São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2004

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EFEITO GREENSPAN

Comunicado afasta temor de elevação antecipada da taxa dos EUA; Bovespa sobe 1,42% e dólar cai 0,37%

Alta de juro não vem já, diz Fed; risco cai 3,7%

DA REPORTAGEM LOCAL

Ao justificar ontem a manutenção dos juros nos EUA no menor patamar em 46 anos, o Fed (banco central americano) animou os mercados mundiais e desestimulou temores de que suas taxas básicas poderão subir antecipada e acentuadamente.
O Fed, presidido por Alan Greenspan, manteve os juros em 1% ao ano, mas sinalizou que poderá começar a elevá-los de maneira "moderada". A instituição deixou de afirmar que terá "paciência" para mexer na política monetária, como vinha dizendo em reuniões desde o ano passado, mas disse que a inflação está "sob controle" nos EUA e que a economia do país ainda não atingiu sua plena capacidade de produção.
Como resultado das mensagens do Fed, o risco-país brasileiro recuou 3,7% (para 675 pontos), a Bovespa teve alta de 1,42% e o dólar fechou em baixa de 0,37%, para R$ 2,97. Os títulos da dívida brasileira mais negociados no mercado externo, os C-Bonds, subiram 0,70%, para US$ 0,9113.
A manutenção dos juros era esperada, mas a moderação quanto a futuras elevações trouxe certa calma aos mercados emergentes.
Com a expectativa crescente de alta de juros nos EUA, os investidores venderam títulos de países emergentes nas últimas semanas. Como os títulos do Tesouro dos EUA são considerados de risco zero, investidores tendem a migrar para eles, em detrimento dos papéis dos emergentes.
Apesar do tom moderado, o comunicado do Fed não deu sinais claros de quando os juros subirão. Por essa razão, espera-se que os mercados voltem a reagir com volatilidade na divulgação de cada indicador americano.
Segundo a consultoria Global Invest, "os próximos meses ainda serão de muita volatilidade para os mercados emergentes", como tem sido nas últimas semanas.
"Abril foi um mês nervoso, muito por conta da expectativa em torno do juro dos EUA. Creio que esse cenário ainda vá se manter neste mês", diz Sérgio Cordone, da Tática Asset Management.
Na BM&F, os juros futuros recuaram, depois de serem pressionados nos últimos dias. Para este mês, os investidores seguem com a aposta de que o Copom (Comitê de Política Monetária) reduzirá novamente a taxa básica de juros (a Selic, hoje em 16% anuais).
Além da atenção aos EUA, os investidores acompanham de perto a evolução da economia da China. Espera-se que o governo do país adote medidas para conter o superaquecimento.
Se isso ocorrer, as exportações de mercados emergentes para a China tendem a recuar, pressionando suas contas externas.
O risco brasileiro alcançou na segunda os 701 pontos, seu maior nível em sete meses, depois de disparar 18,6% somente em abril. Risco em níveis elevados é ruim tanto para o setor privado quanto para o público. Ambos necessitam de financiamento no exterior. Quanto mais alto está o risco-país, maiores são os custos e as dificuldades para conseguir recursos no mercado externo.
Apesar da alta registrada pela Bolsa ontem, as perdas recentes ainda são grandes. Somente na semana passada, a Bolsa recuou 9,18%. Além dos títulos do Brasil no exterior, os estrangeiros têm vendido ações na Bovespa.
Em resposta à ansiedade do mercado sobre o risco de investir no Brasil, o chefe da missão do FMI (Fundo Monetário Internacional) que está no país, Philip Gerson, disse ser preciso ter "serenidade". "A situação é boa, e não devemos perder nossas cabeças."
De negativo no mercado ontem foi a fracassada tentativa do Tesouro Nacional de vender títulos públicos prefixados (LTNs). O Tesouro não aceitou as propostas das instituições financeiras, que, para o governo, pediram taxas muito elevadas.


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