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ECONOMIA GLOBAL
Entidade registra lucro US$ 110 milhões abaixo do previsto e deve ter prejuízo no ano fiscal de 2007
FMI não consegue cumprir a própria meta
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Em vários lugares, ministros e
ex-ministros da Fazenda, presidentes e ex-presidentes de bancos
centrais devem estar sorrindo.
Depois de passar boa parte de
seus 63 anos ameaçando cortar o
apoio financeiro a países que não
seguissem sua cartilha macroeconômica, o FMI (Fundo Monetário
Internacional) anunciou ontem
que errou na própria meta.
O FMI não cumpriu sua previsão, de que teria lucro líquido de
US$ 276,8 milhões no ano fiscal
de 2006, encerrado em 30 de abril
último. Em vez disso, terminou o
ano US$ 110 milhões abaixo do esperado. Mais: ao final do ano fiscal de 2007, prevê um prejuízo de
US$ 88 milhões. E a cereja no bolo
da ironia: dois dos responsáveis
pelo déficit da entidade são o Brasil e a Argentina, não por dar calote, mas por fazer o contrário.
Ao pagar seus empréstimos antecipadamente, num total de
US$ 25 bilhões, os dois países colaboraram para que o Fundo não
alcançasse o rendimento planejado com juros. A informação foi
confirmada por Michael Kuhn,
diretor do departamento financeiro. "Sim, o pagamento dos dois
países é a razão predominante para esse declínio", disse ele.
Kuhn anunciou que a entidade
começará a investir todas as suas
reservas monetárias em fundos
de títulos de governo como maneira de compensar a queda de faturamento. O FMI tem hoje reserva de US$ 8,7 bilhões, o valor mais
baixo em vários anos.
"Não creio que o investimento
terá grande impacto nesses mercados", disse o diretor, afirmando
que o FMI quer diversificar ações
na zona do euro, no Japão, nos
EUA e no Reino Unido. "É grande
para uma instituição só, mas não
tão grande para o tamanho desse
tipo de mercado." A reserva de
ouro do Fundo será mantida, diferentemente do que defendem
alguns países, como a Holanda.
"Apertar os cintos"
O país europeu não está sozinho
em suas recomendações de mudança. O FMI passa por uma crise
sem precedentes em suas mais de
seis décadas de existência, tanto
financeira quanto de identidade,
causada por um lado pelos crescentes superávits em conta corrente de emergentes e por outro
pelo crescimento global robusto.
Os emergentes querem ampliar
suas cotas e seu poder de decisão
no Fundo. Pressionada na última
reunião em Washington, a entidade aceitou elaborar propostas
de reformulação. O plano, que deve se apoiar no tripé reforma do
sistema de cotas/ criação de um
"cheque especial" para países em
dificuldades/mecanismos de vigilância multilaterais, deve ser apresentado em setembro.
"Aqui está a ironia", escreveu o
conservador "Wall Street Journal". "O FMI terá de praticar agora o aperto de cintos que vem sugerindo aos outros há anos." Nos
cálculos do diário, o déficit operacional nos próximos três anos pode chegar a US$ 600 milhões.
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