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NOVO MODELO
Grupo de economistas lança boletim em que condiciona crescimento à retomada dos investimentos do setor público
Centro da Unicamp pede controle de capitais
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Com a atual política econômica,
não haverá espetáculo do crescimento -muito menos crescimento espetacular. É o que diz o
Cecon (Centro de Estudos de
Conjuntura e Política Econômica), da Unicamp, que projeta um
crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) entre 0% e 0,5% neste ano. A instituição também não
acredita numa retomada consistente em 2004.
Na análise do Centro, que ontem lançou o boletim "Política
Econômica em Foco", o primeiro
passo para mudar os rumos da
economia é estabelecer o controle
de capitais de curto prazo. "Mas
só isso não basta: é preciso que
ocorra uma mudança radical no
sistema financeiro local, para que
ele realmente financie o crescimento", diz Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos autores do boletim.
O novo boletim, segundo seus
autores, pretende ser um referencial "crítico e independente" da
política econômica do governo e
será editado a cada quatro meses.
Parte de seus autores ajudou a elaborar o programa econômico de
Lula, mas ficou fora do governo.
Na visão dos economistas do
Cecon, o modelo capaz de impulsionar o crescimento passa pela
retomada dos investimentos do
setor público e das estatais e por
uma presença mais ativa dos bancos federais na concessão de crédito, estabelecendo uma concorrência com os bancos privados.
"Só reduzir os juros para 18% ao
ano não vai impulsionar o crescimento", diz Ricardo Carneiro,
um dos autores do boletim.
Segundo Carneiro, em uma
economia tão deprimida como a
brasileira as fontes de crescimento são limitadas. "As exportações
estão no limite, não conseguirão
continuar puxando o crescimento
do PIB em 2004, como neste ano."
Na sua opinião, a tentativa do
governo de estimular a retomada
da economia por meio do consumo, via ampliação do crédito, tem
fortes limitações. O boletim destaca que, de 1999 a 2003, cresceu a
informalização do trabalho e caiu
a renda real do trabalhador. Segundo o boletim, o rendimento
médio real encolheu 32% no período, sendo 9,8% só nos últimos
12 meses. "Baratear o crédito, nessa situação, ajuda um pouco, mas
não é suficiente", diz Carneiro.
Entrada e saída
A pedra de toque da proposta
do Cecon é o controle de capitais
especulativos. Os economistas dizem que a medida, em vez de afugentar os investimentos diretos,
favoreceria sua entrada, pois daria maior estabilidade cambial.
"Nos anos 90, os únicos países
semelhantes ao Brasil que cresceram mais de 5% ao ano foram os
que fizeram controle de capitais",
diz Belluzzo. Ele cita a China, a Índia, Taiwan, a Malásia e o Chile
como exemplos.
Segundo estimativas do Cecon,
desde outubro de 2002 entraram
no país entre US$ 25 bilhões e US$
45 bilhões de capital de curto prazo. "Sem controle de capitais, esses recursos podem sair a qualquer momento e gerar instabilidade no câmbio", diz Maryse Farhi, uma das economistas que assinam o boletim do Cecon.
O controle seria feito na entrada
dos recursos, limitando-se a posição dos bancos em câmbio (captações feitas no exterior para obter ganhos com os juros internos).
Essas operações não são registradas no Banco Central, o que facilita a saída do dinheiro.
Para controlar a saída de capital,
o Cecon prega a extinção da CC-5,
linha pela qual migram recursos
do país para investimentos financeiros. Essa conta também é usada, nas crises, pelas empresas que
captaram dinheiro no exterior para antecipar o resgate de títulos.
"Isso gera descontrole sobre os
vencimentos da dívida externa do
país", diz Carneiro.
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