UOL


São Paulo, sexta-feira, 05 de setembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NOVO MODELO

Grupo de economistas lança boletim em que condiciona crescimento à retomada dos investimentos do setor público

Centro da Unicamp pede controle de capitais

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Com a atual política econômica, não haverá espetáculo do crescimento -muito menos crescimento espetacular. É o que diz o Cecon (Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica), da Unicamp, que projeta um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) entre 0% e 0,5% neste ano. A instituição também não acredita numa retomada consistente em 2004.
Na análise do Centro, que ontem lançou o boletim "Política Econômica em Foco", o primeiro passo para mudar os rumos da economia é estabelecer o controle de capitais de curto prazo. "Mas só isso não basta: é preciso que ocorra uma mudança radical no sistema financeiro local, para que ele realmente financie o crescimento", diz Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos autores do boletim.
O novo boletim, segundo seus autores, pretende ser um referencial "crítico e independente" da política econômica do governo e será editado a cada quatro meses. Parte de seus autores ajudou a elaborar o programa econômico de Lula, mas ficou fora do governo.
Na visão dos economistas do Cecon, o modelo capaz de impulsionar o crescimento passa pela retomada dos investimentos do setor público e das estatais e por uma presença mais ativa dos bancos federais na concessão de crédito, estabelecendo uma concorrência com os bancos privados. "Só reduzir os juros para 18% ao ano não vai impulsionar o crescimento", diz Ricardo Carneiro, um dos autores do boletim.
Segundo Carneiro, em uma economia tão deprimida como a brasileira as fontes de crescimento são limitadas. "As exportações estão no limite, não conseguirão continuar puxando o crescimento do PIB em 2004, como neste ano."
Na sua opinião, a tentativa do governo de estimular a retomada da economia por meio do consumo, via ampliação do crédito, tem fortes limitações. O boletim destaca que, de 1999 a 2003, cresceu a informalização do trabalho e caiu a renda real do trabalhador. Segundo o boletim, o rendimento médio real encolheu 32% no período, sendo 9,8% só nos últimos 12 meses. "Baratear o crédito, nessa situação, ajuda um pouco, mas não é suficiente", diz Carneiro.

Entrada e saída
A pedra de toque da proposta do Cecon é o controle de capitais especulativos. Os economistas dizem que a medida, em vez de afugentar os investimentos diretos, favoreceria sua entrada, pois daria maior estabilidade cambial.
"Nos anos 90, os únicos países semelhantes ao Brasil que cresceram mais de 5% ao ano foram os que fizeram controle de capitais", diz Belluzzo. Ele cita a China, a Índia, Taiwan, a Malásia e o Chile como exemplos.
Segundo estimativas do Cecon, desde outubro de 2002 entraram no país entre US$ 25 bilhões e US$ 45 bilhões de capital de curto prazo. "Sem controle de capitais, esses recursos podem sair a qualquer momento e gerar instabilidade no câmbio", diz Maryse Farhi, uma das economistas que assinam o boletim do Cecon.
O controle seria feito na entrada dos recursos, limitando-se a posição dos bancos em câmbio (captações feitas no exterior para obter ganhos com os juros internos). Essas operações não são registradas no Banco Central, o que facilita a saída do dinheiro.
Para controlar a saída de capital, o Cecon prega a extinção da CC-5, linha pela qual migram recursos do país para investimentos financeiros. Essa conta também é usada, nas crises, pelas empresas que captaram dinheiro no exterior para antecipar o resgate de títulos. "Isso gera descontrole sobre os vencimentos da dívida externa do país", diz Carneiro.


Texto Anterior: Ministro aponta crescimento menor do PIB
Próximo Texto: Pobre sofre mais com inflação
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.