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ARTIGO
Imigrantes dominam novas vagas nos EUA
BOB HERBERT
DO "NEW YORK TIMES"
Um novo e surpreendente estudo mostra que todo o crescimento registrado nos últimos anos no
número total de pessoas empregadas nos EUA pode ser atribuído
a imigrantes recém-chegados.
O estudo constatou que, do começo de 2001 aos quatro primeiros meses de 2004, o número de
novos imigrantes que conseguiram emprego no país atingiu a casa dos 2,06 milhões, enquanto o
número de pessoas nascidas no
país ou imigrantes mais antigos
aqui residentes empregados caiu
em mais de 1,3 milhão.
O estudo, conduzido pelo Centro de Estudos do Mercado do
Trabalho da Universidade Northwestern, em Boston, é uma nova
confirmação de que, a despeito da
recuperação que pôs fim à recessão de 2001, as famílias norte-americanas continuam a enfrentar problemas sérios de desemprego e subemprego.
Os resultados do estudo não significam que os trabalhadores nascidos no país e os imigrantes mais
antigos não estejam conseguindo
empregos. O mercado de trabalho
norte-americano é uma arena
imensa, dinâmica e altamente
competitiva, com reviravoltas
constantes nos números do emprego. Mas ao totalizar os empregos ganhos e perdidos do final de
2000 para cá, o estudo constatou
que o número de empregos conquistados pelos novos imigrantes
equivale a, e até supera, o número
de empregos perdidos pelos dois
outros grupos.
Andrew Sum, diretor do centro
e principal responsável pelo estudo, disse esperar que suas conclusões deflagrem uma análise há
muita necessária das políticas de
imigração e promoção do emprego nos EUA. Mas alertou contra o
uso dessas estatísticas como instrumento para criticar os imigrantes.
"Precisamos de um debate sério
e honesto sobre a nossa situação
atual em termos de mercado de
trabalho", disse o professor Sum,
cujo trabalho acadêmico freqüentemente menciona as importantes contribuições dos imigrantes
para a economia norte-americana. Mas os resultados alarmantes
do estudo indicam que, no momento, "existe algo de errado".
O estudo constatou que os novos imigrantes que ingressam na
força de trabalho são em geral homens e "bastante jovens", com
mais de um quarto deles abaixo
dos 25 anos e 70% com menos de
35 anos.
"Os hispânicos são o grupo dominante entre os novos imigrantes", afirma o estudo, "com os
imigrantes do México e da América Central ocupando posição de
destaque. Pouco menos de 56%
dos trabalhadores que imigraram
há pouco para os Estados Unidos
são hispânicos, cerca de 20% são
asiáticos, 18% são brancos mas
não hispânicos e 5% são negros".
Os grupos mais afetados pelo
influxo de novos trabalhadores
imigrantes são os trabalhadores
norte-americanos mais jovens e
com nível de educação mais baixo
e os chamados imigrantes estabelecidos, que estão nos Estados
Unidos já há alguns anos.
Em termos simples, não há criação de empregos em número suficiente para acomodar a vasta diversidade de grupos demográficos que precisam de trabalho.
Sendo esse o caso, e com alguns
empregadores operando ativamente no recrutamento de novos
imigrantes, o resultado inevitável
foi o deslocamento de trabalhadores antes empregados, especialmente nas categorias de menor habilitação profissional ou de
renda mais baixa.
Os trabalhadores de classe média e com diploma universitário
parecem estar mantendo sua posição no ambiente atual de emprego, ainda que número significativo deles estejam subempregados. A situação é muito pior para
as pessoas com diploma de segundo grau ou para os estudantes
que abandonaram sua educação
secundária, especialmente homens, tanto brancos quanto negros, e para os adolescentes.
Os novos imigrantes não estão
distribuídos de maneira regular
pelo país. O estudo identificou 16
Estados onde mais de 50 mil novos imigrantes residem e participam da força de trabalho civil,
com totais que variam de pouco
menos de 55 mil no Colorado e na
Pensilvânia a um máximo de 555
mil na Califórnia, passando pelos
276 mil registrados no Texas.
O professor Sum informou empregar dados da pesquisa domiciliar do Serviço de Estatísticas do
Trabalho, não dados da pesquisa
sobre folhas de pagamento (preferidos por muitos economistas),
porque a pesquisa domiciliar inclui diversas categorias de emprego que atraem mão-de-obra imigrante substancial mas não são
acompanhadas na pesquisa de folhas de pagamento.
Mas mesmo em um setor tradicional como a indústria, por
exemplo, o emprego de novos
imigrantes cresceu de maneira
significativa. Em referência ao período entre 2000 e o final de 2003,
o estudo disse que "quase 320 mil
novos imigrantes obtiveram empregos no setor manufatureiro
nacional, em um período em que
o número total de postos de trabalho assalariados no setor caiu
em mais de 2,7 milhões de vagas".
Se pretendemos continuar encorajando a imigração, é essencial
que voltemos a caminhar na direção do pleno emprego. Que as
discussões sobre como chegar lá
comecem já. Caso não haja pleno
emprego, um desagradável confronto entre trabalhadores norte-americanos e novos imigrantes
será inevitável.
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