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OPINIÃO ECONÔMICA
Sem dinheiro para turismo
GESNER OLIVEIRA
Com a queda na renda do
brasileiro nestas férias
-14% de declínio em abril, segundo o IBGE-, não está dando
para fazer turismo. Tampouco o
governo parece disposto a investir
nessa atividade e trazer turistas
estrangeiros para o Brasil. E com
isso perdem-se mais renda e empregos.
A decisão do governo anunciada nesta semana de fechar o escritório modelo do Brasil montado
em Londres em abril de 2002 com
consultores especializados em
marketing e mídia vai na contramão daquilo que deveria ser uma
política agressiva de promoção do
turismo no país.
Todo mundo sabe que o dinheiro está curto. O jeito é apertar os
cintos em vários ministérios porque não há espaço nas contas públicas. Não dá mais para aumentar uma carga tributária que anda beirando os 37% do PIB sem
asfixiar de vez a atividade produtiva. O Estado precisa urgentemente gastar com critério e sabedoria nos segmentos que apresentam alto retorno.
Cortes indiscriminados nessas
circunstâncias costumam gerar
mais prejuízo porque a diminuição de certas despesas termina
por reduzir mais que proporcionalmente a receita. Quando uma
empresa está no vermelho, mas
sua operação ainda cobre o custo
variável, a decisão correta é manter certas despesas produtivas para minimizar o prejuízo.
Analogamente, o investimento
em promoção do turismo deve ser
mantido, mesmo em tempos difíceis. Estima-se, por exemplo, que
com o orçamento de US$ 200 mil
ao ano do escritório que foi fechado seja possível gerar uma cobertura na mídia britânica de valor
equivalente a US$ 30 milhões.
A promoção do turismo constitui forma eficiente de estimular o
emprego, entre outras vantagens,
como geração de divisas e desenvolvimento regional. Um turista
norte-americano gasta em média
US$ 126 por dia que passa no Brasil (a média de sua estadia é de
duas semanas). Com US$ 7.000
gerados na economia do turismo,
um emprego se mantém ou é gerado. Assim, ao conquistar quatro novos turistas dos EUA, evita-se mais drama de desemprego.
O europeu é mais moderado em
seus gastos diários (US$ 85), mas
em compensação tem uma estada
média maior (20 dias), deixando
cerca de US$ 1.700 no país. Portanto um grupo de quatro turistas
europeus também pode representar um emprego a mais no Brasil.
Na campanha presidencial do
ano passado, o PT não fez economia com o turismo. Segundo seu
programa, "nosso governo vai
impulsionar o turismo como uma
indústria avançada [...] e é mais
do que justificável estimular e
atrair investimentos de peso para
o turismo receptivo". Não é o que
está ocorrendo.
Uma estratégia bem elaborada
de desenvolvimento do turismo
permitiria expandir o número de
turistas estrangeiros dos atuais
4,5 milhões para 9 milhões em
2006, o que permitiria a criação
de mais de 600 mil empregos.
Mas o problema não se restringe naturalmente a gastos em promoção. A violência urbana constitui obstáculo evidente para a expansão que se deseja. O governo
federal faria um grande serviço
para a economia do país ao atacar de forma séria e sistemática o
problema. Foram criados inúmeros ministérios, mas não o da Segurança. A impressão é que a determinação de enfrentar o desafio, se é que houve, esmoreceu.
Quem tiver dúvidas sobre o que
é determinação aproveite as férias e assista ao cativante "Procurando Nemo". O pai de Nemo,
Marlín, um pacato peixinho-palhaço, nada dois oceanos e enfrenta baleias e tubarões para resgatar seu filho sequestrado por
um dentista australiano.
A prioridade da segurança surge em época de eleição ou imediatamente após um sequestro ou
qualquer outro crime espetacular
que choque a opinião pública.
Depois disso, volta a rotina da criminalidade. Aliás, o tratamento
VIP que o MST recebeu do Palácio do Planalto nesta semana não
poderia dar sinal mais negativo
de falta de rigor por parte da autoridade estabelecida.
A falta de dinheiro é um fato.
Existe em turismo, segurança e
em todas as áreas. Mesmo assim,
é possível obter resultados expressivos, estabelecendo metas realistas e maximizando os recursos
disponíveis. Mas não há filme ou
política pública que sobreviva à
ausência de um bom roteiro.
Gesner Oliveira, 46, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-EAESP, sócio-diretor da Tendências e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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