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Real pode valer mais que dólar, diz Buffett
Homem mais rico do mundo admite que tinha visão atrasada sobre economia brasileira e diz que real é bom para investir
Em encontro anual para acionistas de sua empresa, Warren Buffett diz que foi alertado para o país e o real por Jorge Paulo Lemann
CRISTIANE BARBIERI
ENVIADA A OMAHA (EUA)
O real continua sendo uma
boa opção para investidores e,
no longo prazo, poderá, como
outras moedas que estão se fortalecendo, valer mais do que o
dólar. Essa é a opinião de Warren Buffett, presidente do conselho da empresa de investimentos Berkshire Hathaway e
considerado o homem mais rico do mundo, de acordo com a
revista "Forbes".
"O Brasil estava fora do meu
radar", afirmou Buffett à Folha
ontem. "Eu tinha uma visão
atrasada sobre a economia brasileira porque os países latino-americanos, de maneira geral,
têm uma fama ruim em relação
à estabilidade de suas moedas.
Mas o mundo muda e o Brasil
mudou."
Quem o alertou sobre as mudanças no Brasil foi o empresário e investidor Jorge Paulo Lemann, criador de vários negócios, entre eles, a AmBev. "Um
amigo querido e uma das pessoas mais inteligentes que eu
conheço", afirmou Buffett.
"Jorge Paulo não me falou especificamente para investir em
reais, mas me contou sobre as
perspectivas de valorização da
moeda. Segui a dica."
De acordo com ele, a Berkshire tem uma pequena parte de
seu patrimônio, que supera os
US$ 75 bilhões, apenas em participações em empresas, aplicado em reais.
Questionado se ele aproveitaria o enfraquecimento do dólar para investir em ações de
empresas americanas, foi categórico: não. "Se as coisas continuarem no caminho em que estão para os países produtores
de matéria-prima, eu não duvidaria que essas moedas [como
o real e o dólar canadense] ultrapassassem a cotação do dólar", disse Buffett. "Não digo no
próximo ano ou dois, mas em
dez anos, certamente."
Durante a assembléia de
acionistas no sábado passado,
em Omaha (Estado de Nebraska), Buffett já tinha afirmado
que a tendência da moeda americana é continuar em baixa.
"Os americanos mandam para fora US$ 2 bilhões por dia
em moeda. As políticas e o jeito
de vida americana estimulam o
enfraquecimento do dólar e
não há perspectivas de mudanças", afirmou.
Caminho oposto
Charlie Munger, vice-presidente do conselho e parceiro de
Buffett de todas as horas, afirmou que, em vez de pensar em
investir nos Estados Unidos,
pessoas de lugares nos quais a
moeda está se fortalecendo deveriam seguir o caminho oposto e encontrar bons ativos em
seus próprios países.
"É estranho como países socialistas como o Brasil e o Canadá estão valorizando suas
moedas, não?", ironizou Munger, já que os dois países têm
políticas sociais muito mais à
esquerda do que os EUA.
Sobre a crise americana, os
dois pareceram estar bem calmos. "Já vivemos outras crises
antes e todas são diferentes e
têm similaridades", disse Buffett, de 77 anos de idade. "Nunca vi uma que se espalhasse para outras áreas como essa. Com
o passar do tempo, no entanto,
a tendência é a de recuperação", afirmou o investidor, cuja
fortuna foi avaliada pela "Forbes" em US$ 62 bilhões.
A estratégia de investimento
da Berkshire, dizem eles, permite esse tipo de "postura".
"Investimos em empresas que
têm potencial de crescimento,
e não no mercado de ações", diz
Buffett. "A Bolsa oscila de acordo com crises e com desempenhos trimestrais, mas sabemos
que as empresas em que investimos terão bom desempenho
no longo prazo."
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