São Paulo, sexta-feira, 05 de maio de 2006

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ECONOMIA GLOBAL

Entidade registra lucro US$ 110 milhões abaixo do previsto e deve ter prejuízo no ano fiscal de 2007

FMI não consegue cumprir a própria meta

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Em vários lugares, ministros e ex-ministros da Fazenda, presidentes e ex-presidentes de bancos centrais devem estar sorrindo. Depois de passar boa parte de seus 63 anos ameaçando cortar o apoio financeiro a países que não seguissem sua cartilha macroeconômica, o FMI (Fundo Monetário Internacional) anunciou ontem que errou na própria meta.
O FMI não cumpriu sua previsão, de que teria lucro líquido de US$ 276,8 milhões no ano fiscal de 2006, encerrado em 30 de abril último. Em vez disso, terminou o ano US$ 110 milhões abaixo do esperado. Mais: ao final do ano fiscal de 2007, prevê um prejuízo de US$ 88 milhões. E a cereja no bolo da ironia: dois dos responsáveis pelo déficit da entidade são o Brasil e a Argentina, não por dar calote, mas por fazer o contrário.
Ao pagar seus empréstimos antecipadamente, num total de US$ 25 bilhões, os dois países colaboraram para que o Fundo não alcançasse o rendimento planejado com juros. A informação foi confirmada por Michael Kuhn, diretor do departamento financeiro. "Sim, o pagamento dos dois países é a razão predominante para esse declínio", disse ele.
Kuhn anunciou que a entidade começará a investir todas as suas reservas monetárias em fundos de títulos de governo como maneira de compensar a queda de faturamento. O FMI tem hoje reserva de US$ 8,7 bilhões, o valor mais baixo em vários anos.
"Não creio que o investimento terá grande impacto nesses mercados", disse o diretor, afirmando que o FMI quer diversificar ações na zona do euro, no Japão, nos EUA e no Reino Unido. "É grande para uma instituição só, mas não tão grande para o tamanho desse tipo de mercado." A reserva de ouro do Fundo será mantida, diferentemente do que defendem alguns países, como a Holanda.

"Apertar os cintos"
O país europeu não está sozinho em suas recomendações de mudança. O FMI passa por uma crise sem precedentes em suas mais de seis décadas de existência, tanto financeira quanto de identidade, causada por um lado pelos crescentes superávits em conta corrente de emergentes e por outro pelo crescimento global robusto.
Os emergentes querem ampliar suas cotas e seu poder de decisão no Fundo. Pressionada na última reunião em Washington, a entidade aceitou elaborar propostas de reformulação. O plano, que deve se apoiar no tripé reforma do sistema de cotas/ criação de um "cheque especial" para países em dificuldades/mecanismos de vigilância multilaterais, deve ser apresentado em setembro.
"Aqui está a ironia", escreveu o conservador "Wall Street Journal". "O FMI terá de praticar agora o aperto de cintos que vem sugerindo aos outros há anos." Nos cálculos do diário, o déficit operacional nos próximos três anos pode chegar a US$ 600 milhões.


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