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BC eleva juros em 0,5 ponto, para 12,25%
Decisão do Copom, esperada e tomada de forma unânime, visa desacelerar o crescimento da economia e tentar conter os preços
Mantega (Fazenda) costuma
argumentar que a inflação
no país é de alimentos,
e não conseqüência da
expansão econômica
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central elevou os
juros básicos da economia pela
segunda vez neste ano, em 0,5
ponto percentual, e fixou a Selic em 12,25% anuais, a maior
taxa de juros real do mundo. A
decisão foi tomada por unanimidade na reunião do Copom
(Comitê de Política Monetária,
formado por sete diretores do
Banco Central e pelo presidente da instituição, Henrique
Meirelles).
A mensagem da reunião do
Copom foi mais sucinta que a
de abril. Mostrou apenas que a
elevação dos juros de ontem é
parte de uma seqüência de altas
iniciadas na reunião anterior
do Copom. "Dando prosseguimento ao processo de ajuste da
taxa de juros básica iniciado na
reunião de abril, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a
taxa Selic para 12,25% ao ano,
sem viés", disse o BC, em nota
após a reunião.
O resultado do encontro correspondeu à expectativa da
maioria dos analistas do mercado financeiro. Mas uma parte
dos economistas de bancos e
corretoras apostou, ao longo da
semana, em elevação de 0,75
ponto nos juros básicos, para
12,5% ao ano.
As apostas de aumento maior
da Selic ganharam força depois
da divulgação de relatório feito
pelo Banco Central com as projeções de mercado, na segunda-feira. O relatório mostrou aumento da expectativa para
4,6% da inflação de 2009. Foi a
primeira vez que a projeção das
instituições financeiras superou o centro da meta de inflação do ano que vem, de 4,5%.
Ontem, antes de presidir a
reunião do Copom, Meirelles
esteve reunido com o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Guido Mantega. A equipe do
Ministério da Fazenda é uma
das principais críticas do aumento da taxa básica de juros
neste ano.
Mantega argumenta, com
freqüência, que a inflação no
Brasil é de alimentos, e não
conseqüência do crescimento
econômico do país. Uma das
saídas da equipe econômica de
Lula para tentar evitar o aumento dos juros pelo Banco
Central foi o anúncio de aperto
fiscal mais elevado.
Aperto
O governo decidiu aumentar
o superávit primário do país de
3,8% do PIB (Produto Interno
Bruto) para 4,3% do PIB. O excesso de arrecadação poderá
servir para pagar os juros da dívida ou abastecer o Fundo Soberano do Brasil.
A promessa de aperto fiscal
não surtiu o efeito desejado na
diretoria do Banco Central.
Tanto que a autoridade monetária atua pelo segundo mês
consecutivo para desacelerar o
crescimento da economia e, assim, tentar conter o reajuste de
preços quando a demanda por
produtos for maior que a capacidade de oferta das empresas.
Outra preocupação do BC é
com o crescimento acentuado
do crédito, cujo estoque já superou R$ 1 trilhão.
Centro da meta
Embora não admita oficialmente, o presidente do Banco
Central já diz em conversas reservadas que o centro da meta
de inflação não será cumprido
neste ano. O regime de metas
prevê que o aumento de preços
pode ficar entre 2,5% e 6,5% em
2008 e em 2009, porque a margem de erro é de dois pontos
percentuais, para mais ou para
menos.
O objetivo do Banco Central
agora é fazer com que o IPCA fique no centro da meta no próximo ano. Até porque as decisões de política monetária do
BC levam tempo para se refletirem na economia real. O aumento das taxas de juros de hoje vai provocar redução da inflação em cerca de seis a nove
meses. O IPCA acumulado em
12 meses até abril foi de 5,04%.
Na reunião do Copom de
abril, os diretores do Banco
Central decidiram, por unanimidade, elevar a Selic em 0,5
ponto, para 11,75%. Foi a primeira alta dos juros básicos
desde maio de 2005, quando,
no final de várias elevações que
duraram nove meses, a Selic
chegou a 19,75%.
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