São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002

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RIQUEZA AMERICANA

Ações de empresas de tecnologia e teles caem, deixando para trás boas notícias do início do ano

Pessimismo derrota sinais iniciais de melhoria nos EUA

MARY CHUNG
DO FINANCIAL TIMES

Muita gente em Wall Street imagina para onde iremos daqui, enquanto os mercados de ações dos EUA mostram poucos sinais de que sairão de sua profunda queda. Ainda que os índices de ações tenham sido melhores na semana passada do que na anterior, quando sofreram suas piores perdas desde o ataque de 11 de setembro, o clima segue pessimista.
Michael Metz, analista de mercado na CIBC World Markets, diz que "há grande ansiedade no mercado e preocupações quanto à recuperação da economia".
Ele mencionou questões que influenciam a confiança dos investidores: o pesado endividamento dos consumidores, um ambiente desfavorável ao investimento empresarial e os problemas do dólar, o que pode elevar os preços das importações e reduzir o investimento estrangeiro nos EUA.
Com todos os fundamentos negativos, "existe a possibilidade de uma recessão de duplo mergulho", disse Metz. "Há pouca convicção no mercado atual e a próxima mexida provavelmente será para baixo, uma vez mais."
O sentimento que talvez soasse exageradamente negativo dois meses atrás, quando indicadores econômicos, entre os quais a revisão para mais dos dados sobre o PIB norte-americano no quarto trimestre, sinalizavam que a economia do país não só saía da crise como acelerava a todo vapor.
Mas o segundo trimestre revelou que boa parte do otimismo anterior dos mercados era exagerado. Nas últimas semanas, a esperança de recuperação rápida desapareceu, junto dos ganhos nos índices de ações.
Jim Paulsen, diretor de investimentos da Wells Capital Management, diz que "a principal coisa que estava sendo observada no trimestre era a solidez das informações de lucros das empresas e comentários igualmente sólidos sobre as perspectivas empresariais para o resto do ano".
Isso serviria como o próximo catalisador para empurrar as ações a uma alta, mas a recente série de resultados trimestrais desanimadores para os lucros empresariais não inspirou os mercados. Ainda que o quadro de lucros tenha tido melhora relativa, Paulsen diz que cerca de 60% das empresas cotadas no índice Standard & Poor's 500 de ações registraram declínio em seu faturamento, o que faz com que os investidores questionem a sustentabilidade de uma recuperação nos lucros.
A semana que passou viu mais instabilidade nos setores de tecnologia e telecomunicações, com alguns observadores categorizando a situação como "capitulação" das ações de teles, causada principalmente pelos problemas na WorldCom. A empresa continua a ser classificada como investimento saudável, mas seus títulos estão sendo tratados como "junk bonds" pelos mercados.
Bernie Ebbers, co-fundador da WorldCom, foi pressionando a renunciar ao cargo de executivo-chefe na semana passada. A empresa está sendo investigada pela Securities and Exchange Commission (SEC, agência federal norte-americana que regulamenta e fiscaliza os mercados de valores mobiliários) e o preço de suas ações sofreu queda dramática sob a liderança de Ebbers.
John Sidgemore, vice-chairman do grupo, foi indicado para sucedê-lo. Mas as mudanças no comando do grupo não tiveram muito efeito nos preços das ações da WorldCom. Elas eram negociadas por cerca de US$ 2 na semana passada, muito abaixo de seu pico de US$ 61,89 no terceiro trimestre de 1999.
A WorldCom não foi o único grupo a ter mudanças em seu comando. A Sun Microsystems passou por queda acentuada em suas ações depois da renúncia do "número dois" da empresa.
Ed Zanders, presidente e diretor operacional, anunciou que se demitiria da companhia em junho. A partida dele seria a quarta entre os principais executivos da Sun nas últimas semanas. A notícia causou pesadas vendas e os investidores derrubaram o preço das ações do grupo para US$ 6,45 no fechamento da quinta-feira, muito abaixo dos mais de US$ 64 em que estavam cotadas em setembro de 2000.
As notícias negativas também fizeram com que o índice composto Nasdaq atingisse seu ponto mais baixo desde outubro.


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