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Poupança atrai investidor; fundo perde
Caderneta ganha depósitos líquidos de R$ 1,8 bi em maio, enquanto fundos de renda fixa e DI perdem R$ 825 mi
Queda dos juros eleva atração da poupança enquanto governo não põe em prática mudanças anunciadas para o setor
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de dois meses de saques, a poupança voltou a apresentar captação positiva em
maio, segundo números divulgados ontem pelo Banco Central. No mês passado, os depósitos feitos na caderneta superaram os resgates em R$ 1,881 bilhão, movimento que fez com
que o saldo acumulado no ano
voltasse a ser positivo: entre janeiro e maio, a captação foi de
R$ 357 milhões.
Entre março e abril, a poupança havia perdido R$ 1,788
bilhão devido a um aumento
nos saques. Esse resultado
ocorreu justamente num período em que vieram a público
notícias de que o governo pretendia reduzir o rendimento da
caderneta para impedir que, no
atual cenário de queda dos juros, a aplicação atraísse um número grande de investidores
acostumados a colocar seu dinheiro em fundos de renda fixa.
O problema estava no retorno fixo de 0,5% ao mês (mais a
variação da TR) oferecido pela
poupança. Por ser isenta de impostos, a caderneta passou a
apresentar um rendimento líquido superior ao de alguns
fundos atrelados à taxa Selic
-hoje em 10,25% ao ano-, que
são sujeitos a alíquota de até
22,5% de Imposto de Renda.
Como os fundos aplicam boa
parte de seus recursos em títulos públicos, o receio era que,
com a queda da Selic, os investidores abandonassem essa modalidade de aplicação, o que dificultaria a rolagem da dívida
do governo, financiada pelos títulos.
No mês passado, o governo
anunciou que, para contornar
esse obstáculo, pretende agir
em duas frentes: de um lado, reduzir a alíquota do IR que incide sobre os fundos de investimento. Por outro, passar a tributar as aplicações de grande
valor na caderneta.
Para Gilberto Braga, professor de finanças do Ibmec-RJ, o
anúncio das medidas pode ter
ajudado a tranquilizar o poupador que estava com medo de
uma alteração maior nas regras
da caderneta -e, por isso, vinha
evitando a aplicação.
"É bastante provável que tenha havido um movimento de
retorno: muita gente esperou o
anúncio das medidas e, depois
que viu que não tinha confisco
nem nada, voltou", afirma. Braga diz ainda que, passada a ansiedade causada pela proximidade da mudança, a migração
de investidores dos fundos de
renda fixa para a caderneta pode ter sido retomada com mais
força.
Segundo a Anbid (Associação
Nacional dos Bancos de Investimento), os resgates nos fundos DI e de renda fixa superaram as aplicações em R$ 825
milhões no mês passado. Entre
janeiro e maio, o saldo negativo
está em R$ 543 milhões.
Em termos de saldo total das
aplicações, porém, a vantagem
continua sendo dos fundos, que
no final do mês passado tinha
patrimônio de R$ 538 bilhões,
enquanto as aplicações na caderneta somavam R$ 279 bilhões.
Para os próximos meses, o
comportamento dos investidores em relação a essas duas aplicações vai depender da implementação das alterações anunciadas pelo governo para a caderneta. Na avaliação de Braga,
"não há segurança de que as
mudanças vão vingar", já que a
cobrança de Imposto de Renda
sobre os rendimentos das contas de poupança com saldo acima de R$ 50 mil dependerá de
aprovação no Congresso. Para
o professor, o governo provavelmente terá dificuldades para fazer passar uma proposta de
cobrança de imposto numa
modalidade de investimento
tão popular como a poupança.
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