São Paulo, sábado, 05 de dezembro de 2009

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China planeja bases industriais na África

País discute com o Banco Mundial espécie de "Plano Marshall chinês" para incentivar a incipiente indústria subsaariana

Funcionários do governo chinês temem, porém, que relacionamento do país com a África seja visto como uma nova forma de colonialismo

JAMES LAMONT
GEOFF DYER
DO "FINANCIAL TIMES"

O Banco Mundial e Pequim estão discutindo a construção de fábricas de baixo custo em novas zonas industriais na África, a fim de ajudar o continente a desenvolver uma base industrial e reverter o declínio em sua participação no comércio mundial.
Roberto Zoellick, o presidente do Banco Mundial, declarou que Pequim havia demonstrado "forte interesse" pelas propostas de estabelecer bases industriais a fim de ajudar os países africanos a seguir caminhos de alto crescimento, como os dos países da Ásia.
"Existe não apenas disposição mas forte interesse entre alguns de nossos contatos na China, e discuti com Chen Deming, o ministro do Comércio, a possibilidade de transferir algumas das instalações manufatureiras de menor valor, como brinquedos ou calçados, para a África subsaariana", afirmou Zoellick ao "Financial Times".
Funcionários e estudiosos chineses vêm debatendo propostas de usar parte das vastas reservas cambiais do país a fim de estimular a demanda nos países em desenvolvimento -ideias que ocasionalmente são definidas como "o Plano Marshall chinês".
No mês passado, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, prometeu US$ 10 bilhões em empréstimos a baixos juros, durante os próximos três anos, o fim das tarifas sobre 60% das exportações dos países mais pobres e perdão das dívidas de diversas nações.
Os empréstimos de Pequim a governos não incluem as cláusulas políticas usuais em empréstimos ocidentais, e com isso atraíram críticas por ajudarem regimes impopulares a manter o poder.
Alguns líderes africanos temem a competição chinesa em áreas como os sapatos e produtos têxteis, que pode estar solapando a frágil base industrial africana. Funcionários do governo chinês também se preocupam com a possibilidade de que seu relacionamento com a África seja visto como uma nova forma de colonialismo.
Zoellick disse que os países africanos precisavam criar infraestrutura, sistemas de energia, transporte e serviços alfandegárias eficientes, que atraiam investimentos chineses transformadores.
"Alguns desses setores industriais chineses têm o benefício de um conhecimento profundo sobre produção com uso intensivo de mão de obra, e eles contam com as redes de marketing, que sempre representam um desafio no início de uma operação", disse Zoellick, antigo secretário-assistente de Estado e ex-representante do governo norte-americano para comércio internacional.
Mas qualquer plano de transferir produção à África que vá além do plano simbólico deve encontrar resistência. Pequim vem resistindo à crescente pressão internacional pela valorização de sua moeda em parte devido ao medo de perdas de empregos entre exportadores.
Os governos no interior do país também estão desesperados por atrair empregos aos seus territórios, à medida que crescem os custos de mão de obra nas regiões costeiras.
Além disso, a principal motivação para um "Plano Marshall" chinês vem sendo a de criar novas fontes de demanda para as fábricas da China, e não transferir sua produção ao exterior. O Ministério do Comércio, em Pequim, recusou-se a comentar.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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