São Paulo, quarta-feira, 05 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Senado dá reajuste maior a aposentados

Governo mobiliza sindicalistas para pressionar a Câmara a aprovar índice de 5%, contra os 16,7% aprovados ontem

Caso não consiga reverter o aumento, Lula deve vetá-lo; para ministro Marinho, Congresso age "em prejuízo dos aposentados"

GUSTAVO PATU
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Congresso concluiu ontem a aprovação do projeto que concede reajuste de 16,67% a todos os segurados do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), e o governo já mobiliza sindicalistas para pressionar os parlamentares pelo índice de 5% concedido pelo Executivo.
Em votação simbólica, sem contagem nominal de votos, o Senado aprovou à tarde a MP 288, que elevou o salário mínimo de R$ 300 para R$ 350. Os senadores mantiveram o texto modificado pela Câmara, que estendeu o mesmo percentual de reajuste aos aposentados e pensionistas que ganham acima do mínimo.
Pela manhã, em reunião com representantes de aposentados, os ministros Luiz Marinho (Trabalho) e Nelson Machado (Previdência) já haviam avisado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetará o artigo que amplia o alcance do reajuste do mínimo, para não elevar ainda mais o déficit da Previdência.
A estratégia do governo, a partir de agora, será conseguir, com apoio dos sindicalistas, a aprovação, sem alterações, da MP 291, que fixou o reajuste de 5% para os benefícios do INSS superiores ao mínimo.
Essa MP está parada na Câmara, onde a oposição quer aprovar uma emenda apresentada, ironicamente, por um senador petista, Paulo Paim (RS) -que propõe, também, o índice de 16,67% aos aposentados.
Nessa hipótese, a MP 291 seria vetada integralmente, e os aposentados que ganham acima do mínimo teriam de se contentar com um reajuste de 3,14%, correspondente à variação do INPC desde o reajuste anterior e patamar mínimo estabelecido pela legislação.
"Hoje, concretamente, há uma grande possibilidade de a MP cair por decurso de prazo ou ser aprovada com emenda elevando o reajuste para 16,67%. Se isso ocorrer, o governo não terá outra alternativa senão o veto. O Congresso está realizando isso em prejuízo dos aposentados", disse o ministro Marinho.
Se não for aprovada até 11 de agosto por deputados e senadores, a MP 291 deixará de vigorar -as medidas provisórias têm prazo de validade de 120 dias. O deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder do governo, avalia que a Câmara só deve examinar a medida após o veto de Lula.
Nesse caso, ficaria mais evidente a impossibilidade do reajuste maior, o que daria aos parlamentares uma justificativa para votar os 5%. A oposição, além disso, já teria a satisfação de ter levado Lula a vetar uma medida de alcance popular em ano eleitoral.
Uma alternativa é separar, no texto da MP, os reajustes de 5% e 16,67%, permitindo a Lula vetar o segundo e manter o primeiro. "Se não separar e juntar tudo em um mesmo parágrafo, o veto derruba tudo", disse o vice-presidente da Força Sindical, Eleno Bezerra.

Pressão
Os sindicalistas saíram da reunião dispostos a pressionar o Congresso a redigir um texto que não os prejudique. "O Congresso quer empurrar para o governo o ônus de vetar o aumento de 16,7%. É um momento eleitoral, e o veto é um desgaste. Mas, se ficarmos sem aumento real, o desgaste será para eles próprios", declarou Manuel dos Santos Neto, representante da SDS (Social Democracia Sindical). "Para nós, não interessa se o governo vai se desgastar politicamente mais ou menos. O que queremos é que, caso o governo vete, prevaleça o reajuste de 5%", acrescentou Bezerra.
Quando a MP 288 foi aprovada pela Câmara, apenas cinco deputados da base governista foram fiéis a ponto de votar contra a extensão do reajuste do mínimo aos demais aposentados, que recebeu 274 votos favoráveis.
Ontem, no Senado, os aliados também não tentaram evitar o reajuste. "Não temos maioria na Casa. Permitimos a votação para não bloquear a pauta do Senado", disse o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR).


Texto Anterior: Mercado aberto
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.