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Lula acusa empresas de especularem
Em carreata em São Bernardo, presidente diz que, por "ganância", empresas especularam contra moeda brasileira
Aracruz e Sadia divulgaram
perdas devido à oscilação do
câmbio; Lula diz que país tem problema de crédito, mas que vai suprir escassez
ADRIANO CEOLIN
EM SÃO BERNARDO DO CAMPO
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que a
crise financeira que atinge os
EUA é uma das mais graves dos
últimos tempos, mas ponderou
que as perdas de empresas brasileiras com a oscilação do câmbio informadas nos últimos
dias têm outro motivo "condenável": a especulação.
"É importante lembrar que
essas empresas, no fundo no
fundo, estavam especulando
contra a moeda brasileira. Portanto, elas praticaram por conta própria, por ganância, esse
prejuízo. É um problema delas,
porque especularam de forma
pouco recomendável", afirmou
Lula, ao participar de ato político em São Bernardo do Campo,
no ABC paulista, onde o petista
Luiz Marinho disputa a prefeitura da cidade.
Aracruz e Sadia anunciaram
nos últimos dias que sofreram
fortes perdas com operações
cambiais. Procuradas ontem,
elas não quiseram comentar as
declarações de Lula.
A Sadia foi a primeira a reconhecer o prejuízo, de R$ 760
milhões, devido às operações
cambiais que realizou. Na sexta-feira foi a vez de a Aracruz
informar ao mercado que suas
operações cambiais representavam uma perda de R$ 1,95 bilhão -levando em consideração o câmbio do último dia de
setembro, os juros e a volatilidade do mercado.
As companhias exportadoras, como Sadia e Aracruz, costumam realizar operações de
"hedge" para se proteger das
possíveis oscilações cambiais.
Em um período de apreciação do real, como o verificado
até agosto, as exportadoras
buscam proteger suas receitas.
Isso acontece porque, se o dólar
cai, as receitas em moeda estrangeira que as empresas conseguem com suas exportações
acabam por encolher quando
transformadas em real.
Como as empresas não detalharam suas operações cambiais, analistas têm dúvidas sobre o tamanho do impacto que
terão nos balanços.
EUA
Sobre a crise nos EUA, Lula
disse que vai telefonar ao presidente Bush para "prestar solidariedade" e "lhe dar os parabéns pela aprovação" -o pacote de ajuda de US$ 700 bilhões
foi aprovado anteontem pelo
Congresso e já foi sancionado
por Bush. "Foi um sinal do
Congresso dos EUA, que atendeu a um apelo do presidente e
dos dois candidatos [John
McCain e Barack Obama]."
Lula voltou a afirmar que
ainda não sabe se a ajuda bilionária será suficiente para amenizar a crise, uma vez que o "tamanho do rombo" é desconhecido, mas ponderou que o Brasil será pouco afetado.
"Ela [crise] é lá [EUA] um
tsunami, e aqui vai chegar uma
marolinha, que não vai dar nem
para esquiar. Os Estados Unidos deram um rumo ao sistema
financeiro, na agiotagem e no
cassino que foi feito", disse o
presidente Lula.
"[No Brasil] tivemos problemas de crédito e vamos suprir
essa deficiência de falta de dólares no mercado internacional
para financiar as exportações",
continuou o presidente.
O ministro Guido Mantega
(Fazenda), por sua vez, anunciou na semana passada que o
Banco do Brasil antecipará a liberação de R$ 5 bilhões para
atender a demanda do setor
agrícola.
Lula relatou ainda que conversa diariamente com Mantega e Henrique Meirelles, presidente do BC, e afirmou que algumas medidas podem ser tomadas, mas que isso dependerá
do desenrolar da crise.
"O povo pode ficar tranqüilo
que não vai ter pacote", reafirmou. Mas ponderou: "Não podemos ficar olhando de papo
para o ar, chorando e esperando que o Bush resolva a crise".
Greve na GM
Sobre as férias coletivas dadas para funcionários da GM
(General Motors), segundo
anunciado na noite de sexta,
Lula disse acreditar que a medida não está ligada à crise nos
EUA. "Talvez faça parte de uma
estratégia, para no ano que vem
trabalhar a todo o vapor."
A empresa confirmou a paralisação de 20 de outubro a 2 de
novembro para cerca de 2.000
funcionários da unidade de São
José dos Campos e para todos
os 10 mil em São Caetano. Em
Mogi das Cruzes, a medida vai
afetar parte dos cerca de 800
funcionários.
Para o sindicato, as férias coletivas são efeito da desaceleração do mercado e reflexo da crise financeira dos EUA.
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