São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2004

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CONTRA O FMI

Em vez de pagar dívidas, como quer o Fundo, Néstor Kirchner prioriza aposentados e funcionários de estatais

Superávit fiscal elevará salário argentino

CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

A Argentina vai usar parte do superávit fiscal para aumentar os salários de aposentados e funcionários de empresas estatais a partir de junho. Os aumentos variam de 13% a 25% para os empregados das estatais, e o reajuste dos aposentados será de 8% em junho, mas chega a 17% até setembro.
Apesar da pressão do FMI (Fundo Monetário Internacional) para que o governo argentino use a diferença entre o que gasta e o que arrecada para melhorar o pagamento de dívidas, como ocorre no Brasil, o presidente Néstor Kirchner autorizou o aumento dos salários na segunda-feira.
Os aumentos foram concedidos dez dias antes da chegada da missão do FMI a Buenos Aires, que vai fazer a terceira revisão do acordo de US$ 13,3 bilhões assinado em setembro de 2003.
Em um mês, o governo também vai negociar a dívida de US$ 88 bilhões com os credores privados. Aos credores externos, o governo pede desconto de 75%. O acordo com o FMI estabelece que o país faça superávit fiscal de 3% do Produto Interno Bruto no ano.
Para o primeiro trimestre, esse montante equivaleria a 1,1 bilhão de pesos (mais ou menos o mesmo em reais), mas a Argentina economizou 3,9 bilhões até o mês passado. O aumento dos salários vai custar 547 milhões de pesos entre junho e dezembro e cerca de 1,1 bilhão de pesos no ano.
Estrategicamente, o Ministério da Economia anunciou os reajustes no mesmo dia em que saiu o resultado da arrecadação do mês passado, que cresceu 29% em relação a abril de 2003. No quadrimestre, mais 32,4% sobre 2003.
O aumento nos preços das commodities (produtos cotados em Bolsa), que são os principais itens de exportação da Argentina, e o aquecimento do consumo interno são as razões do forte aumento na arrecadação neste ano, segundo a Administração Federal de Ingressos Públicos da Argentina.
O reajuste de salários atinge 1,9 milhão de aposentados e 105 mil funcionários de estatais, cujos salários estavam praticamente congelados desde 1991. O único reajuste foi a devolução, no ano passado, de um desconto de 13% feito em 2001 na folha de pagamento das estatais promovido pelo ex-presidente Fernando de la Rúa.
Esses funcionários vão receber abono de 150 pesos se tiverem salários abaixo de 1.000 pesos. O salário dos aposentados sobe de 240 para 260 pesos em junho e para 280 pesos em setembro.


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