São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002

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Bancos já se preparam para explosão do calote

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Se o mercado de crédito for usado como termômetro da recuperação da economia brasileira, então as perspectivas do país para este ano não são as melhores. A oferta total de empréstimos está estagnada. Já o crédito de pior qualidade se encontra em franca expansão. E os bancos, preocupados, aumentam provisões para se prevenirem contra calotes.
Esse quadro nada animador é confirmado por quase todos os dados referentes a crédito no país. Em outubro do ano passado, o volume total de crédito ofertado era de R$ 335,3 bilhões. Seis meses depois, as taxas de juros caíram apenas meio ponto percentual para 18,5%, a massa salarial está em queda e a indústria se recupera a passos de tartaruga.
Conclusão: as otimistas expectativas em relação à expansão do crédito foram frustradas e a oferta total de empréstimos continuava estagnada em R$ 335,5 bilhões em março passado.
Se por um lado não há oferta nova de recursos, aumenta o percentual de empréstimos já concedidos que caminham para o calote. Um levantamento feito, a pedido da Folha, pelo professor Ricardo Leal, da Coppead, instituto de pesquisa da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), mostra que o crédito de pior qualidade- atrasado há mais de 90 dias- cresceu 12,6%, passando de R$ 12,7 bilhões para R$ 14,3 bilhões. Apesar desse crédito representar um pequeno percentual do volume total de empréstimos, sua deterioração já preocupa.
Não é à toa que os bancos estão reforçando suas provisões para os chamados créditos de liquidação duvidosa, ou seja, cujo risco de calote é grande. Essa tendência já era forte no fim do ano passado. Dados levantados pela consultoria Austin Asis mostram que o volume total de provisões aumentou 86% em dezembro de 2001 em relação ao mesmo mês em 2000.
Os balanços dos bancos do primeiro trimestre deste ano que começaram a ser divulgados mostram que essa tendência de reforço nas provisões se acentuou.
O Bradesco, maior banco privado do país, aumentou sua carteira de crédito em apenas 0,3% nos primeiros três meses do ano. Durante uma teleconferência com jornalistas na última quinta-feira, Luiz Trabucco, vice-presidente da instituição, explicou que a módica expansão dos empréstimos é resultado da fraca demanda por crédito. E lembrou:
"Durante o mesmo período no ano passado, a carteira de crédito cresceu quase 6%", diz Trabucco.
As provisões, no entanto, crescem em ritmo acelerado. Em março de 2001, o Bradesco tinha um total de R$ 2,59 bilhões de provisões para créditos de liquidação duvidosa. Em dezembro passado, este número havia subido para R$ 2,94 bilhões. Já em março passado, as mesmas provisões somavam R$ 3,48 bilhões.
Outra rubrica do balanço do Bradesco que indica, por um lado, a fortaleza do banco e, por outro, o receio de problemas econômicos à vista, segundo Erivelto Rodrigues, da Austin Asis é a chamada provisão excedente, que vai além do provisionamento exigido pelo Banco Central. No caso do Bradesco, as provisões excedentes cresceram 148% entre o primeiro trimestre de 2001 e o mesmo período neste ano.
"Isso indica que o banco enxerga a possibilidade do aumento de inadimplência", disse Rodrigues.
Além do Bradesco, Itaú, Banespa e o espanhol BBV Banco também reforçaram suas provisões neste início de ano. Analistas dizem que o BC está mais rígido na fiscalização, o que tem contribuído para o aumento das provisões, mas afirmam que o risco da inadimplência é o que mais tem levado a isso.
Os próprios bancos admitem o receio maior com a inadimplência. Em seu balanço, o Itaú ressalta que as provisões feitas, concentradas nos créditos concedidos a pessoas físicas "refletem a deterioração dos níveis de inadimplência do segmento no Brasil".



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