São Paulo, terça-feira, 05 de setembro de 2006 |
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Volks suspende demissões, e greve acaba
Trabalhadores encerram paralisação motivada por anúncio de 1.800 cortes; negociações sobre reestruturação serão retomadas Montadora reafirma que plano que prevê o enxugamento de 3.600 empregos na fábrica do ABC não está cancelado CLAUDIA ROLLI DA REPORTAGEM LOCAL A Volkswagen recuou, suspendeu as 1.800 cartas de demissão distribuídas a trabalhadores de São Bernardo do Campo e propôs ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (CUT) retomar as negociações para discutir o plano de reestruturação da empresa no país. Em contrapartida, os trabalhadores decidiram em assembléia realizada ontem interromper a greve iniciada há sete dias no ABC e as manifestações previstas para os próximos dias. Estão cancelados os protestos que ocorreriam amanhã nas principais revendas do país. "Como os empregados concordaram em suspender a greve para a retomada das negociações, aceitamos suspender as demissões anunciadas até que o processo de negociação se encerre", disse Nilton Junior, gerente-executivo de Relações Trabalhistas da Volks do Brasil, em comunicado ontem. A negociação recomeça hoje, com uma reunião prevista para as 13h. A montadora informou, entretanto, que não desistiu do plano de redimensionar as suas atividades no Brasil para reduzir custos e atrair investimentos ao país. "A Volkswagen reafirma a necessidade de adequação do seu quadro de pessoal em 3.600 pessoas nos próximos anos, porém está aberta para discutir as condições para sua realização", diz o gerente. Lula e BNDES Um conjunto de fatores motivou a suspensão das demissões, na análise de consultores e especialistas em mercado de trabalho. Pesaram na decisão da montadora, dizem, as críticas feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o fato de o BNDES ter suspendido empréstimo de R$ 497,1 milhões à companhia. "Lamento profundamente que uma empresa como a Volkswagen esteja dispensando trabalhadores, e ela está dispensando porque teve um projeto que não deu certo", disse Lula, na Fiat, na sexta-feira. "A crise da Volks se tornou uma questão pública e política. O impacto em sua imagem poderia ser ainda maior porque havia a ameaça de que protestos se estendessem por outras fábricas e categorias", afirma Arnaldo Mazzei Nogueira, professor da PUC-SP e da USP. Para o advogado Luis Carlos Moro, o efeito econômico pesou. "A paralisação em uma fábrica estratégica, fornecedora de peças, aliada ao risco de perder vendas em um momento que o mercado está aquecido e os juros em queda, fez a VW repensar a greve." Trabalhadores e empresa têm prazo até a próxima semana para chegar a um acordo. Na terça-feira, os funcionários fazem nova assembléia para avaliar o resultado da negociação. "Temos convicção de que precisamos chegar a um entendimento pois, sem um acordo, o futuro da Anchieta estará em risco", afirma o gerente-executivo. A Volks tem de apresentar até a primeira quinzena deste mês, em reunião na Alemanha para definir investimentos do grupo, o acordo para a redução de custos no Brasil. "Não adianta convocar para fazer hora extra nem vir com a mesma proposta. Se é para negociar, tem de ser para valer", diz José Lopez Feijóo, presidente do sindicato. A paralisação na fábrica Anchieta influiu na produção de outras três unidades -São José dos Pinhais (PR), Taubaté e São Carlos-, que dependem de peças que saem do ABC. Cerca de 5.000 carros deixaram de ser fabricados, e os estoques da montadora seriam suficientes para cinco dias, segundo os sindicalistas. A VW não confirma. O impacto da greve chegou a parte da cadeia automobilística. A autopeças Arteb, de São Bernardo, oficializou ontem pedido de férias coletivas a partir do dia 18 para 50% de seus 1.200 empregados, conforme antecipou a Folha no sábado. Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Juiz, advogados e estudantes pedem boicote Índice |
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