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São Paulo, quarta-feira, 05 de novembro de 2003

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ETERNO REGRESSO

Presidente pede acerto que favoreça crescimento econômico

Lula quer acordo de olho em 2006

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O novo acordo com o FMI é o primeiro negociado pelo PT, um antigo crítico do Fundo Monetário Internacional. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) um acordo que favoreça o crescimento econômico.
O governo vê o novo acerto com o FMI como ponte para atravessar 2004 sem sobressaltos e pavimentar o caminho para uma maior taxa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2005 e em 2006, os dois últimos anos do mandato de Lula. E, assim, facilitar a reeleição de Lula.
Desde a campanha eleitoral de 2002, o PT vem suavizando seu histórico de críticas ao Fundo. Em 1998, o então candidato Lula disse: "O FMI não existe para ajudar o país ou ajudar o povo. Existe para ajudar os credores e impor ajustes fiscais".
Em junho de 2002, ocorreu a guinada. Na "Carta ao Povo Brasileiro", documento lançado para acalmar os temores em relação ao PT, o mesmo candidato Lula disse que honraria contratos e que faria o superávit primário (economia do setor público para pagamento de juros) necessário. Foi o primeiro recado ao Fundo, reforçado em julho do mesmo ano pela viagem a Washington do chefe da campanha petista, o hoje ministro José Dirceu (Casa Civil). Dirceu esteve com o FMI, o Bird (Banco Mundial) e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para tranquilizá-los.
Em agosto de 2002, o então presidente Fernando Henrique Cardoso reuniu os quatro principais candidatos à sua sucessão para obter apoio a um acordo de US$ 30 bilhões com o FMI.
Lula saiu do gabinete de FHC dizendo que honraria contratos, controlaria a inflação e usaria o rigor fiscal necessário. No poder, cumpriu o prometido com folga, como mostra o superávit primário de 5,08% do PIB acumulado até setembro para o setor público. A meta é de 4,25% do PIB no ano.
Como aluno disciplinado, Lula espera do FMI um reconhecimento. Apesar das dificuldades de comparação, deseja um acordo que possa ser vendido como melhor do que o da Argentina. O país vizinho peitou o FMI e obteve vantagens. Lula também sonha com um acerto que também possa ser vendido como melhor do que os feitos por FHC.
Nesse contexto, esteve na mesa de negociação um acordo entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões, envolvendo flexibilização do superávit primário, como deseja o PT desde a fase de transição.
Nesta semana, fica claro se o FMI reconhecerá o bom desempenho do aluno Lula, flexibilizando o superávit e lhe dando espaço para gastos sociais e em infra-estrutura ou se prevalecerá um acerto pragmático, de olho no dinheiro barato do Fundo. Nessa hipótese, uma pequena soma de dinheiro novo, aliada aos US$ 8 bilhões da última parcela do atual acordo, criaria o colchão de reservas que o mercado quer para neutralizar eventuais crises externas.


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