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LUÍS NASSIF
Os oprimidos do software
A discussão sobre software
livre (SL), por indefinida,
tem sido bastante estimulante e
elucidativa, demonstrando que
existem muitos conceitos a serem aplainados. Vamos ao que
escreve o leitor Milton Adrião,
profissional do setor.
Em coluna recente se dizia que
o SL consiste em um núcleo (desenvolvido por grupos pequenos
e controlados) e a periferia (os
componentes, que podem ser desenvolvidos por uma comunidade).
A questão que Milton coloca é
que um dos pontos fortes do modelo de software livre é a capacidade de substituir componentes
de uma solução sem provocar o
colapso de todo o sistema. Para
que isso seja possível, é preciso
que os sistemas tenham sido desenvolvidos seguindo especificações -formais ou não-, um
contrato a ser honrado por todos
os desenvolvedores quando criarem suas soluções, explica ele. O
respeito aos padrões é mais importante que o livre acesso ao
código-fonte.
A questão é que toda vez que
se impuseram padrões foi por
pressão dos grandes compradores (em verdade, do governo
norte-americano), que buscavam proteger seus investimentos, preservando a possibilidade
de trocar de fornecedor caso determinado produto não atendesse às expectativas de performance, de robustez, de preço, de
facilidade de uso ou quaisquer
outras.
Quando existem padrões, tem
sido farta a oferta de produtos,
tanto pagos quanto livres, tanto
abertos quanto fechados, diz. E
isso tem acontecido muito mais
com os softwares de comunicação -protocolos como FTP-
do que com software que captam e manipulam dados.
Sem padrões, um usuário de
um SL para edição de textos ou
base de dados será tão dependente do sistema que usa quanto
de um sistema pago (com a exceção não menosprezável de não
precisar pagar pela algema).
Alguns SLs têm pego carona
em software pago, provendo importação de dados -por exemplo, o OpenOffice. Mas o OpenOffice só pode ser bem-sucedido porque os formatos usados
pela Microsoft são padrão de fato (ainda que não de direito).
No entanto a Microsoft pode
tentar "quebrar" seus concorrentes mudando os formatos de
versão a versão, imputando aos
demais os custos de seguir o líder.
A solução seria a existência de
um padrão formal. Mas quem
define?, pergunta ele. Como garantir a liberdade de ir e vir de
um usuário, dando a ele plenas
condições de, a qualquer momento que deseje, trocar de software sem precisar reescrever sua
vida a cada troca?
A pergunta é, a resposta é
complexa, pois haveria a necessidade de que os diferentes construtores de software concordassem sobre as características negociais dos dados que usam, isolando os condicionantes arquiteturais que determinam a formatação dos dados e provendo
interfaces documentadas para a
transferência (exportação e importação) de dados de um lugar
a outro.
Essa questão é crucial para a
consolidação do SL, cabe à comunidade resolvê-la, mas não
tem sido a regra, diz. Alguns desenvolvedores de SL reproduzem
o comportamento que criticam
nos desenvolvedores de software
proprietário. Repetindo Paulo
Freire, o oprimido reproduz o
opressor.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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