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A falsa quebra do Banespa e do BB: as provas
ALOYSIO BIONDI
Quem está confessando a verdade, agora, é a própria equipe
econômica FHC/BNDES: o Banco do Estado de São Paulo não
"quebrou" em 1994. Sua "falência", anunciada ruidosamente, foi forjada por Malan,
Loyola, Franco, Serra e aliados
-com a conivência do governador tucano Mário Covas, óbvio. O Banespa jamais quebrou
-foi tudo encenação para enganar a opinião pública e levá-la a apoiar a sua privatização.
Essa confissão foi feita na semana passada, sem merecer o
destaque devido, nos meios de
comunicação. Para entender a
reviravolta, não custa relembrar a história da "quebra" do
Banespa: em 1992, o governo
paulista, com o apoio do próprio Planalto, renegociou sua
dívida para com o banco, para
pagamento em muitos anos, em
prestações. Até dezembro de
1994, essas prestações foram pagas.
Naquele mês, já eleito o tucano Mário Covas, e às vésperas
de sua posse, o governo Fleury
atrasou o pagamento de uma
prestação, no valor de R$ 30
milhões, ridículo quando comparado ao tamanho da dívida,
então de R$ 5 bilhões. Período
do atraso? Apenas 15 dias.
Prontamente, a equipe
FHC/BNDES aproveitou o
"atraso" para considerar que
o acordo de refinanciamento da
dívida estava quebrado e, como
consequência, decidiu também
que toda a dívida de R$ 5 bilhões deveria ser considerada
como prejuízo. Isto é, deveria
ser considerada "dinheiro" irrecuperável, e, portanto, lançada no balanço do Banespa como prejuízo.
Só ilegalidades - Note-se bem:
a equipe FHC/BNDES cometeu
o disparate de tratar o Estado
de São Paulo como se ele fosse
um dono de boteco de esquina
"quebrado", que jamais poderia pagar o Banespa. Ordenou
que toda a dívida fosse considerada, no balanço, como prejuízo definitivo, dinheiro perdido
para todo o sempre. Com essa
orientação, obviamente o Banespa apresentaria um prejuízo
gigantesco no balanço daquele
ano. Ou, pior ainda, um prejuízo superior ao próprio patrimônio do banco que, assim, foi declarado "quebrado".
Qual foi a reviravolta da semana passada, a confissão do
governo FHC? Aqui, é preciso
mais um pouco de história. A
pretensa "quebra" do Banespa
foi atribuída a desmandos, corrupção e dívidas contraídas nos
dois governos anteriores, do
PMDB, Quércia e Fleury. Inconformado diante da manobra, o
ex-governador Orestes Quércia
entrou com ação, na Justiça,
para impedir que fosse adotada
a "fórmula" de lançamento de
falsos prejuízos, imposta pela
equipe FHC. Suas principais
alegações na Justiça: a manobra da equipe FHC era absolutamente ilegal, pois desrespeitava as próprias normas ("leis")
do Banco Central.
Como assim? Quando um
cliente não paga sua dívida para com um banco qualquer, o
Banco Central permite que o
atraso chegue a até um ano, 365
dias, antes de exigir que essa
dívida seja lançada como prejuízo no balanço. Esse prazo
máximo, de 365 dias, é válido
para os casos em que o devedor
tenha garantias (imóveis, bens
etc.) a oferecer -e o devedor,
no caso, era nada mais nada
menos que o próprio Estado de
São Paulo. Mesmo quando o
devedor não tem garantias a
oferecer, o prazo mínimo concedido pelo BC é de 30 dias. E, no
caso do Banespa, o atraso da
parcela de R$ 30 milhões era de
apenas 15 dias. Isto é, dentro do
prazo de tolerância das regras
do Banco Central. Mesmo assim, houve a encenação da ruidosa quebra. Arbitrariedade
monstruosa.
A confissão - A partir da ação
do ex-governador Quércia, por
decisão da Justiça a publicação
dos balanços do Banespa está
suspensa desde 1994 -enquanto não se chegava a uma conclusão definitiva sobre a legalidade da decisão do governo
FHC, de "decretar" a quebra
do Banespa. Agora, a reviravolta: na semana passada, o Conselho Monetário Nacional, isto
é, o governo FHC, autorizou o
Banespa a publicar balanços
dos últimos três anos, sem lançar a dívida do Estado como
dinheiro irrecuperável -isto é,
exatamente como o ex-governador defendia na Justiça. Desapareceu a "quebra" do Banespa -e é notável que os
meios de comunicação, salvo
registro na "Gazeta Mercantil", tenham ignorado a imensa
importância do fato. Desapareceu o prejuízo do Banespa. Os
balanços de 1995, 1996 e 1997
vão mostrar lucros. A farsa está
desmascarada.
Qual a semelhança entre o
Banco do Brasil e o Banespa? A
equipe FHC forjou, com mecanismos iguais, o "prejuízo recorde" do Banco do Brasil
-como esta coluna denunciou
na época. Ações na Justiça podem restabelecer a verdade.
Aloysio Biondi, 60, é jornalista econômico.
Foi editor de Economia da Folha e diretor de
Redação da revista "Visão". Escreve às quintas-feiras no caderno Dinheiro.
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