São Paulo, sexta-feira, 05 de setembro de 2008

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Pessimismo externo derruba a Bovespa

Bolsa paulista acompanha mercado global e recua 4%, com temores de desaceleração nos países ricos; dólar ganha força

Moeda dos EUA sobe 2,68% e vai a R$ 1,722; queda da Bovespa no ano chega a 20%, com perda de 7,67% só neste início de mês

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

As incertezas nas economias mais ricas do mundo fizeram Bolsas e moedas sofrerem pesadas perdas nos pregões de ontem. O tombo de 3,96% registrado na Bovespa levou a Bolsa paulista a seu mais baixo nível desde agosto de 2007. O dólar disparou 2,68% e terminou a R$ 1,722, maior cotação desde 2 de abril e maior valorização em um dia neste ano.
Na esteira das perdas expressivas que marcaram os pregões no mercado internacional, a Bovespa fechou a 51.408 pontos. A queda de ontem foi a maior em quase seis meses.
O desconforto com a fraqueza da economia européia se aprofundou nos últimos dias, dando impulso ao dólar e derrubando as commodities no mercado internacional.
Declarações de Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, pioraram o clima já desfavorável (leia texto nesta página), ao sinalizar que a economia da região segue fraca ao mesmo tempo em que a inflação preocupa. Nesse cenário, a Bolsa de Paris caiu 3,22%; Frankfurt, 2,91%; e Londres, 2,5%. Nos EUA, o índice Dow Jones teve queda de 2,99%, e a Nasdaq, 3,20%.
Dos EUA, vieram dados que mostraram elevação acima do esperado nos pedidos de auxílio-desemprego na semana passada. Mas alguns analistas americanos disseram não ver um motivo claro para a queda drástica de ontem, além do clima pessimista dos mercados.
Se o relatório do mercado de trabalho norte-americano, a ser divulgado hoje, decepcionar e elevar a sensação de que a recuperação da economia está em um ritmo mais lento que o projetado, poderá haver novas perdas.
"Temos observado uma deterioração dos números na zona do euro. E as perspectivas para a região não são favoráveis. Após um segundo trimestre ruim, as expectativas para o terceiro continuam se deteriorando", disse Hugo Penteado, economista-chefe do Asset Management do banco Real.
Na quarta, foi divulgado que o PIB da zona do euro se retraiu em 0,2% no segundo trimestre do ano, o primeiro recuo desde 1995. O dado intensificou o cenário ruim para a Bovespa, marcado pela alta do dólar e a depreciação das commodities.
O barril de petróleo caiu ontem para US$ 107,89 em Nova York, com baixa de 1,34%. Há cerca de dois meses, o produto rondava os US$ 145.
Esse movimento tem afetado o desempenho das ações da Petrobras, que já não atravessam um período favorável devido às dúvidas em relação às futuras explorações da camada de pré-sal. Como são as mais negociadas e de maior peso do mercado brasileiro, a queda das ações da Petrobras acaba prejudicando o resultado final da Bovespa.
A desvalorização das ações preferenciais da Petrobras no pregão foi de 3,52%; as ordinárias caíram 3,66%. No ano, os papéis já perderam 28,4% (PN) e 26,05% (ON).
Outra gigante da Bolsa paulista, a Vale, também tem sofrido com as commodities em baixa lá fora. No fim do pregão de ontem, Vale PNA registrava queda de 3,11% -em 2008, já perdeu 29,42%.
"Nosso mercado depende muito do desempenho das commodities no exterior", afirma Roberto Padovani, estrategista-sênior de investimentos para a América Latina do WestLB. "No atual cenário de maior aversão ao risco, tem havido um reposicionamento nas carteiras de investimento internacionais. E estamos a reboque desse reajuste mundial."
A Bolsa brasileira conseguiu se manter melhor que os mercados internacionais até o começo de junho. Entre o fim de abril e maio, o Brasil foi elevado por duas agências de classificação de risco à categoria de "investment grade" (grau de investimento), uma espécie de selo de bom pagador que reduz a expectativa de risco no país, o que levou a Bovespa a um pico de 73.516 pontos.
Mas, com a deterioração do cenário internacional e a redução da liquidez global, essa melhor classificação não conseguiu manter o capital externo na Bovespa.

Perdas acumuladas
Após acumular perdas em junho, julho e agosto, a Bovespa registra neste começo de mês queda expressiva de 7,67%. No ano, as perdas da Bolsa alcançam 19,53%. Desde seu pico, registrado em 20 de maio, a Bolsa já se desvalorizou em 30%.
No pregão de ontem, os estrangeiros voltaram a vender lotes mais pesados de ações brasileiras. Entre junho e agosto, o pregão brasileiro perdeu mais de R$ 17 bilhões em capital externo. Como os estrangeiros respondem por cerca de 35% das operações realizadas na Bolsa de Valores, as vendas persistentes da categoria derrubam ainda mais as ações.
A ação ordinária da BM&FBovespa foi a que mais caiu no pregão de ontem, 11,34%. Apenas 5 das 66 ações que formam o Ibovespa escaparam de encerrar em queda ontem.


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