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São Paulo, sábado, 05 de julho de 2003

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COOPERATIVISMO

"Queremos que o bolo já cresça sendo repartido", diz presidente, que defendeu maior papel para cooperativas

Lula quer "crescimento com face humana"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, na comemoração do Dia Internacional do Cooperativismo, que o seu governo está buscando o "desenvolvimento com face humana" -frase inspirada na campanha do presidente peruano, Alejandro Toledo, que se elegeu em 2001 prometendo "uma economia de mercado com rosto humano".
Lula disse que as cooperativas no Brasil há anos provaram sua relevância social e competência produtiva. Segundo ele, mais do que um exemplo de eficiência, oferecem um caminho diferente para o desenvolvimento.
"Tudo isso é sabido há muito tempo, mas permanecia ignorado na agenda do país. Por quê? Porque o reconhecimento de uma opção estratégica como essa pressupõe a disposição política de buscar um desenvolvimento com face humana", disse o presidente. Lula citou dados relacionados ao cooperativismo no Brasil: o sistema reúne 20% dos produtores agrícolas, responde por 115 mil km de rede de energia elétrica, produz 29% da soja, 62% do trigo, 45% do leite e 39% do algodão.
Exaltada por Lula, a expressão do cooperativismo no Brasil foi considerada muito pequena pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Segundo ele, apenas 5 milhões de brasileiros são associados de cooperativas. Considerando três pessoas por família, chega-se a 15 milhões de pessoas envolvidas com o cooperativismo -cerca de 8% da população.
"No resto do mundo, esse percentual chega a 40%. Nem mesmo a Igreja Católica tem tantos seguidores no mundo como o cooperativismo. Onde foi que erramos? Onde perdemos o trilho?"
Em seu discurso, Lula reafirmou também que seu governo busca recolocar o país na rota do crescimento. "Estamos trabalhando duro para que isso aconteça de forma consistente e sustentável. Porque nós queremos que o bolo já cresça sendo repartido, longe da aritmética da exclusão que reserva fatias generosas a poucos e a raspa da assadeira para a maioria", disse.
A imagem da economia como um bolo que precisaria crescer para depois ser repartido, criticada há anos pela esquerda brasileira, foi muito difundida durante o regime militar (64-85).
"O país não pode se conformar em ter sua economia entre as 15 maiores do mundo, enquanto o povo ocupa o 69º lugar na lista de desenvolvimento humano entre as nações", disse Lula.

Crescimento ameaçado
Sem exportações crescentes e investimentos em infra-estrutura, as projeções de crescimento econômico feitas pelo governo Lula para os próximos anos ficam ameaçadas. A conclusão é do chefe da Assessoria Econômica do Ministério do Planejamento, José Carlos Miranda.
O economista acredita que o crescimento de 3,5% em 2004 é factível se a economia estiver crescendo entre 2% e 2,2% no último trimestre deste ano (em relação ao mesmo período do ano passado). Pelos cálculos do assessor, a economia crescerá entre 1% e 1,2% neste trimestre.
Os últimos dados conhecidos são os do primeiro trimestre deste ano, quando o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) calculou um crescimento de 2% em relação a 2002. A redução da atividade está ligada à manutenção das taxas de juros em um nível elevado. A consultoria LCA estima que no último trimestre o país cresceu apenas 0,9%.
Apesar dos últimos índices inflacionários apresentarem deflação, os economistas do governo afirmam que o crescimento deste ano deve ficar entre 1,8% e 2%. "A tendência dos juros é nitidamente de redução", disse Miranda.
O economista sênior da LCA, Francisco Pessoa Faria, acredita que a expansão da economia deve ficar entre 1,6% e 1,7% em 2003.


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