São Paulo, sexta-feira, 05 de dezembro de 2008

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Dólar sobe 9,5% na semana e vai a R$ 2,53

Diante da força da alta, BC reduz intervenções, que já chegam a US$ 50 bi; moeda americana já subiu 42% neste ano

Aumento da saída de dólares e posição de especuladores na BM&F dificultam a estabilização do mercado de câmbio

Alan Marques/Folha Imagem
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em palestra no TRE-DF; autoridade monetária reduz ação sobre o câmbio

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em um período de forte saída de recursos do país, o dólar marcou ontem sua mais elevada cotação desde abril de 2005.
No que foi seu sexto dia consecutivo de alta, a moeda alcançou R$ 2,536, após subir 2,46%.
A valorização do dólar na semana já chega a 9,55%. No ano, está em 42,71%.
Com o crescente fluxo negativo de recursos -mais dólares têm saído do país do que entrado-, o real não encontra meios para se recuperar.
As intervenções do Banco Central no câmbio, que superam os US$ 50 bilhões, não têm sido suficientes para trazer a moeda brasileira de volta a seus maiores patamares.
E, diante de uma pressão que não arrefece, o BC tem optado por diminuir a intensidade de sua intervenções. Nesta semana, interveio no mercado apenas na quarta-feira.
"O fluxo está muito fraco, com uma entrada bastante pequena de dólares no país. Não podemos esquecer que o câmbio é um preço e reflete o momento", diz Ricardo Rocha, professor de finanças do Ibmec/São Paulo. "O câmbio vai ficar pressionado ainda por algum tempo e, no atual cenário, não haveria sentido o BC sair queimando reservas na tentativa de segurar as cotações", avalia Rocha.
Na quarta-feira, o Banco Central divulgou que o fluxo cambial de novembro ficou negativo em US$ 7,159 bilhões, sendo esse o pior resultado mensal desde janeiro de 1999.
O real também tem perdido valor diante de outras moedas, além do dólar. Desde meados de setembro, quando da quebra do banco americano Lehman Brothers que agudizou a crise global, o iene se apreciou em 57% (considerando a cotação oficial do BC de quarta-feira) diante do real, enquanto o euro ganhou 20,36%, e a libra britânica, 11%. Já o dólar subiu 35,19% nesse período.
Como o real estava muito apreciado quando o mercado piorou, acabou sentindo mais o impacto da crise do que outras moedas. No dia 1º de agosto, o dólar fechou a R$ 1,559, em sua mais baixa cotação desde a liberação do câmbio promovida pelo governo FHC, no dia 15 de janeiro de 1999. Desde o piso registrado em agosto, a moeda americana subiu 62,7%.
"O câmbio não vai retornar para os R$ 2 tão cedo", afirma José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. "Ainda temos visto no mercado muitas compras para ajustar os balanços ou destinadas ao envio de recursos para fora."
Na última pesquisa semanal feita pelo BC junto ao mercado financeiro -a próxima será divulgada na segunda-feira-, a previsão é de que o dólar seja negociado a R$ 2,20 no fim de 2008. Segundo avaliação de profissionais do mercado, a demanda por dólares deve se arrefecer após o dia 20, dando chances para que o real ganhe um pouco de valor.
"Não acho absurdo esperar que o dólar se aproxime dessa expectativa do mercado até o fim do ano", afirma Rocha.
A fuga de recursos dos investidores estrangeiros do pregão da Bolsa de Valores de São Paulo tem colaborado para manter o dólar em níveis tão elevados.
Desde junho, os estrangeiros mais têm vendido que comprado ações na Bovespa. O resultado disso é a saída de mais de R$ 27 bilhões líquidos do pregão local no ano -o que faz de 2008 o pior ano para a Bolsa nesse quesito. Apenas nos dois primeiros pregões deste mês, R$ 2,94 bilhões saíram.
No mercado futuro, os estrangeiros têm elevado suas apostas no dólar apreciado, sendo esse mais um fator importante de pressão sobre a cotação da moeda.


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