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Tribunal de Contas suspende leilão de banda larga sem fio
TCU aponta inconsistências técnicas em edital da Anatel para a venda de freqüências
Decisão agrada ao ministro Hélio Costa, que defende mudanças na licitação; mais de cem empresas chegaram a apresentar propostas
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Por determinação do TCU
(Tribunal de Contas da União),
foi suspensa ontem a licitação
para compra de freqüências para prestação do serviço de acesso à internet em banda larga
sem fio. O tribunal afirmou ter
detectado inconsistências nos
estudos feitos pela Anatel
(Agência Nacional de Telecomunicações) na elaboração do
edital, que levaram a erros na
fixação dos preços mínimos.
A decisão agradou ao Ministério das Comunicações, que
vinha numa queda-de-braço
com a Anatel para adiar o leilão.
Um dos problemas apontados pelo TCU foi o fato de a
agência ter usado a cotação de
novembro de 2004 -R$ 3,54-
para o euro, quando fez o cálculo do valor mínimo a ser cobrado para os blocos de faixas de
freqüência. De acordo com o
tribunal, a correção para a taxa
de câmbio atual deverá provocar um aumento de R$ 23 milhões no preço mínimo total, o
que significa um reajuste de
76% sobre os R$ 30,2 milhões
pedidos inicialmente.
Na avaliação do tribunal, como hoje a cotação do euro é
menor (aproximadamente R$
2,70), o investimento que as
empresas teriam que fazer para
comprar os equipamentos necessários para instalar o serviço
é menor. Portanto, a Anatel poderia cobrar mais pelas faixas
de freqüência.
Ainda de acordo com o levantamento técnico do TCU, os
preços mínimos para as freqüências nas cidades de Santos
(SP) e Ribeirão Preto (SP) estavam muito menores dos que os
de cidades do mesmo porte. O
tribunal informou que, para
blocos de 7 MHz (megahertz)
dentro da faixa de 3,5 GHz (gigahertz), o preço mínimo nessas cidades foi de R$ 655,71, enquanto em outros locais semelhantes chegou a R$ 200 mil.
"Foi uma decisão puramente
técnica", afirmou o ministro
Ubiratan Aguiar, autor da cautelar do TCU. A decisão do ministro será analisada hoje pelo
plenário do TCU, que poderá
confirmá-la ou não.
Em nota, o tribunal afirmou
que a suspensão "não visa à alteração das cláusulas do edital,
mas correções de distorções e
desatualizações identificadas
na determinação dos preços
mínimos, que poderiam trazer
prejuízos aos cofres públicos e
à própria lisura da licitação".
Ainda segundo o TCU, "corrigidas essas falhas, a Anatel
poderá dar prosseguimento à
licitação". A agência reguladora
tem 15 dias para se manifestar.
Um novo edital terá de ser
publicado, o que torna imprevisível o período para a retomada
do negócio.
Embora a decisão do tribunal
seja de sexta-feira passada, a
suspensão da licitação só foi
tornada pública ontem pelo
procurador da Anatel, Antônio
Bedran, depois de os envelopes
contendo os documentos de
habilitação e propostas de preços das empresas interessadas
terem sido entregues. Por meio
de sua assessoria, a Anatel informou que foi informada só
ontem sobre a decisão do TCU.
Mais de cem empresas entregaram documentos para participar da licitação nas três regiões em que o país foi dividido
pela Anatel -coincidentes com
as áreas de atuação das teles fixas, Telefônica, Telemar e Brasil Telecom. Cada região tem
várias áreas. Os documentos
entregues ficarão guardados e
lacrados até que haja uma decisão sobre o edital.
A ação do TCU é mais um capítulo na disputa que envolve o
Ministério das Comunicações,
as concessionárias de telefonia
fixa local e a Anatel.
A Anatel elaborou edital no
qual as teles fixas estavam proibidas de apresentar propostas
de compra de faixas de freqüência nas áreas onde atuam
como operadoras fixas. Mas estariam liberadas para comprar
freqüências em outros locais.
De acordo com a agência reguladora, sua intenção era estimular a competição -as teles
fixas já oferecem acesso à internet em banda larga por meio de
suas linhas fixas. As teles não
concordaram e conseguiram na
Justiça suspender a cláusula do
edital que restringia sua participação. A Anatel tentou recorrer, mas sem sucesso.
Em sua argumentação, a
agência afirma que as teles fixas são "praticamente monopolistas", tanto na telefonia local quanto no acesso à internet.
Segundo a Anatel, se elas puderem participar da licitação em
suas áreas de atuação, haverá
"competição predatória".
O ministro Hélio Costa (Comunicações), por sua vez, elogiou a decisão do TCU. "Eu
acho que foi a melhor decisão.
Até porque nós vamos ter tempo realmente de corrigir vícios
de origem do edital."
Costa negou que tivesse conversado com o ministro Ubiratan Aguiar, do TCU. Apesar disso, afirmou ter ficado sabendo
da decisão na sexta-feira. "Eu
fiquei sabendo que as coisas estavam caminhando nesse sentido. Fiquei bem mais tranqüilo
porque entendi que poderia haver uma solução para o problema sem precisarmos fazer uma
portaria [intervindo na Anatel]", disse. "A portaria estava
pronta, assinada."
Costa foi o principal vencedor com a decisão do TCU. A
argumentação do ministério
era que o destino dado pela
Anatel a essas faixas de freqüência poderia entrar em conflito com programas de inclusão digital do governo.
Uma das alegações de Costa
era a de garantir o fornecimento do serviço de acesso à internet em banda larga nas pequenas cidades.
Procurada, a Abrafix (associação que reúne as teles fixas)
não quis se manifestar ontem.
As empresas têm argumentado
que não podem ser proibidas de
entrar nesse segmento de tecnologia mais avançada. Segundo elas, em nenhum lugar do
mundo em que esse tipo freqüência foi vendida houve impedimento. Dizem também
que o governo arrecadará menos no leilão, se forem proibidas de participar.
Colaborou MARTA SALOMON ,
da Sucursal de Brasília
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