São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2004

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EFEITO GREENSPAN

Tesouro não consegue vender papéis com prazos mais longos

Investidor pede juro alto, e leilão de títulos é cancelado

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O temor de que o Fed (banco central americano) pudesse sinalizar uma alta antecipada dos juros ontem acabou frustrando a tentativa do Tesouro Nacional de vender ao mercado títulos prefixados, as chamadas LTNs (Letras do Tesouro Nacional).
Mostrando apetite reduzido por papéis com vencimentos mais longos, os investidores pediram taxas altas, e o governo preferiu não vender nada.
O problema é que, com isso, o governo não conseguiu recursos que o ajudariam no resgate de outros títulos, como R$ 20 bilhões em Letras Financeiras do Tesouro (LFTs) que vencem no dia 19.
Para operadores, o Tesouro desistiu de vender os papéis porque interpretou que o nervosismo foi potencializado pela espera do resultado da reunião do Fed, que manteve os juros dos EUA em 1%.
Segundo rumores do mercado, outro possível motivo para a desistência seriam os efeitos negativos sobre o desempenho dos fundos de investimento.
Quando o Tesouro aceita pagar juros mais altos, essas taxas passam a ser consideradas a referência para a determinação do valor dos preços dos papéis. Taxa prefixada mais elevada é sinônimo de preços mais baixos e, portanto, de perdas na rentabilidade de fundos que aplicam nesses títulos e são obrigados a fazer a chamada marcação a mercado (atualização diária dos valores das cotas).
O problema, dizem analistas, é que alguns fundos já não vinham cumprindo a determinação de registrar o deságio (desconto nos preços) que papéis como as próprias LTNs e títulos pós-fixados, como as LFTs, vêm sofrendo.
Segundo analistas, os gestores não têm registrado essas perdas à espera de um possível recuo das taxas. Mas, se o governo aceitar pagar juros mais altos, é improvável que os mesmos recuem, e os gestores de fundos teriam de acabar registrando as perdas. Uma forte queda na rentabilidade desses fundos, por outro lado, poderia intensificar a saída de recursos que eles já vêm sofrendo.
A Folha tentou ouvir o secretário-adjunto do Tesouro Nacional José Antonio Gragnani, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
Foi a primeira vez, neste ano, que o Tesouro não vendeu nada em um leilão. As taxas altas pedidas por investidores são um sinal de que aumentou a percepção de que há maiores riscos à vista. O principal deles, segundo analistas, são as conseqüências de uma provável alta de juros nos Estados Unidos para o Brasil.
No total, o Tesouro ofertou R$ 1,8 bilhão de LTNs (Letras do Tesouro Nacional), do qual R$ 1,5 bilhão com vencimento em 1º de julho de 2005 e R$ 300 mil com prazo de resgate mais longo, em 1º de janeiro de 2006.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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