São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2004

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Mercosul pode assinar acordo se a UE tirar dois itens de sua proposta

DO COLUNISTA DA FOLHA

O Mercosul acenou ontem com a possibilidade de aceitar a mais recente oferta da União Européia, por mais que ela tenha sido considerada muito ruim. A aceitação se daria se os europeus retirassem duas condições que casaram à sua proposta de cotas de exportação de produtos agrícolas oferecidas ao bloco sul-americano.
Uma das condições é a diluição das cotas em dez anos. A outra é exigir que seja o importador (portanto, firmas européias) quem administre as cotas, o que "daria margem à manipulação de preços", na avaliação do embaixador Régis Arslanian, negociador-chefe do Brasil.
Essas duas condições são "inaceitáveis", reiterou ontem o embaixador, em seminário na Câmara Americana de Comércio marcado por pressões empresariais para avançar nas negociações tanto com os Estados Unidos, para criar a Alca, como com a União Européia.
O debate serviu para que Arslanian e o próprio chanceler Celso Amorim explicassem os motivos pelos quais nem a Alca nem o acordo com a Europa sairão no prazo originalmente previsto (começo de 2005).
É verdade que Arslanian ainda não desistiu de fechar o entendimento com os europeus até 31 de outubro. Mas Amorim se antecipa e diz que, "se não for agora, será em algum momento".
A explicação para não ter havido acordo é simples, na avaliação de Amorim: "Tudo o que temos interesse, eles dizem que é sensível para eles".
Já o Mercosul, sempre na avaliação do chanceler, pode não ter feito "tudo o que podia", mas, garante, "fez pelo menos 90%" (na oferta apresentada aos europeus).
Quanto à Alca, o chanceler culpa a eleição norte-americana, que naturalmente inibiu a vontade negociadora de Washington, porque fazer concessões comerciais em ano eleitoral é sempre um exercício muito complicado.
O ministro insistiu em que a negociação para acesso a mercado deveria se dar no formato 4+1, pelo qual os quatro países do Mercosul discutiriam separadamente com cada um dos 30 outros parceiros da Alca como reduziriam ou eliminariam suas tarifas de importação.
Essa seria a melhor maneira de evitar uma negociação conjunta em que se misturassem interesses de países de economias tão profundamente diferentes como Canadá, Brasil e Haiti. (CR)


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