São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2008

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Lula acusa empresas de especularem

Em carreata em São Bernardo, presidente diz que, por "ganância", empresas especularam contra moeda brasileira

Aracruz e Sadia divulgaram perdas devido à oscilação do câmbio; Lula diz que país tem problema de crédito, mas que vai suprir escassez

ADRIANO CEOLIN
EM SÃO BERNARDO DO CAMPO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que a crise financeira que atinge os EUA é uma das mais graves dos últimos tempos, mas ponderou que as perdas de empresas brasileiras com a oscilação do câmbio informadas nos últimos dias têm outro motivo "condenável": a especulação.
"É importante lembrar que essas empresas, no fundo no fundo, estavam especulando contra a moeda brasileira. Portanto, elas praticaram por conta própria, por ganância, esse prejuízo. É um problema delas, porque especularam de forma pouco recomendável", afirmou Lula, ao participar de ato político em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, onde o petista Luiz Marinho disputa a prefeitura da cidade.
Aracruz e Sadia anunciaram nos últimos dias que sofreram fortes perdas com operações cambiais. Procuradas ontem, elas não quiseram comentar as declarações de Lula.
A Sadia foi a primeira a reconhecer o prejuízo, de R$ 760 milhões, devido às operações cambiais que realizou. Na sexta-feira foi a vez de a Aracruz informar ao mercado que suas operações cambiais representavam uma perda de R$ 1,95 bilhão -levando em consideração o câmbio do último dia de setembro, os juros e a volatilidade do mercado.
As companhias exportadoras, como Sadia e Aracruz, costumam realizar operações de "hedge" para se proteger das possíveis oscilações cambiais.
Em um período de apreciação do real, como o verificado até agosto, as exportadoras buscam proteger suas receitas. Isso acontece porque, se o dólar cai, as receitas em moeda estrangeira que as empresas conseguem com suas exportações acabam por encolher quando transformadas em real.
Como as empresas não detalharam suas operações cambiais, analistas têm dúvidas sobre o tamanho do impacto que terão nos balanços.

EUA
Sobre a crise nos EUA, Lula disse que vai telefonar ao presidente Bush para "prestar solidariedade" e "lhe dar os parabéns pela aprovação" -o pacote de ajuda de US$ 700 bilhões foi aprovado anteontem pelo Congresso e já foi sancionado por Bush. "Foi um sinal do Congresso dos EUA, que atendeu a um apelo do presidente e dos dois candidatos [John McCain e Barack Obama]."
Lula voltou a afirmar que ainda não sabe se a ajuda bilionária será suficiente para amenizar a crise, uma vez que o "tamanho do rombo" é desconhecido, mas ponderou que o Brasil será pouco afetado.
"Ela [crise] é lá [EUA] um tsunami, e aqui vai chegar uma marolinha, que não vai dar nem para esquiar. Os Estados Unidos deram um rumo ao sistema financeiro, na agiotagem e no cassino que foi feito", disse o presidente Lula.
"[No Brasil] tivemos problemas de crédito e vamos suprir essa deficiência de falta de dólares no mercado internacional para financiar as exportações", continuou o presidente.
O ministro Guido Mantega (Fazenda), por sua vez, anunciou na semana passada que o Banco do Brasil antecipará a liberação de R$ 5 bilhões para atender a demanda do setor agrícola.
Lula relatou ainda que conversa diariamente com Mantega e Henrique Meirelles, presidente do BC, e afirmou que algumas medidas podem ser tomadas, mas que isso dependerá do desenrolar da crise.
"O povo pode ficar tranqüilo que não vai ter pacote", reafirmou. Mas ponderou: "Não podemos ficar olhando de papo para o ar, chorando e esperando que o Bush resolva a crise".

Greve na GM
Sobre as férias coletivas dadas para funcionários da GM (General Motors), segundo anunciado na noite de sexta, Lula disse acreditar que a medida não está ligada à crise nos EUA. "Talvez faça parte de uma estratégia, para no ano que vem trabalhar a todo o vapor."
A empresa confirmou a paralisação de 20 de outubro a 2 de novembro para cerca de 2.000 funcionários da unidade de São José dos Campos e para todos os 10 mil em São Caetano. Em Mogi das Cruzes, a medida vai afetar parte dos cerca de 800 funcionários.
Para o sindicato, as férias coletivas são efeito da desaceleração do mercado e reflexo da crise financeira dos EUA.


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