UOL


São Paulo, sábado, 05 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Tomar dinheiro emprestado nunca foi tão barato nos EUA

FLOYD NORRIS
DO "NEW YORK TIMES"

P ara as empresas que precisam de dinheiro, este é um ótimo momento. Os títulos corporativos são populares entre investidores, e, graças a uma economia fraca e a um banco central amistoso, as taxas de juros estão muito baixas.
A General Motors lançou no mês passado o maior pacote de títulos já emitido por uma empresa americana (US$ 17,5 bilhões), pagando juros menores e levantando mais dinheiro do que pretendia. A maior parte do dinheiro acabará nos planos de pensão tristemente depauperados da GM.
A atração para os emissores corporativos é dupla. As taxas de juros estão baixas, e os investidores estão famintos.
Mas a história é diferente para as ações. As emissões, incluindo ofertas públicas iniciais e ofertas secundárias, levantaram US$ 26 bilhões neste ano, o ritmo mais lento desde 1991. Isso pode refletir falta de oferta, enquanto empresas esperam para cobrar mais caro depois. Mas, em grande parte, é falta de demanda.
O mercado de títulos não é como o mercado de ações no que se trata de transparência de preços. Quer comprar ações da GM? Qualquer corretor pode lhe dizer a cotação. O mercado de títulos é de intermediários, em que o simples fato de encontrar onde um título está sendo negociado pode ser difícil.
Segundo Tom Burnett, diretor de pesquisa da Wall Street Access, um corretor estava oferecendo um título da GM com maturação em 2028 por US$ 0,86,5 de valor de face, enquanto outro pedia US$ 0,90.
A variação pode ser muito maior para títulos "junk" (podres). Uma emissão da Charter Communications foi oferecida por uma corretora a US$ 0,5275, e por outra a US$ 0,695.
Para uma pequena instituição, descobrir todos os preços disponíveis pode ser um grande trabalho. Para um indivíduo, existe uma boa chance de que o preço que ele conseguir seja muito pior que o melhor existente.
A SEC (Securities and Exchange Commission, a CVM dos EUA) tentou ajudar. Há alguns anos, obrigou o setor a adotar um sistema para relatar preços de vendas, mas não cotações, de títulos no prazo de 75 minutos após a negociação. Mas os relatórios não são fáceis de descobrir, e muitos títulos são isentos.
Por que as isenções? O setor de corretagem diz que permitir que os investidores saibam quanto o corretor pagou por um título dificultaria muito que os corretores lucrassem alguma coisa. Mercados opacos sempre beneficiam os de dentro, e não por coincidência a negociação de títulos é uma das poucas fontes de lucros confiáveis que restam em Wall Street.
A Bolsa de Nova York já foi uma grande força no negócio de títulos corporativos, mas nos últimos anos perdeu importância. Enquanto alguns novos títulos estão listados na Bolsa, a maioria não está. John Devine, diretor financeiro da GM, pareceu surpreso quando lhe perguntei se estava listando os novos títulos na Bolsa. A emissão conversível será listada, mas as outras não. É uma pena para os investidores individuais. A Bolsa também é o único sistema amplamente disponível que oferece cotações de títulos.
A Bolsa está pressionando a SEC pelo direito de negociar todos os títulos corporativos registrados. Catherine Kinney, vice-chefe de operações da Bolsa, disse que espera que o órgão aprove isso neste ano.
Esse plano poderá reduzir os lucros dos corretores de títulos. Mas os investidores individuais merecem uma melhor informação sobre o mercado.


Tradução de Luiz Roberto Gonçalves


Texto Anterior: Imposto engole maior porção de preço público
Próximo Texto: Poupança: Saques superam depósitos em R$ 1,36 bilhão
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.