São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2008

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"Lula não favorece nem a família", afirma Teixeira

Advogado nega receber qualquer favorecimento do presidente, seu compadre

Segundo Teixeira, Denise Abreu, ex-diretora da Anac, faz acusações agora porque estaria numa posição de "fraqueza jurídica"

SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE DINHEIRO

O advogado Roberto Teixeira negou ontem as acusações feitas pelo empresário Marco Antônio Audi de que teria recebido US$ 5 milhões para "resolver" a venda de ativos da Varig junto ao governo por causa de suas relações íntimas com o presidente Lula, de quem é compadre. Teixeira ironiza o fato de Audi ter feito boletim de ocorrência contra seu sócio de escritório e genro, Cristiano Martins, acusando-o de tê-lo ameaçado fisicamente. "O Audi que é truculento, dizem que anda com revólver na cintura."
Em entrevista coletiva para falar das acusações, publicadas anteontem no jornal "O Estado de S. Paulo", Teixeira disse que não comentaria suas relações com Lula. À Folha disse que "o Lula, enquanto presidente, não favorece nem mesmo a família dele, o que dirá os amigos". Leia a seguir os principais trechos da entrevista.  

FOLHA - O sr. acusa a Denise Abreu de atuar contra a Varig na Anac.
ROBERTO TEIXEIRA
- Não, vamos recapitular um pouco. Denise Abreu trabalhou na Casa Civil. Antes, tínhamos um órgão chamado DAC [antecessor da Anac], e ela estava trabalhando lá. Segundo ela diz, o governo estava absolutamente preocupado com uma iminente falência do grupo Varig. Então, disse ela, o governo a havia incumbido de fazer um trabalho para que as linhas internacionais da Varig fossem distribuídas para a TAM e a Gol. Ou seja, ela estava desde a Casa Civil trabalhando com essa vertente. Posteriormente, sabe-se que chegou a ser gestada, e ela teria sido na época a mentora, medida provisória que iria exatamente jogar a Varig no colo da TAM. Depois, ela veio para a Anac e, embora a Anac não tivesse regulamentos claros de como seria a distribuição dos assuntos, quem seriam os relatores e tudo o mais, é certo de que ela se arvorou de pronto em ser responsável pelo problema da Varig.

FOLHA - Denise trabalhou na Casa Civil sob o comando de José Dirceu. O sr. liga Dirceu às acusações?
TEIXEIRA
- Eu não faço essa ligação até porque eu costumo agir da seguinte forma: eu sou contratado como advogado e minha função é judicial. Eu deixo as especulações para quem quiser delas fazer uso.

FOLHA - Tem também o episódio da fotografia do sr. com os proprietários da Gol no elevador do Palácio do Planalto levando-os ao Lula.
TEIXEIRA
- Se citarem as fotos de todas as empresas que estiveram no gabinete do senhor presidente comunicando aquisições, fusões, interesse de aplicações, vão encontrar uma gama enorme. Dentre elas, a da Gol, que havia adquirido a Varig. Aquela foto, como todas as outras, não tem nenhum outro significado maior. A não ser, obviamente, [para] quem politizar algo que é empresarial.

FOLHA - Por que politizar?
TEIXEIRA
- Eu acredito na fraqueza jurídica da posição [dos acusadores]. Quem se dispõe a agir da forma que agiram com essas declarações é porque se sentem enfraquecidos juridicamente. Não conheço os processos deles, mas o comportamento enseja que eu pense dessa forma.

FOLHA - O fato de ser compadre do presidente ajuda na sua ação junto à Justiça e órgãos do Executivo?
TEIXEIRA
- É evidente que uma parte da imprensa busca fazer ilação em relação a toda e qualquer atuação jurídica deste escritório com essa relação. Eu chego à seguinte conclusão: ou nós temos grande mérito jurídico ou não temos nenhum. Tudo aquilo que significa vitória processual deste escritório, sempre a atribuem a essa relação. São processos que não têm absolutamente nada de possibilidade política. Por que vocês insistem em fazer a mesmíssima pergunta [sobre sua relação com Lula]? Eu disse, certa vez, que meu nome talvez tivesse sido alterado no registro civil.
Porque ninguém consegue falar do meu nome sem falar "compadre do Lula" ou o que emprestou a casa ao presidente. Não é crime. Antes de mais nada, essa relação nasceu há 27, 28 anos. E nos mantemos amigos até hoje. Mas isso não significa que a gente confunda a posição dele como presidente da República, que eu respeito, com a amizade que se tem. Ele representa a República do Brasil, ele tem que cuidar da República como um todo. E me mantenho à distância que liturgicamente é necessária.

FOLHA - Mas no caso específico da Varig houve envolvimento do Executivo. O próprio presidente manifestou o desejo de mantê-la voando.
TEIXEIRA
- Se o senhor for consultar o que os órgãos de imprensa escreveram a respeito da Varig, vai verificar que havia críticas homéricas contra aquilo que certos setores entendiam que era desprezo do governo em relação à sorte da Varig. Isso em primeiro lugar. Em segundo, este escritório trabalha estritamente dentro do princípio da legalidade. Quando nós fomos lá, batemos à porta da Anac e fomos requerer o direito dos nossos clientes. Fomos oficialmente. No momento em que entendemos que nossos direitos estavam sendo atacados de uma forma [pausa] irregular, reagimos igualmente por escrito. Repito, por escrito. Fizemos uma representação contra a Denise junto ao Ministério da Defesa.


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