São Paulo, quinta-feira, 05 de agosto de 2004

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ARTIGO

Imigrantes dominam novas vagas nos EUA

BOB HERBERT
DO "NEW YORK TIMES"

Um novo e surpreendente estudo mostra que todo o crescimento registrado nos últimos anos no número total de pessoas empregadas nos EUA pode ser atribuído a imigrantes recém-chegados.
O estudo constatou que, do começo de 2001 aos quatro primeiros meses de 2004, o número de novos imigrantes que conseguiram emprego no país atingiu a casa dos 2,06 milhões, enquanto o número de pessoas nascidas no país ou imigrantes mais antigos aqui residentes empregados caiu em mais de 1,3 milhão.
O estudo, conduzido pelo Centro de Estudos do Mercado do Trabalho da Universidade Northwestern, em Boston, é uma nova confirmação de que, a despeito da recuperação que pôs fim à recessão de 2001, as famílias norte-americanas continuam a enfrentar problemas sérios de desemprego e subemprego.
Os resultados do estudo não significam que os trabalhadores nascidos no país e os imigrantes mais antigos não estejam conseguindo empregos. O mercado de trabalho norte-americano é uma arena imensa, dinâmica e altamente competitiva, com reviravoltas constantes nos números do emprego. Mas ao totalizar os empregos ganhos e perdidos do final de 2000 para cá, o estudo constatou que o número de empregos conquistados pelos novos imigrantes equivale a, e até supera, o número de empregos perdidos pelos dois outros grupos.
Andrew Sum, diretor do centro e principal responsável pelo estudo, disse esperar que suas conclusões deflagrem uma análise há muita necessária das políticas de imigração e promoção do emprego nos EUA. Mas alertou contra o uso dessas estatísticas como instrumento para criticar os imigrantes.
"Precisamos de um debate sério e honesto sobre a nossa situação atual em termos de mercado de trabalho", disse o professor Sum, cujo trabalho acadêmico freqüentemente menciona as importantes contribuições dos imigrantes para a economia norte-americana. Mas os resultados alarmantes do estudo indicam que, no momento, "existe algo de errado".
O estudo constatou que os novos imigrantes que ingressam na força de trabalho são em geral homens e "bastante jovens", com mais de um quarto deles abaixo dos 25 anos e 70% com menos de 35 anos.
"Os hispânicos são o grupo dominante entre os novos imigrantes", afirma o estudo, "com os imigrantes do México e da América Central ocupando posição de destaque. Pouco menos de 56% dos trabalhadores que imigraram há pouco para os Estados Unidos são hispânicos, cerca de 20% são asiáticos, 18% são brancos mas não hispânicos e 5% são negros".
Os grupos mais afetados pelo influxo de novos trabalhadores imigrantes são os trabalhadores norte-americanos mais jovens e com nível de educação mais baixo e os chamados imigrantes estabelecidos, que estão nos Estados Unidos já há alguns anos.
Em termos simples, não há criação de empregos em número suficiente para acomodar a vasta diversidade de grupos demográficos que precisam de trabalho. Sendo esse o caso, e com alguns empregadores operando ativamente no recrutamento de novos imigrantes, o resultado inevitável foi o deslocamento de trabalhadores antes empregados, especialmente nas categorias de menor habilitação profissional ou de renda mais baixa.
Os trabalhadores de classe média e com diploma universitário parecem estar mantendo sua posição no ambiente atual de emprego, ainda que número significativo deles estejam subempregados. A situação é muito pior para as pessoas com diploma de segundo grau ou para os estudantes que abandonaram sua educação secundária, especialmente homens, tanto brancos quanto negros, e para os adolescentes.
Os novos imigrantes não estão distribuídos de maneira regular pelo país. O estudo identificou 16 Estados onde mais de 50 mil novos imigrantes residem e participam da força de trabalho civil, com totais que variam de pouco menos de 55 mil no Colorado e na Pensilvânia a um máximo de 555 mil na Califórnia, passando pelos 276 mil registrados no Texas.
O professor Sum informou empregar dados da pesquisa domiciliar do Serviço de Estatísticas do Trabalho, não dados da pesquisa sobre folhas de pagamento (preferidos por muitos economistas), porque a pesquisa domiciliar inclui diversas categorias de emprego que atraem mão-de-obra imigrante substancial mas não são acompanhadas na pesquisa de folhas de pagamento.
Mas mesmo em um setor tradicional como a indústria, por exemplo, o emprego de novos imigrantes cresceu de maneira significativa. Em referência ao período entre 2000 e o final de 2003, o estudo disse que "quase 320 mil novos imigrantes obtiveram empregos no setor manufatureiro nacional, em um período em que o número total de postos de trabalho assalariados no setor caiu em mais de 2,7 milhões de vagas".
Se pretendemos continuar encorajando a imigração, é essencial que voltemos a caminhar na direção do pleno emprego. Que as discussões sobre como chegar lá comecem já. Caso não haja pleno emprego, um desagradável confronto entre trabalhadores norte-americanos e novos imigrantes será inevitável.


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