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CONTRA O FMI
Em vez de pagar dívidas, como quer o Fundo, Néstor Kirchner prioriza aposentados e funcionários de estatais
Superávit fiscal elevará salário argentino
CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES
A Argentina vai usar parte do
superávit fiscal para aumentar os
salários de aposentados e funcionários de empresas estatais a partir de junho. Os aumentos variam
de 13% a 25% para os empregados
das estatais, e o reajuste dos aposentados será de 8% em junho,
mas chega a 17% até setembro.
Apesar da pressão do FMI (Fundo Monetário Internacional) para
que o governo argentino use a diferença entre o que gasta e o que
arrecada para melhorar o pagamento de dívidas, como ocorre
no Brasil, o presidente Néstor
Kirchner autorizou o aumento
dos salários na segunda-feira.
Os aumentos foram concedidos
dez dias antes da chegada da missão do FMI a Buenos Aires, que
vai fazer a terceira revisão do
acordo de US$ 13,3 bilhões assinado em setembro de 2003.
Em um mês, o governo também
vai negociar a dívida de US$ 88 bilhões com os credores privados.
Aos credores externos, o governo
pede desconto de 75%. O acordo
com o FMI estabelece que o país
faça superávit fiscal de 3% do Produto Interno Bruto no ano.
Para o primeiro trimestre, esse
montante equivaleria a 1,1 bilhão
de pesos (mais ou menos o mesmo em reais), mas a Argentina
economizou 3,9 bilhões até o mês
passado. O aumento dos salários
vai custar 547 milhões de pesos
entre junho e dezembro e cerca de
1,1 bilhão de pesos no ano.
Estrategicamente, o Ministério
da Economia anunciou os reajustes no mesmo dia em que saiu o
resultado da arrecadação do mês
passado, que cresceu 29% em relação a abril de 2003. No quadrimestre, mais 32,4% sobre 2003.
O aumento nos preços das commodities (produtos cotados em
Bolsa), que são os principais itens
de exportação da Argentina, e o
aquecimento do consumo interno são as razões do forte aumento
na arrecadação neste ano, segundo a Administração Federal de Ingressos Públicos da Argentina.
O reajuste de salários atinge 1,9
milhão de aposentados e 105 mil
funcionários de estatais, cujos salários estavam praticamente congelados desde 1991. O único reajuste foi a devolução, no ano passado, de um desconto de 13% feito
em 2001 na folha de pagamento
das estatais promovido pelo ex-presidente Fernando de la Rúa.
Esses funcionários vão receber
abono de 150 pesos se tiverem salários abaixo de 1.000 pesos. O salário dos aposentados sobe de 240
para 260 pesos em junho e para
280 pesos em setembro.
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