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Entrevista - Rupert Murdoch
Empresário que teve rechaçada proposta para adquiri Dow Jones diz em entrevista ao "New York Times" que segue interessado e quer globalizar influente diário econômico
Murdoch descarta interferir na redação do "Wall Street Journal"
RICHARD SIKLOS E ANDREW ROSS SORKIN
DO "NEW YORK TIMES"
Como qualquer leitor atento
do "Wall Street Journal", Rupert Murdoch tem suas opiniões.
"Às vezes as reportagens longas me frustram", disse, acrescentando que raramente lê certos artigos até o fim.
As páginas de opinião? Ele
gosta delas, mas apreciaria ver
mais cobertura política nas páginas de notícias. "Eu talvez enfatizasse Washington um pouco mais", disse. Murdoch não é
grande fã da edição de sábado
do jornal, criada em 2005, mas
a manteria, e tentaria converter a seção "Pursuits" em uma
revista de final de semana capaz de concorrer com a revista
dominical do "New York Times".
E embora não seja entusiasta
da tecnologia, ele também disse
ser leitor regular do colunista
de tecnologia do jornal, Walter
Mossberg, ainda que tenha
acrescentado: "Não quero dizer
que o compreenda perfeitamente".
A maioria dos leitores se limita a escrever cartas à redação. Murdoch apresentou uma
oferta de US$ 5 bilhões pela
aquisição da empresa que controla o jornal, a Dow Jones.
Para ter sucesso, ele primeiro
precisa conquistar a aprovação
da família Bancroft, que controla a Dow Jones há 92 anos e
até agora resistiu a todas as
suas abordagens, em parte devido a preocupações quanto ao
que Muerdoch poderia fazer
com o "Wall Street Journal".
Sem interferência
O empresário insiste em que
não interferiria com o jornalismo ou tomaria medidas radicais de corte do quadro de funcionários.
"Não estamos chegando com
uma equipe de corte de custos",
disse Musrdoch. Mas acrescentou: "Não quero dizer que tudo
vai parecer um acampamento
de férias para os envolvidos".
Em entrevista no seu escritório de oitavo andar na região
central de Manhattan, anteontem, Murdoch, que ocasionalmente consultava anotações
em um bloco de folhas amarelas, discorreu sobre seus planos
de investir no jornalismo da
sua empresa, a News Corp.,
dando ao canal de negócios da
Fox, que deve estrear em breve,
o nome do "Wall Street Journal".
Ele também falou do compromisso de sua família com a
herança do jornal e, talvez o
mais surpreendente, demonstrou empatia pela posição adotada pela família Bancroft diante de sua oferta.
A família, que detém 64% das
ações com direito a voto, anunciou que 52% dessas ações se
opõem à proposta de Murdoch.
Os Bancroft não responderem
aos convites do empresário para reuniões com ele e seus filhos, James, Lachlan e Elisabeth.
"Minha intenção real é tentar obter uma reunião, e não
impressioná-los com meu
charme, se é que tenho algum.
Quero impressioná-los com as
intenções e sentimentos de
meus filhos adultos", disse
Murdoch, tentando atenuar as
preocupações quanto à sucessão na News Corp. enquanto se
acomodava melhor em seu sofá.
Embora ele tenha afirmado
que continua tentando conversar com os Bancroft como grupo, Murdoch afirmou que não
tem planos pessoais para tentar
impressionar os acionistas individuais que hesitam quanto à
sua oferta.
Os fundos da família Bancroft, que representam cerca de
35 membros do clã, têm 24,7%
das ações da Dow Jones, mas
controlam 64,2% dos votos, por
meio de ações com direitos especiais. Já que muitos outros
acionistas apóiam a proposta
de Murdoch, ele teria apenas de
convencer alguns dos membros da família.
"Não quero me ver na posição de colocar um Bancroft
contra o outro. Meu objetivo
não é causar problemas na família", disse. "Nosso entendimento é que existem diversos
membros da família que ainda
não tomaram uma decisão definitiva", afirmou.
"Acredito que o próximo passo, para nós, é manter a paciência e nos mantermos a disposição caso eles respondam à minha sugestão para termos uma
reunião".
E se uma grande maioria da
família terminar rejeitando sua
oferta de maneira inequívoca?
"Seria péssimo, mas, a depender de sua perspectiva, também
seria admirável", disse Murdoch sobre a maneira pela qual
a atitude da família seria provavelmente percebida. "Creio que
isso causaria muita discussão."
Interesse antigo
Murdoch está interessado no
"Wall Street Journal" há muito
tempo. Ele disse ter decidido
apresentar uma proposta formal após anos de flertes. Sua
oferta, no valor de US$ 60 por
ação, um ágio de 67%, tinha por
objetivo "atrair a atenção dos
proprietários", disse, embora
reconheça que até mesmo alguns dos membros do conselho
de sua empresa, que aprovou a
proposta por unanimidade, a
tenham considerado "insanamente alta".
Murdoch precisa convencer
não só os membros da família
Bancroft mas o pessoal da redação do "Wall Street Journal",
muitos dos quais têm esperanças de que a oferta termine rejeitada.
Jesse Drucker, repórter e representante sindical do jornal,
escreveu mensagem de e-mail
aos seus colegas pedindo que
enviassem mensagens curtas a
três membros da família Bancroft: Leslie Hill, Christopher
Bancroft e Elizabeth Steele.
"Insisto em que vocês participem disso", escreveu Drucker. "Os Bancroft estão sob tremenda pressão para aceitar a
oferta da News Corp., e essa
pressão só vai crescer caso
Murdoch eleve a oferta, o que é
provável", dizia a mensagem do
repórter-sindicalista.
Murdoch falou sobre sua
educação no ramo do jornalismo e mencionou diversos títulos que diz ter revitalizado e
salvo do desaparecimento no
Reino Unido e na Austrália, origem de seu império.
Ele acrescentou que fundou
empresas em todo o mundo,
entre as quais a rede Fox de televisão e a rede Fox de notícias,
nos Estados Unidos, em situações nas quais as pessoas viam
os mercados como superlotados, e que se orgulha por expandir as opções de mídia disponíveis para os consumidores.
"Minha carreira foi longa e
não vou dizer que não tenha sido pontuada por erros", afirmou.
Murdoch disse que, se houver possibilidade legal, mudaria o nome do Fox Business
Channel e daria a ele a marca
do "Wall Street Journal".
Embora se tenha esforçado
por explicar que se considera
primordialmente um jornalista, profissão que aprendeu com
seu pai, na Austrália, ele também tentou explicar que sua reputação como proprietário
propenso a interferências não
procedia.
Independência editorial
Murdoch disse que não interfere com as operações noticiosas de seus jornais mais sofisticados, embora assuma papel mais ativo nos tablóides como o "Sun", de Londres, e o
"New York Post".
Acrescentou que proporia
aos Bancroft o estabelecimento
de um conselho separado para
o jornal, encarregado de garantir sua independência editorial,
como fez ao adquirir o "Times"
e o "Sunday Times" londrinos,
em 1981.
Ele afirmou que o conselho
independente funciona, lembrando que o "Sunday Times"
se pronunciou vigorosamente
pela queda de Margaret Thatcher, a quem Murdoch apoiava
pessoalmente. Ele disse que
"eu não sabia o que eles escreveriam", e depois brincou:
"Fingi que não tinha lido".
Muita gente diz que o "Times" se tornou mais populista
ou comercial sob seu comando,
mas Murdoch responde a essa
descrição com um "de forma alguma" e acrescenta que duplicou o espaço editorial e expandiu as sucursais internacionais
do jornal.
E embora tenha afirmado
que não interferiria diretamente nas operações do "Journal",
disse: "Creio que iria bastante à
redação não todos os dias. Afinal, se o dinheiro da News Corporation estiver envolvido seria uma imensa negligência minha não acompanhar a situação
de perto."
Ele disse que admirava Richard Zannino, o presidente-executivo da Dow Jones, Marcus W. Brauchli, o diretor editorial do grupo, que assumiu o
posto recentemente, e que os
manteria em seus postos.
Murdoch afirmou que não
transferiria editores da News
Corp. para o jornal, mas afirmou que planejava consultar
Robert Thomson, editor do
"Times" londrino e ex-editor
da edição norte-americana do
também londrino "Financial
Times", em busca de conselhos.
Empresa global
Ainda que tenha declarado
que esperava obter lucros com
seu investimento de US$ 5 bilhões, Murdoch disse, como o
fez em sua carta aos Bancroft,
que ser parte de uma grande
empresa de alcance mundial
permitiria investimentos de
longo prazo.
Ele falou em revitalizar as
edições européia e asiática do
"Wall Street Journal", que andam desprovidas de recursos, e
sugeriu também que a globalização poderia aumentar ainda
mais a importância internacional do jornal. Disse que os milhões de leitores da China e da
Índia representam uma oportunidade imensa que não deve
ser desperdiçada.
Murdoch disse que as recentes mudanças promovidas pelo
comando da Dow Jones, como
a redução das edições internacionais, promoviam a "eficiência", e que sua empresa "adotaria um ponto de vista diferenciado para desenvolver um jornal que ofereça aos executivos e
jornalistas mais recursos e
mais investimento".
"Um ano atrás, eles tiveram
lucros posteriores aos impostos de US$ 81 milhões e pagaram US$ 80 milhões em dividendos", afirmou Murdoch.
"Uma empresa não cresce dessa maneira".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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