São Paulo, terça-feira, 05 de dezembro de 2000 |
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LUÍS NASSIF O projeto "Echelon" Semanas atrás, em uma coluna sobre a Abin, mencionei de passagem o projeto "Echelon", de espionagem industrial. Segundo informações veiculadas no Canadá, um dos alvos seria a empresa brasileira Embraer. A menção visava reforçar a idéia sobre a importância de ter um serviço de inteligência estratégica, sem arapongas, mas com especialistas em novas tecnologias e em sistemas estratégicos. A propósito da coluna, recebi material publicado na revista gaúcha "Amanhã", no qual o autor, James Görgen, esmiuça o "Echelon" a partir de trabalhos do jornalista britânico Duncan Campbell. Pai do "Echelon", o "Project P415" foi preparado inicialmente pelas agências de inteligência de cinco países -Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia- logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de monitorar as comunicações entre a União Soviética e seus aliados. Com o fim do império soviético, esses serviços se viram sem argumentos para preservar suas fontes de receita -verbas orçamentárias bilionárias, dos tempos da "guerra fria". Decidiram então adaptar o projeto para monitorar as "comunicações civis" do século 21. Em 1996, o investigador neozelandês Nicky Hager lançou o livro "Poder Secreto. A posição da Nova Zelândia na rede de espionagem internacional", onde avançava nas suspeitas de que o projeto invadia a privacidade dos cidadãos comuns e das empresas. Em 1999, o Parlamento Europeu decidiu encomendar um relatório para subsidiar investigações a respeito do tema. Preparado por Campbell, o relatório demonstrava que, em tese, o sistema era capaz de monitorar o conteúdo de ligações telefônicas, e-mail, fax ou pacotes de transmissão de dados. Permaneceu sem esclarecimento a questão do destino dessas informações e da razão para o projeto permanecer secreto. De acordo com o relatório, o sistema central do "Echelon" fica em Fort Meade, ao nordeste da cidade de Washington, onde funciona a National Security Agency (NSA), a agência de segurança nacional do Departamento de Defesa dos EUA. A partir de lá são controladas as bases de Yakima (200 quilômetros a sudoeste de Seattle), Sugar Grove (250 quilômetros a sudoeste de Washington), Morwenstow (Cornualha britânica), Waihopai (Nova Zelândia) e Geraldton (oeste da Austrália). Um segundo eixo relevante está em Menwith Hill, Inglaterra, que monitora o fluxo de informações dos satélites Intelsat. Antigamente os 52 sistemas trabalhavam isoladamente. Nos anos 80 foi criado o "Platform", um sistema integrador. A estrutura toda passou a ser denominada de United States Sigint System (USSS). Criado nos anos 70, o "Echelon" consiste de uma rede capaz de filtrar e ordenar informações a partir de palavras-chave, assim como esses sistemas de busca utilizados para rastrear informações na Internet. Em reportagem de 25 de julho deste ano, Campbell informa que um sistema de coleta pode gerar 1 milhão de entradas a cada meia hora. Cerca de 6.500 entradas são jogadas fora pelos filtros, mil são separadas pelos critérios, dez são selecionadas pelos analistas e apenas um relatório é produzido. Segundo o jornalista, em 1995 a empresa francesa Thomson, que participava da licitação para o Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), denunciou que o Brasil estaria sendo alvo dessa rede de espionagem. A empresa norte-americana Raytheon teria se valido de informações privilegiadas da Thomson obtidas por meio do USSS para vencer a concorrência feita sem licitação. Tudo pode não passar de teoria conspiratória. Sem um serviço de inteligência competente, como saber? Internet: www.dinheirovivo.com.br E-mail: lnassif@uol.com.br Texto Anterior: Fundo aconselha Coréia a seguir com reforma Próximo Texto: Privatização: Petrobras descarta disputar Copene em leilão do dia 14 Índice |
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