São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2008

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BC eleva juros em 0,5 ponto, para 12,25%

Decisão do Copom, esperada e tomada de forma unânime, visa desacelerar o crescimento da economia e tentar conter os preços

Mantega (Fazenda) costuma argumentar que a inflação no país é de alimentos, e não conseqüência da expansão econômica

JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central elevou os juros básicos da economia pela segunda vez neste ano, em 0,5 ponto percentual, e fixou a Selic em 12,25% anuais, a maior taxa de juros real do mundo. A decisão foi tomada por unanimidade na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária, formado por sete diretores do Banco Central e pelo presidente da instituição, Henrique Meirelles).
A mensagem da reunião do Copom foi mais sucinta que a de abril. Mostrou apenas que a elevação dos juros de ontem é parte de uma seqüência de altas iniciadas na reunião anterior do Copom. "Dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa de juros básica iniciado na reunião de abril, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 12,25% ao ano, sem viés", disse o BC, em nota após a reunião.
O resultado do encontro correspondeu à expectativa da maioria dos analistas do mercado financeiro. Mas uma parte dos economistas de bancos e corretoras apostou, ao longo da semana, em elevação de 0,75 ponto nos juros básicos, para 12,5% ao ano.
As apostas de aumento maior da Selic ganharam força depois da divulgação de relatório feito pelo Banco Central com as projeções de mercado, na segunda-feira. O relatório mostrou aumento da expectativa para 4,6% da inflação de 2009. Foi a primeira vez que a projeção das instituições financeiras superou o centro da meta de inflação do ano que vem, de 4,5%.
Ontem, antes de presidir a reunião do Copom, Meirelles esteve reunido com o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Guido Mantega. A equipe do Ministério da Fazenda é uma das principais críticas do aumento da taxa básica de juros neste ano.
Mantega argumenta, com freqüência, que a inflação no Brasil é de alimentos, e não conseqüência do crescimento econômico do país. Uma das saídas da equipe econômica de Lula para tentar evitar o aumento dos juros pelo Banco Central foi o anúncio de aperto fiscal mais elevado.

Aperto
O governo decidiu aumentar o superávit primário do país de 3,8% do PIB (Produto Interno Bruto) para 4,3% do PIB. O excesso de arrecadação poderá servir para pagar os juros da dívida ou abastecer o Fundo Soberano do Brasil.
A promessa de aperto fiscal não surtiu o efeito desejado na diretoria do Banco Central. Tanto que a autoridade monetária atua pelo segundo mês consecutivo para desacelerar o crescimento da economia e, assim, tentar conter o reajuste de preços quando a demanda por produtos for maior que a capacidade de oferta das empresas. Outra preocupação do BC é com o crescimento acentuado do crédito, cujo estoque já superou R$ 1 trilhão.

Centro da meta
Embora não admita oficialmente, o presidente do Banco Central já diz em conversas reservadas que o centro da meta de inflação não será cumprido neste ano. O regime de metas prevê que o aumento de preços pode ficar entre 2,5% e 6,5% em 2008 e em 2009, porque a margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
O objetivo do Banco Central agora é fazer com que o IPCA fique no centro da meta no próximo ano. Até porque as decisões de política monetária do BC levam tempo para se refletirem na economia real. O aumento das taxas de juros de hoje vai provocar redução da inflação em cerca de seis a nove meses. O IPCA acumulado em 12 meses até abril foi de 5,04%.
Na reunião do Copom de abril, os diretores do Banco Central decidiram, por unanimidade, elevar a Selic em 0,5 ponto, para 11,75%. Foi a primeira alta dos juros básicos desde maio de 2005, quando, no final de várias elevações que duraram nove meses, a Selic chegou a 19,75%.


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