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Construção prevê expansão recorde, apesar de gargalos
Setor projeta o maior ritmo de crescimento desde o Milagre Econômico, nos anos 70
Previsão de alta de 14% pode ser comprometida pela falta de terrenos, cimento, aço e mão-de-obra com maior qualificação
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A construção civil, setor que
emprega 1,75 milhão de trabalhadores formais, vive o seu
melhor momento no país desde
os anos 70, mas seu crescimento já esbarra em gargalos como
a escassez e o aumento de preços de terrenos, cimento, aço e
equipamentos, além da falta de
profissionais qualificados.
Sustentado pelo crescimento
da economia, pelo aumento da
renda e pela expansão do crédito, o chamado PIB da construção civil deve fechar o ano com
crescimento entre 7,9% e 9,3%
-melhor desempenho desde
1986, época do Plano Cruzado,
segundo o Sinduscon-SP, sindicato das construtoras.
Com base nas contratações
hoje de insumos e equipamentos, o Sinduscon-SP já prevê
um crescimento para 2008 entre 10,2% e 14%, mesmo ritmo
verificado à época do Milagre
Econômico, nos anos 70. À época, a construção crescia em média 14% ao ano e o BNH (Banco
Nacional de Habitação) fazia
400 mil financiamentos ao ano.
Hoje, o mercado imobiliário
comemora a liberação de 155,8
mil financiamentos com recursos da poupança de janeiro a setembro deste ano, 69,3% superior ao registrado no mesmo
período de 2006. O valor financiado atingiu R$ 14,6 bilhões,
alta de 87% em relação a 2006.
O Sinduscon-SP e o Secovi
(sindicato da construção) rejeitam o rótulo de boom e falam
que a indústria passa por um
"novo patamar de crescimento
sustentável" após anos de estagnação. "O Brasil sucateou a
construção civil por 20 anos. O
desafio é crescer para a baixa
renda e erradicar o déficit habitacional. Até 2020, o déficit pode subir de 7,9 milhões para 9,5
milhões de residências", disse
João Claudio Robusti, presidente do Sinduscon-SP.
Além do aumento do financiamento, as grandes construtoras também ampliaram seu
caixa para investimentos por
meio de abertura de capital na
Bolsa. Só neste ano, 12 empresas captaram cerca de R$ 8 bilhões com o lançamento de
ações, segundo o Sinduscon.
Para o vice-presidente do Secovi, Alberto Du Plessis, as vendas de imóveis crescem em ritmo superior aos lançamentos
em São Paulo. No ano, até setembro, foram lançados 21.666
imóveis na cidade, enquanto as
vendas ficaram em 24.249, segundo consultoria imobiliária
Embraesp. "O mercado está
vendendo mais do que está lançando. Está diminuindo o estoque de imóveis disponíveis para venda. O mercado de alto padrão não está tão líquido. Há
uma nítida tendência de venda
para renda menor", disse.
O nível de emprego na construção civil cresceu 7,4% de janeiro a setembro, em relação a
2006. Segundo as construtoras,
começam a faltar engenheiros
e projetistas, e ficam cada vez
mais disputados profissionais
qualificados, como mestre-de-obras, eletricistas e encanadores, entre outros. Para enfrentar o problema, as construtoras
foram buscar profissionais em
escolas técnicas e também
abriram cursos para seus funcionários, segundo Robusti.
As compras de aços vergalhões longos subiram 12,2%, e
as de cimento, 8,4% no ano até
setembro ante 2006. Na indústria, faltam gruas, guindastes,
equipamentos para escoramento e elevadores de obra. O
abastecimento das construtoras preocupa tanto que a indústria cogita recorrer a importados caso os preços do aço e do
cimento subam mais. Em um
ano, o saco de cimento subiu
20,5%. Só em novembro, o bloco de concreto teve alta de
7,69%. "No caso do cimento já
estamos próximos disso [da importação]", disse Eduardo Zaidan, diretor do Sinduscon.
"Um insumo que está faltando é terreno, mas o maior gargalo é de recursos humanos. Insumo você pode importar ou
substituir", disse Plessis.
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