São Paulo, sábado, 05 de dezembro de 2009

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GIGANTE DO VAREJO

Grupo Pão de Açúcar adquire o controle da Casas Bahia

União dos dois gigantes do varejo cria o maior empregador privado do país

Concorrentes temem concentração em eletrônicos, principalmente em SP; para Diniz, todos saem ganhando com negócio

Marlene Bergamo/Folha Imagem
Michael Klein (esq.), da Casas Bahia, e Abilio Diniz, do Pão de Açúcar, em entrevista em SP

MARIANA BARBOSA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Pão de Açúcar adquiriu ontem o controle da Casas Bahia, em uma transação que não envolveu desembolso de dinheiro. A operação, que depende de aprovação dos órgãos de defesa da concorrência, transforma o grupo na quinta maior empresa do país em faturamento bruto, com R$ 40 bilhões. Perde apenas para Petrobras, Vale, Gerdau e AmBev.
O Pão de Açúcar, cocontrolado pelo grupo francês Casino, transforma-se no maior empregador privado do Brasil, com 137 mil funcionários.
O negócio ocorre num momento de aceleração de fusões e emergência de grandes grupos econômicos no Brasil e em que a alta da renda e do emprego impulsiona o varejo.
Ele reforça a atuação do grupo Pão de Açúcar no segmento de bens duráveis (móveis, eletrônicos e linha branca) e amplia sua presença junto ao consumidor de baixa renda. Com a forte presença da Casas Bahia em São Paulo, concorrentes temem que a concentração em eletrônicos possa chegar a 70% no Estado.
"Essa é uma operação em que todos ganham", declarou o presidente do Conselho de Administração do Pão de Açúcar, Abilio Diniz. "Somos originários de alimentação, estamos crescendo em não alimentos. A Casas Bahia é uma grande oportunidade para nós, e essa é também uma grande oportunidade para eles", afirmou.
O acordo foi fechado verbalmente no dia 23 de novembro, mas a assinatura aconteceu apenas ontem, às 6h.
Pão de Açúcar e Casas Bahia se tornaram sócios em uma nova empresa, que será dona da Globex, rede de bens duráveis que hoje é subsidiária integral do Grupo Pão de Açúcar e dona da rede Ponto Frio. Para ficar com o controle (51%) da nova empresa, o Pão de Açúcar entrou com a rede Ponto Frio, avaliada na operação em R$ 1,23 bilhão, e com a rede Extra Eletro, avaliada em R$ 120 milhões.
A Casas Bahia entrou com ativos e passivos operacionais, incluindo 25% da fábrica de móveis Bartira e uma dívida líquida de curto prazo no valor de R$ 950 milhões. Já contabilizada a dívida, a parte da Casas Bahia (49%) foi avaliada em R$ 1,290 bilhão. A nova empresa nasce avaliada em R$ 2,6 bilhões. Não entraram na operação, permanecendo com a família Klein, a propriedade dos imóveis (lojas) e dos centros de distribuição, 75% da Bartira e mais quase R$ 1 bilhão em créditos recebíveis.
A família Klein vai receber pelos aluguéis das 513 lojas por um prazo de dez anos prorrogável por mais dez (que renderão R$ 130 milhões/ano) e também ficou com um contrato de fornecimento de móveis por três anos, uma conta de R$ 18 milhões/ano. A conclusão da operação deve levar seis meses. A Globex é listada na Bovespa, mas só 4,5% de seu capital é negociado em pregão; destes, cerca de 70% pertencem à Fundação Pão de Açúcar. A empresa fez uma oferta de aquisição dessas ações para poder estruturar a operação. A empresa continuará listada na Bovespa.
A expectativa é que faça uma oferta pública de ações, que não deve acontecer antes de 2011.

Iniciativa de Diniz
As conversas duraram menos de três meses e começaram por iniciativa de Diniz. "Eu liguei para o Michael [Klein] e fiz a proposta", afirmou.
Segundo o presidente do Pão de Açúcar, Cláudio Galeazzi, a velocidade com que o negócio foi feito tem a ver com o "momento de forte crescimento do Brasil".
Para Pércio Souza, sócio-fundador da consultoria Estater, que coordenou as conversas entre as duas partes, o negócio pode ser considerado uma evolução. "No mundo todo, há uma tendência de consolidação. Com isso, a empresa se fortalece e pode praticar preços melhores", disse.
Segundo Diniz, a integração da Casas Bahia deve seguir o exemplo da incorporação da rede de atacado e varejo Assai, adquirida pelo Pão de Açúcar há dois anos. O fundador do Assai, Rodolfo Nagai, permaneceu um ano e meio na gestão.
Michael Klein ficará na presidência do Conselho de Administração da nova empresa, e seu filho Raphael Klein será o presidente-executivo, com mandato de dois anos.
O Conselho de Administração terá nove integrantes, cinco indicados pelo Pão de Açúcar e quatro pela Casas Bahia. Pelo acordo, os donos da Casas Bahia não poderão se desfazer das ações pelo prazo de 12 meses. A partir desse prazo, eles poderão vender parte das ações progressivamente, chegando a 100% a partir do sexto ano. Já o Grupo Pão de Açúcar pode vender ações a partir do terceiro ano.


Com PAULO ARAÚJO , colaboração para a Folha


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