São Paulo, sábado, 05 de maio de 2007

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Entrevista - Rupert Murdoch

Empresário que teve rechaçada proposta para adquiri Dow Jones diz em entrevista ao "New York Times" que segue interessado e quer globalizar influente diário econômico

Murdoch descarta interferir na redação do "Wall Street Journal"

RICHARD SIKLOS E ANDREW ROSS SORKIN
DO "NEW YORK TIMES"

Como qualquer leitor atento do "Wall Street Journal", Rupert Murdoch tem suas opiniões.
"Às vezes as reportagens longas me frustram", disse, acrescentando que raramente lê certos artigos até o fim.
As páginas de opinião? Ele gosta delas, mas apreciaria ver mais cobertura política nas páginas de notícias. "Eu talvez enfatizasse Washington um pouco mais", disse. Murdoch não é grande fã da edição de sábado do jornal, criada em 2005, mas a manteria, e tentaria converter a seção "Pursuits" em uma revista de final de semana capaz de concorrer com a revista dominical do "New York Times".
E embora não seja entusiasta da tecnologia, ele também disse ser leitor regular do colunista de tecnologia do jornal, Walter Mossberg, ainda que tenha acrescentado: "Não quero dizer que o compreenda perfeitamente".
A maioria dos leitores se limita a escrever cartas à redação. Murdoch apresentou uma oferta de US$ 5 bilhões pela aquisição da empresa que controla o jornal, a Dow Jones.
Para ter sucesso, ele primeiro precisa conquistar a aprovação da família Bancroft, que controla a Dow Jones há 92 anos e até agora resistiu a todas as suas abordagens, em parte devido a preocupações quanto ao que Muerdoch poderia fazer com o "Wall Street Journal".

Sem interferência
O empresário insiste em que não interferiria com o jornalismo ou tomaria medidas radicais de corte do quadro de funcionários.
"Não estamos chegando com uma equipe de corte de custos", disse Musrdoch. Mas acrescentou: "Não quero dizer que tudo vai parecer um acampamento de férias para os envolvidos".
Em entrevista no seu escritório de oitavo andar na região central de Manhattan, anteontem, Murdoch, que ocasionalmente consultava anotações em um bloco de folhas amarelas, discorreu sobre seus planos de investir no jornalismo da sua empresa, a News Corp., dando ao canal de negócios da Fox, que deve estrear em breve, o nome do "Wall Street Journal".
Ele também falou do compromisso de sua família com a herança do jornal e, talvez o mais surpreendente, demonstrou empatia pela posição adotada pela família Bancroft diante de sua oferta.
A família, que detém 64% das ações com direito a voto, anunciou que 52% dessas ações se opõem à proposta de Murdoch. Os Bancroft não responderem aos convites do empresário para reuniões com ele e seus filhos, James, Lachlan e Elisabeth.
"Minha intenção real é tentar obter uma reunião, e não impressioná-los com meu charme, se é que tenho algum. Quero impressioná-los com as intenções e sentimentos de meus filhos adultos", disse Murdoch, tentando atenuar as preocupações quanto à sucessão na News Corp. enquanto se acomodava melhor em seu sofá.
Embora ele tenha afirmado que continua tentando conversar com os Bancroft como grupo, Murdoch afirmou que não tem planos pessoais para tentar impressionar os acionistas individuais que hesitam quanto à sua oferta.
Os fundos da família Bancroft, que representam cerca de 35 membros do clã, têm 24,7% das ações da Dow Jones, mas controlam 64,2% dos votos, por meio de ações com direitos especiais. Já que muitos outros acionistas apóiam a proposta de Murdoch, ele teria apenas de convencer alguns dos membros da família.
"Não quero me ver na posição de colocar um Bancroft contra o outro. Meu objetivo não é causar problemas na família", disse. "Nosso entendimento é que existem diversos membros da família que ainda não tomaram uma decisão definitiva", afirmou.
"Acredito que o próximo passo, para nós, é manter a paciência e nos mantermos a disposição caso eles respondam à minha sugestão para termos uma reunião".
E se uma grande maioria da família terminar rejeitando sua oferta de maneira inequívoca? "Seria péssimo, mas, a depender de sua perspectiva, também seria admirável", disse Murdoch sobre a maneira pela qual a atitude da família seria provavelmente percebida. "Creio que isso causaria muita discussão."

Interesse antigo
Murdoch está interessado no "Wall Street Journal" há muito tempo. Ele disse ter decidido apresentar uma proposta formal após anos de flertes. Sua oferta, no valor de US$ 60 por ação, um ágio de 67%, tinha por objetivo "atrair a atenção dos proprietários", disse, embora reconheça que até mesmo alguns dos membros do conselho de sua empresa, que aprovou a proposta por unanimidade, a tenham considerado "insanamente alta".
Murdoch precisa convencer não só os membros da família Bancroft mas o pessoal da redação do "Wall Street Journal", muitos dos quais têm esperanças de que a oferta termine rejeitada.
Jesse Drucker, repórter e representante sindical do jornal, escreveu mensagem de e-mail aos seus colegas pedindo que enviassem mensagens curtas a três membros da família Bancroft: Leslie Hill, Christopher Bancroft e Elizabeth Steele.
"Insisto em que vocês participem disso", escreveu Drucker. "Os Bancroft estão sob tremenda pressão para aceitar a oferta da News Corp., e essa pressão só vai crescer caso Murdoch eleve a oferta, o que é provável", dizia a mensagem do repórter-sindicalista.
Murdoch falou sobre sua educação no ramo do jornalismo e mencionou diversos títulos que diz ter revitalizado e salvo do desaparecimento no Reino Unido e na Austrália, origem de seu império.
Ele acrescentou que fundou empresas em todo o mundo, entre as quais a rede Fox de televisão e a rede Fox de notícias, nos Estados Unidos, em situações nas quais as pessoas viam os mercados como superlotados, e que se orgulha por expandir as opções de mídia disponíveis para os consumidores. "Minha carreira foi longa e não vou dizer que não tenha sido pontuada por erros", afirmou.
Murdoch disse que, se houver possibilidade legal, mudaria o nome do Fox Business Channel e daria a ele a marca do "Wall Street Journal".
Embora se tenha esforçado por explicar que se considera primordialmente um jornalista, profissão que aprendeu com seu pai, na Austrália, ele também tentou explicar que sua reputação como proprietário propenso a interferências não procedia.

Independência editorial
Murdoch disse que não interfere com as operações noticiosas de seus jornais mais sofisticados, embora assuma papel mais ativo nos tablóides como o "Sun", de Londres, e o "New York Post".
Acrescentou que proporia aos Bancroft o estabelecimento de um conselho separado para o jornal, encarregado de garantir sua independência editorial, como fez ao adquirir o "Times" e o "Sunday Times" londrinos, em 1981.
Ele afirmou que o conselho independente funciona, lembrando que o "Sunday Times" se pronunciou vigorosamente pela queda de Margaret Thatcher, a quem Murdoch apoiava pessoalmente. Ele disse que "eu não sabia o que eles escreveriam", e depois brincou: "Fingi que não tinha lido".
Muita gente diz que o "Times" se tornou mais populista ou comercial sob seu comando, mas Murdoch responde a essa descrição com um "de forma alguma" e acrescenta que duplicou o espaço editorial e expandiu as sucursais internacionais do jornal.
E embora tenha afirmado que não interferiria diretamente nas operações do "Journal", disse: "Creio que iria bastante à redação não todos os dias. Afinal, se o dinheiro da News Corporation estiver envolvido seria uma imensa negligência minha não acompanhar a situação de perto."
Ele disse que admirava Richard Zannino, o presidente-executivo da Dow Jones, Marcus W. Brauchli, o diretor editorial do grupo, que assumiu o posto recentemente, e que os manteria em seus postos.
Murdoch afirmou que não transferiria editores da News Corp. para o jornal, mas afirmou que planejava consultar Robert Thomson, editor do "Times" londrino e ex-editor da edição norte-americana do também londrino "Financial Times", em busca de conselhos.

Empresa global
Ainda que tenha declarado que esperava obter lucros com seu investimento de US$ 5 bilhões, Murdoch disse, como o fez em sua carta aos Bancroft, que ser parte de uma grande empresa de alcance mundial permitiria investimentos de longo prazo.
Ele falou em revitalizar as edições européia e asiática do "Wall Street Journal", que andam desprovidas de recursos, e sugeriu também que a globalização poderia aumentar ainda mais a importância internacional do jornal. Disse que os milhões de leitores da China e da Índia representam uma oportunidade imensa que não deve ser desperdiçada.
Murdoch disse que as recentes mudanças promovidas pelo comando da Dow Jones, como a redução das edições internacionais, promoviam a "eficiência", e que sua empresa "adotaria um ponto de vista diferenciado para desenvolver um jornal que ofereça aos executivos e jornalistas mais recursos e mais investimento".
"Um ano atrás, eles tiveram lucros posteriores aos impostos de US$ 81 milhões e pagaram US$ 80 milhões em dividendos", afirmou Murdoch. "Uma empresa não cresce dessa maneira".


Tradução de PAULO MIGLIACCI

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