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COOPERATIVISMO
"Queremos que o bolo já cresça sendo repartido", diz presidente, que defendeu maior papel para cooperativas
Lula quer "crescimento com face humana"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva afirmou ontem, na comemoração do Dia Internacional do
Cooperativismo, que o seu governo está buscando o "desenvolvimento com face humana" -frase
inspirada na campanha do presidente peruano, Alejandro Toledo,
que se elegeu em 2001 prometendo "uma economia de mercado
com rosto humano".
Lula disse que as cooperativas
no Brasil há anos provaram sua
relevância social e competência
produtiva. Segundo ele, mais do
que um exemplo de eficiência,
oferecem um caminho diferente
para o desenvolvimento.
"Tudo isso é sabido há muito
tempo, mas permanecia ignorado
na agenda do país. Por quê? Porque o reconhecimento de uma
opção estratégica como essa pressupõe a disposição política de
buscar um desenvolvimento com
face humana", disse o presidente.
Lula citou dados relacionados ao
cooperativismo no Brasil: o sistema reúne 20% dos produtores
agrícolas, responde por 115 mil
km de rede de energia elétrica,
produz 29% da soja, 62% do trigo,
45% do leite e 39% do algodão.
Exaltada por Lula, a expressão
do cooperativismo no Brasil foi
considerada muito pequena pelo
ministro da Agricultura, Roberto
Rodrigues. Segundo ele, apenas 5
milhões de brasileiros são associados de cooperativas. Considerando três pessoas por família,
chega-se a 15 milhões de pessoas
envolvidas com o cooperativismo
-cerca de 8% da população.
"No resto do mundo, esse percentual chega a 40%. Nem mesmo
a Igreja Católica tem tantos seguidores no mundo como o cooperativismo. Onde foi que erramos?
Onde perdemos o trilho?"
Em seu discurso, Lula reafirmou também que seu governo
busca recolocar o país na rota do
crescimento. "Estamos trabalhando duro para que isso aconteça de forma consistente e sustentável. Porque nós queremos que o
bolo já cresça sendo repartido,
longe da aritmética da exclusão
que reserva fatias generosas a
poucos e a raspa da assadeira para
a maioria", disse.
A imagem da economia como
um bolo que precisaria crescer
para depois ser repartido, criticada há anos pela esquerda brasileira, foi muito difundida durante o
regime militar (64-85).
"O país não pode se conformar
em ter sua economia entre as 15
maiores do mundo, enquanto o
povo ocupa o 69º lugar na lista de
desenvolvimento humano entre
as nações", disse Lula.
Crescimento ameaçado
Sem exportações crescentes e
investimentos em infra-estrutura,
as projeções de crescimento econômico feitas pelo governo Lula
para os próximos anos ficam
ameaçadas. A conclusão é do chefe da Assessoria Econômica do
Ministério do Planejamento, José
Carlos Miranda.
O economista acredita que o
crescimento de 3,5% em 2004 é
factível se a economia estiver crescendo entre 2% e 2,2% no último
trimestre deste ano (em relação
ao mesmo período do ano passado). Pelos cálculos do assessor, a
economia crescerá entre 1% e
1,2% neste trimestre.
Os últimos dados conhecidos
são os do primeiro trimestre deste
ano, quando o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) calculou um crescimento de
2% em relação a 2002. A redução
da atividade está ligada à manutenção das taxas de juros em um
nível elevado. A consultoria LCA
estima que no último trimestre o
país cresceu apenas 0,9%.
Apesar dos últimos índices inflacionários apresentarem deflação, os economistas do governo
afirmam que o crescimento deste
ano deve ficar entre 1,8% e 2%. "A
tendência dos juros é nitidamente
de redução", disse Miranda.
O economista sênior da LCA,
Francisco Pessoa Faria, acredita
que a expansão da economia deve
ficar entre 1,6% e 1,7% em 2003.
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