
alerta William Rhodes, presidente
do Citibank e vice-presidente do
IIF (sigla em inglês para Instituto
Internacional de Finanças), a instituição que agrega os grandes
bancos internacionais.
A banca se reuniu em Belo Horizonte, no último final de semana, em encontro paralelo à reunião do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Rhodes diz que, em geral, os países
emergentes estão hoje em melhor
forma do que nos anos 1990
-com contas públicas e externas
mais ordenadas e inflação em
queda-, mas que essa melhora
não explica a empolgação.
"O fluxo robusto de capital não
é apenas resultado de bons desempenhos econômicos na América Latina, mas também da alta
liquidez global. Taxas de juros
crescentes nas economias desenvolvidas vão acabar com essa liquidez", diz. Japão, Europa e EUA
pela primeira vez aumentam os
juros simultaneamente.
Ele diz considerar que, com o
volume imenso de dinheiro no
mercado internacional em busca
de investimentos com retornos
altos, os prêmios atribuídos a cada papel, título ou país não refletem os verdadeiros riscos que oferecem. "Pode-se questionar até
que ponto esses "spreads" genuinamente refletem os riscos que
investidores e credores estão assumindo em países que não estão
perseguindo reformas econômicas de médio prazo, capazes de
produzir crescimento sustentado
e um ambiente de estabilidade",
alerta o presidente do Citigroup.
Um dos indícios de que há algo
de arriscado na forma como investidores têm colocado dinheiro
nos emergentes, sugere ele, é o fato de o risco ter caído de forma
muito homogênea: todos os países viram queda muito similar em
seus riscos, apesar de alguns terem melhorado mais que outros.
"Estamos estimulando nossos
membros a serem extremamente
cautelosos", diz. Não custa lembrar que os membros do IIF são
grandes bancos internacionais, os
mesmos cujas tesourarias e corretoras fazem os investimentos que
Rhodes diz serem arriscados.
"Em alguns aspectos, estamos
em situação parecida com a da
primavera de 1997. Existiam perigos, mas muitos não os reconheciam", insiste ele, fazendo alusão
ao período imediatamente anterior à crise das economias asiáticos, quando a maioria dos países
que sucumbiram tinham avaliação de crédito muito boa.
Na América Latina, os banqueiros se preocupam com o que alguns analistas têm chamado de
"novo populismo", com a eleição
de presidentes não alinhados com
o que a comunidade financeira
considera as melhores políticas
econômicas. Rhodes não citou
nenhum país.
"À medida que nós entramos
no ciclo eleitoral, começa um período de teste. Se vermos políticas
econômicas sólidas, e se começa
um novo ciclo de reformas após a
eleições, então os prognósticos
podem ser encorajadores", acrescenta Charles Dallara, diretor-gerente do IIF.
"Nós vivemos em um mundo
de ciclos. Nada vai para cima eternamente, temos correções", insinuou o presidente do Citigroup,
apesar de reconhecer que aparentemente os emergentes, latino-americanos inclusos, estão mais
preparados para enfrentar um ciclo de aperto.
Setubal
Roberto Setubal, presidente do
Banco Itaú, compartilha das preocupações de seus pares. Vice-presidente do IIF, ele diz que a diferença entre política econômica de
direita e esquerda na América Latina é muito pequena, apesar de
fazer a ressalva de que há o risco
da volta do "populismo".
"Na América Latina em especial, as diferenças entre esquerda e
direita se tornaram menores do
que no passado. São basicamente
as mesmas políticas econômicas",
diz Setubal. Ele também se refere,
ainda que indiretamente, ao fato
de que não haverá mudança de
políticas no Brasil mesmo com a
troca de ministro na Fazenda.
"O exemplo é que você muda
governos, mas não muda as políticas econômicas. Não só quando
mudam governos mas também
quando mudam ministros. Eu
acho que isso se aplica a toda a região", disse.
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