São Paulo, quarta-feira, 05 de dezembro de 2007

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Construção prevê expansão recorde, apesar de gargalos

Setor projeta o maior ritmo de crescimento desde o Milagre Econômico, nos anos 70

Previsão de alta de 14% pode ser comprometida pela falta de terrenos, cimento, aço e mão-de-obra com maior qualificação

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

A construção civil, setor que emprega 1,75 milhão de trabalhadores formais, vive o seu melhor momento no país desde os anos 70, mas seu crescimento já esbarra em gargalos como a escassez e o aumento de preços de terrenos, cimento, aço e equipamentos, além da falta de profissionais qualificados.
Sustentado pelo crescimento da economia, pelo aumento da renda e pela expansão do crédito, o chamado PIB da construção civil deve fechar o ano com crescimento entre 7,9% e 9,3% -melhor desempenho desde 1986, época do Plano Cruzado, segundo o Sinduscon-SP, sindicato das construtoras.
Com base nas contratações hoje de insumos e equipamentos, o Sinduscon-SP já prevê um crescimento para 2008 entre 10,2% e 14%, mesmo ritmo verificado à época do Milagre Econômico, nos anos 70. À época, a construção crescia em média 14% ao ano e o BNH (Banco Nacional de Habitação) fazia 400 mil financiamentos ao ano.
Hoje, o mercado imobiliário comemora a liberação de 155,8 mil financiamentos com recursos da poupança de janeiro a setembro deste ano, 69,3% superior ao registrado no mesmo período de 2006. O valor financiado atingiu R$ 14,6 bilhões, alta de 87% em relação a 2006.
O Sinduscon-SP e o Secovi (sindicato da construção) rejeitam o rótulo de boom e falam que a indústria passa por um "novo patamar de crescimento sustentável" após anos de estagnação. "O Brasil sucateou a construção civil por 20 anos. O desafio é crescer para a baixa renda e erradicar o déficit habitacional. Até 2020, o déficit pode subir de 7,9 milhões para 9,5 milhões de residências", disse João Claudio Robusti, presidente do Sinduscon-SP.
Além do aumento do financiamento, as grandes construtoras também ampliaram seu caixa para investimentos por meio de abertura de capital na Bolsa. Só neste ano, 12 empresas captaram cerca de R$ 8 bilhões com o lançamento de ações, segundo o Sinduscon.
Para o vice-presidente do Secovi, Alberto Du Plessis, as vendas de imóveis crescem em ritmo superior aos lançamentos em São Paulo. No ano, até setembro, foram lançados 21.666 imóveis na cidade, enquanto as vendas ficaram em 24.249, segundo consultoria imobiliária Embraesp. "O mercado está vendendo mais do que está lançando. Está diminuindo o estoque de imóveis disponíveis para venda. O mercado de alto padrão não está tão líquido. Há uma nítida tendência de venda para renda menor", disse.
O nível de emprego na construção civil cresceu 7,4% de janeiro a setembro, em relação a 2006. Segundo as construtoras, começam a faltar engenheiros e projetistas, e ficam cada vez mais disputados profissionais qualificados, como mestre-de-obras, eletricistas e encanadores, entre outros. Para enfrentar o problema, as construtoras foram buscar profissionais em escolas técnicas e também abriram cursos para seus funcionários, segundo Robusti.
As compras de aços vergalhões longos subiram 12,2%, e as de cimento, 8,4% no ano até setembro ante 2006. Na indústria, faltam gruas, guindastes, equipamentos para escoramento e elevadores de obra. O abastecimento das construtoras preocupa tanto que a indústria cogita recorrer a importados caso os preços do aço e do cimento subam mais. Em um ano, o saco de cimento subiu 20,5%. Só em novembro, o bloco de concreto teve alta de 7,69%. "No caso do cimento já estamos próximos disso [da importação]", disse Eduardo Zaidan, diretor do Sinduscon.
"Um insumo que está faltando é terreno, mas o maior gargalo é de recursos humanos. Insumo você pode importar ou substituir", disse Plessis.


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