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Pessimismo externo derruba a Bovespa
Bolsa paulista acompanha mercado global e recua 4%, com temores de desaceleração nos países ricos; dólar ganha força
Moeda dos EUA sobe 2,68% e vai a R$ 1,722; queda da Bovespa no ano chega a 20%, com perda de 7,67%
só neste início de mês
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
As incertezas nas economias
mais ricas do mundo fizeram
Bolsas e moedas sofrerem pesadas perdas nos pregões de
ontem. O tombo de 3,96% registrado na Bovespa levou a
Bolsa paulista a seu mais baixo
nível desde agosto de 2007. O
dólar disparou 2,68% e terminou a R$ 1,722, maior cotação
desde 2 de abril e maior valorização em um dia neste ano.
Na esteira das perdas expressivas que marcaram os pregões
no mercado internacional, a
Bovespa fechou a 51.408 pontos. A queda de ontem foi a
maior em quase seis meses.
O desconforto com a fraqueza da economia européia se
aprofundou nos últimos dias,
dando impulso ao dólar e derrubando as commodities no
mercado internacional.
Declarações de Jean-Claude
Trichet, presidente do Banco
Central Europeu, pioraram o
clima já desfavorável (leia texto
nesta página), ao sinalizar que a
economia da região segue fraca
ao mesmo tempo em que a inflação preocupa. Nesse cenário,
a Bolsa de Paris caiu 3,22%;
Frankfurt, 2,91%; e Londres,
2,5%. Nos EUA, o índice Dow
Jones teve queda de 2,99%, e a
Nasdaq, 3,20%.
Dos EUA, vieram dados que
mostraram elevação acima do
esperado nos pedidos de auxílio-desemprego na semana
passada. Mas alguns analistas
americanos disseram não ver
um motivo claro para a queda
drástica de ontem, além do clima pessimista dos mercados.
Se o relatório do mercado de
trabalho norte-americano, a
ser divulgado hoje, decepcionar
e elevar a sensação de que a recuperação da economia está
em um ritmo mais lento que o
projetado, poderá haver novas
perdas.
"Temos observado uma deterioração dos números na zona
do euro. E as perspectivas para
a região não são favoráveis.
Após um segundo trimestre
ruim, as expectativas para o
terceiro continuam se deteriorando", disse Hugo Penteado,
economista-chefe do Asset Management do banco Real.
Na quarta, foi divulgado que
o PIB da zona do euro se retraiu
em 0,2% no segundo trimestre
do ano, o primeiro recuo desde
1995. O dado intensificou o cenário ruim para a Bovespa,
marcado pela alta do dólar e a
depreciação das commodities.
O barril de petróleo caiu ontem para US$ 107,89 em Nova
York, com baixa de 1,34%. Há
cerca de dois meses, o produto
rondava os US$ 145.
Esse movimento tem afetado
o desempenho das ações da Petrobras, que já não atravessam
um período favorável devido às
dúvidas em relação às futuras
explorações da camada de pré-sal. Como são as mais negociadas e de maior peso do mercado
brasileiro, a queda das ações da
Petrobras acaba prejudicando
o resultado final da Bovespa.
A desvalorização das ações
preferenciais da Petrobras no
pregão foi de 3,52%; as ordinárias caíram 3,66%. No ano, os
papéis já perderam 28,4% (PN)
e 26,05% (ON).
Outra gigante da Bolsa paulista, a Vale, também tem sofrido com as commodities em baixa lá fora. No fim do pregão de
ontem, Vale PNA registrava
queda de 3,11% -em 2008, já
perdeu 29,42%.
"Nosso mercado depende
muito do desempenho das
commodities no exterior", afirma Roberto Padovani, estrategista-sênior de investimentos
para a América Latina do
WestLB. "No atual cenário de
maior aversão ao risco, tem havido um reposicionamento nas
carteiras de investimento internacionais. E estamos a reboque desse reajuste mundial."
A Bolsa brasileira conseguiu
se manter melhor que os mercados internacionais até o começo de junho. Entre o fim de
abril e maio, o Brasil foi elevado
por duas agências de classificação de risco à categoria de "investment grade" (grau de investimento), uma espécie de
selo de bom pagador que reduz
a expectativa de risco no país, o
que levou a Bovespa a um pico
de 73.516 pontos.
Mas, com a deterioração do
cenário internacional e a redução da liquidez global, essa melhor classificação não conseguiu manter o capital externo
na Bovespa.
Perdas acumuladas
Após acumular perdas em junho, julho e agosto, a Bovespa
registra neste começo de mês
queda expressiva de 7,67%. No
ano, as perdas da Bolsa alcançam 19,53%. Desde seu pico, registrado em 20 de maio, a Bolsa
já se desvalorizou em 30%.
No pregão de ontem, os estrangeiros voltaram a vender
lotes mais pesados de ações
brasileiras. Entre junho e agosto, o pregão brasileiro perdeu
mais de R$ 17 bilhões em capital externo. Como os estrangeiros respondem por cerca de
35% das operações realizadas
na Bolsa de Valores, as vendas
persistentes da categoria derrubam ainda mais as ações.
A ação ordinária da
BM&FBovespa foi a que mais
caiu no pregão de ontem,
11,34%. Apenas 5 das 66 ações
que formam o Ibovespa escaparam de encerrar em queda ontem.
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