DA ENVIADA ESPECIAL A CARACAS

Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falava em ajudar os países mais pobres do Mercosul, o seu colega Hugo Chávez foi das palavras à ação e ontem mesmo anunciou que a Venezuela comprará US$ 100 milhões de bônus da dívida do Paraguai com a hidrelétrica de Itaipu, que os paraguaios dividem com o Brasil.
"Falamos de uns US$ 100 milhões como linha de crédito para comprar uns bônus, seja do Tesouro do Paraguai, seja da instituição financeira do país", disse Chávez a jornalistas, depois de se encontrar com o presidente do Paraguai, Nicanor Duarte.
Essa era uma das reivindicações objetivas de Duarte, que ameaçou causar a "eutanásia" do Mercosul e acusou Brasil e Argentina de "egoístas e hipócritas". Chávez reagiu rápida e efetivamente, atendendo o pleito no mesmo dia em que a Venezuela aderiu ao bloco.
Já mostrou, assim, a que veio. E aumenta as desconfianças de que disputará com Lula a liderança na região. A Venezuela também já tinha comprado US$ 242,57 milhões em bônus da dívida argentina.
Indagado durante entrevista sobre a diferença de comportamento, Lula respondeu: "O Brasil não promete. O Brasil fala das coisas que pode fazer, embasado nas legalidades existentes no nosso país", disse, comparando com os empréstimos feitos pelo BNDES, até para obras na própria Venezuela.
Em seguida, lembrou que faz acordos em separados com alguns países, como com o Peru, para a construção da Transoceânica, e se defendeu de não ter sido tão rápido quanto Chávez: "O dinheiro do Brasil não é meu e não posso sair por aí oferecendo dinheiro para qualquer pessoa". (ELIANE CANTANHÊDE)


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