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Com crise, governo deve adiar a capitalização da Petrobras
Dilma diz que capitalização é necessária, mas comissão deve segurar proposta
Ministra diz que projeto de nova Lei do Petróleo será enviado ao Congresso em 2009 e que principais decisões já estão tomadas
KENNEDY ALENCAR
LEANDRA PERES
SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com a queda no preço internacional do petróleo, a comissão interministerial encarregada de propor novas regras de
exploração do pré-sal vai sugerir ao presidente Luiz Inácio
Lula da Silva que adie ou modifique o plano de capitalização
da Petrobras. A medida é reivindicada pelo presidente da
estatal, José Sergio Gabrielli.
Em evento ontem com sindicalistas, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse que o
governo enviará uma nova proposta de Lei do Petróleo ao
Congresso só no ano que vem.
Ela confirmou que "há discussão de capitalização da Petrobras para aumentar a participação do governo". E emendou:
"Mas não se pode discutir isso
publicamente por causa da
CVM [Comissão de Valores
Mobiliários]".
Segundo ela, o aumento da
participação da União na Petrobras é importante para a
criação de um fundo específico
do país com recursos do pré-sal. Ela disse que esse fundo
"não dá para ser [constituído]
pelo sistema que existe hoje". A
Folha participou da parte reservada da reunião de Dilma
com sindicalistas.
A ministra afirmou que as
decisões genéricas relacionadas à exploração do pré-sal estão praticamente finalizadas,
mas que "o envio de projeto de
lei ao Congresso contendo medidas normativas e complementares ao marco regulatório
para exploração do petróleo ficarão para 2009".
A forma como a Petrobras está constituída, disse ela, não
permite que o governo tenha
uma participação majoritária
no bolo de recursos provenientes do petróleo do pré-sal. "Na
Petrobras, o governo tem 30%,
enquanto 60% são dividendos
em Nova York. O governo tem
dúvida de como estruturar esse
novo marco regulatório, mas
achamos que é uma boa luta."
Para ela, a discussão hoje,
com a descoberta de petróleo
na camada pré-sal, não é mais
só de ficar com as reservas porque estão em solo brasileiro.
"Tudo o que está no solo ou
subsolo é reserva da União, mas
no sistema de concessão, o petróleo, quando sai da boca do
poço, passa a ser de quem tirou.
Agora, parte importante de todo o petróleo que sai da boca do
poço tem que ficar com o governo", disse.
A comissão interministerial
deverá se reunir com Lula na
semana que vem para oficializar a proposta de uma nova Lei
do Petróleo. Sugerido por Gabrielli, o plano de capitalização
foi visto por Lula como uma
forma de prestigiar a Petrobras,
que perderá poder com as novas regras de exploração.
Quando foi discutida inicialmente no grupo interministerial, o preço do barril de petróleo estava na casa dos US$ 120.
Agora, no patamar de US$ 45 o
barril, a idéia deverá ser adiada
ou modificada, segundo apurou
a Folha. Por estar a cerca de
7.000 metros de profundidade,
o custo de extração de petróleo
no pré-sal é muito alto.
Pela proposta da Petrobras, a
capitalização viria da entrega
de campos do pré-sal ainda não
licitados em áreas nas quais a
estatal já tem poços do pré-sal.
A União daria esses campos em
troca de aumento no capital da
estatal (mais ações),
Com a queda no preço do petróleo, essa operação é vista pela comissão como inoportuna.
A União entregaria mais óleo
por menor participação, mesmo levando em conta que houve uma queda no preço das
ações da Petrobras com a agudização da crise econômica.
Um auxiliar de Lula diz que a
crise econômica internacional
afetou a definição dos planos
de exploração. No entanto, argumenta que o início da exploração do pré-sal em larga escala
demorará mais quatro ou cinco
anos e, até lá, a crise já terá se
dissipado.
Segundo esse auxiliar, Lula
acha importante definir as regras de exploração do pré-sal
em seu mandato. O governo
tem interesse político em carimbar o pré-sal como uma
"obra" lulista e avalia que a exploração demandará um planejamento muito antecipado.
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