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VINICIUS TORRES FREIRE
Mercado de bobagens e eleição
IDH explica melhor o voto em Lula que a renda, diz estudo; votação não explica as idas e vindas do mercado financeiro
ENQUANTO AS NOVAS pesquisas
eleitorais não chegam, cresce
a especulação sobre os motivos do voto e das flutuações dos
mercados devidas à política.
Segunda-feira, votos contados,
ouve-se que o mercado estava feliz
com os resultados. Quais? Alckmin
quase empata o jogo; o quadro geral
da eleição estadual quase não mudou; a previsível fragmentação partidária na Câmara ficou na mesma.
Dez dias antes da eleição, na quinta-feira 21, o mercado estava em polvorosa. O caso da máfia petista do
dossiê chegava ao auge. Lula talvez
não levasse no primeiro turno. A
"governabilidade" na próxima Presidência seria prejudicada pela radicalização política. O Congresso não
votaria as milagrosas reformas.
Bem, Lula não levou no primeiro
turno. Quem pode levar é Geraldo
Alckmin, muito mais "market
friendly". Na final, Lula teria 52%
contra 48% de Alckmin, uma projeção baseada no resultado de domingo e nas últimas pesquisas sobre o
segundo turno. Ou seja, se é para especular, o tucano quase empata o jogo, em tendência de alta, e a radicalização política deve aumentar.
O nível de "governabilidade" nos
próximos quatro anos ora parece tão
baixo ou imprevisível quanto na tarde do dia 21. Nada se sabe ainda sobre o destino dos partidos nanicos
rebaixados para a segunda divisão
devido à cláusula de barreira. Nada
se sabe sobre como o próximo governo vai adquirir os partidos médios a fim de formar a "base aliada".
Conclusão? Quanta besteira se diz
sobre o "mercado". Não havia motivo político preciso para a "polvorosa" do dia 21 e para o "relax" pós-primeiro turno -ou os motivos eram
contraditórios. Pior, boa parte das
flutuações negativas do daquele dia
deveu-se a fatores externos. O risco
Brasil subiu? Mas o risco pode subir
também devido à queda dos juros do
Tesouro dos EUA, o que ocorria na
semana da "polvorosa", que de resto
bateu no Brasil como em outros
mercados pobres, abalados pela
queda do preço das commodities. Os
juros futuros no Brasil subiram naquela quinta só para voltar no dia seguinte à tendência de queda que
vem de março de 2005.
Especulação sobre o passado
O que influenciou o voto de domingo? Lula teria sido prejudicado
pelo câmbio, diz-se, que afetou regiões produtoras de bens expostos
à competição externa. Mas o câmbio não afeta tais regiões da mesma
maneira. De resto, o real forte baixou a inflação, que aumenta o poder de compra dos pobres, que votaram mais em Lula.
Apenas a próxima pesquisa dirá
algo mais preciso sobre a virada
alckmista. Mas há algumas especulações melhores, como a do professor Timothy Power, do Centro de
Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford. Power cruzou a variação de votos de Lula entre 2002
e 2006, por Estado, com fatores como renda per capita e IDH (Índice
de Desenvolvimento Humano).
O IDH é uma explicação melhor
que a renda para a variação dos votos de Lula. Explicação melhor que
a renda são ainda os fatores nível de
participação eleitoral e competitividade em eleições locais. Lula vence mais em Estados mais oligárquicos, de baixo IDH: vai bem no grotão, de pouca escola e saúde.
vinit@uol.com.br
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