São Paulo, quinta-feira, 05 de outubro de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

Mercado de bobagens e eleição

IDH explica melhor o voto em Lula que a renda, diz estudo; votação não explica as idas e vindas do mercado financeiro

ENQUANTO AS NOVAS pesquisas eleitorais não chegam, cresce a especulação sobre os motivos do voto e das flutuações dos mercados devidas à política. Segunda-feira, votos contados, ouve-se que o mercado estava feliz com os resultados. Quais? Alckmin quase empata o jogo; o quadro geral da eleição estadual quase não mudou; a previsível fragmentação partidária na Câmara ficou na mesma.
Dez dias antes da eleição, na quinta-feira 21, o mercado estava em polvorosa. O caso da máfia petista do dossiê chegava ao auge. Lula talvez não levasse no primeiro turno. A "governabilidade" na próxima Presidência seria prejudicada pela radicalização política. O Congresso não votaria as milagrosas reformas.
Bem, Lula não levou no primeiro turno. Quem pode levar é Geraldo Alckmin, muito mais "market friendly". Na final, Lula teria 52% contra 48% de Alckmin, uma projeção baseada no resultado de domingo e nas últimas pesquisas sobre o segundo turno. Ou seja, se é para especular, o tucano quase empata o jogo, em tendência de alta, e a radicalização política deve aumentar.
O nível de "governabilidade" nos próximos quatro anos ora parece tão baixo ou imprevisível quanto na tarde do dia 21. Nada se sabe ainda sobre o destino dos partidos nanicos rebaixados para a segunda divisão devido à cláusula de barreira. Nada se sabe sobre como o próximo governo vai adquirir os partidos médios a fim de formar a "base aliada".
Conclusão? Quanta besteira se diz sobre o "mercado". Não havia motivo político preciso para a "polvorosa" do dia 21 e para o "relax" pós-primeiro turno -ou os motivos eram contraditórios. Pior, boa parte das flutuações negativas do daquele dia deveu-se a fatores externos. O risco Brasil subiu? Mas o risco pode subir também devido à queda dos juros do Tesouro dos EUA, o que ocorria na semana da "polvorosa", que de resto bateu no Brasil como em outros mercados pobres, abalados pela queda do preço das commodities. Os juros futuros no Brasil subiram naquela quinta só para voltar no dia seguinte à tendência de queda que vem de março de 2005.

Especulação sobre o passado
O que influenciou o voto de domingo? Lula teria sido prejudicado pelo câmbio, diz-se, que afetou regiões produtoras de bens expostos à competição externa. Mas o câmbio não afeta tais regiões da mesma maneira. De resto, o real forte baixou a inflação, que aumenta o poder de compra dos pobres, que votaram mais em Lula.
Apenas a próxima pesquisa dirá algo mais preciso sobre a virada alckmista. Mas há algumas especulações melhores, como a do professor Timothy Power, do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford. Power cruzou a variação de votos de Lula entre 2002 e 2006, por Estado, com fatores como renda per capita e IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
O IDH é uma explicação melhor que a renda para a variação dos votos de Lula. Explicação melhor que a renda são ainda os fatores nível de participação eleitoral e competitividade em eleições locais. Lula vence mais em Estados mais oligárquicos, de baixo IDH: vai bem no grotão, de pouca escola e saúde.


vinit@uol.com.br

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