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APLICAÇÕES
Ao final do ano passado, fundos tinham patrimônio líquido de R$ 341 bilhões, o menor volume desde 1999
Fundos de investimento perdem R$ 60 bi
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os fundos de investimento encerraram a era Fernando Henrique Cardoso com um tombo
nunca antes registrado. Os saques
superaram as aplicações em mais
de R$ 60 bilhões durante o ano
passado.
O rombo no patrimônio dos
fundos começou no fim de maio,
quando o governo mudou as regras de contabilização dos papéis
que compõem suas carteiras. O
medo da possibilidade de perda
de rentabilidade, principalmente
nos fundos DI e de renda fixa, fez
os investidores sacarem seus recursos como nunca tinha acontecido antes.
Como DI e renda fixa representam juntos mais de 60% do patrimônio total dos fundos, o estrago
estava feito. Entre dezembro de
2001 e o final de 2002, o patrimônio líquido dos fundos de investimento encolheu R$ 83 bilhões,
como mostram dados da Anbid
(Associação Nacional dos Bancos
de Investimento).
A marcação a mercado obrigou
os gestores dos fundos a contabilizarem os ativos das carteiras dos
fundos pelo valor de mercado. Isso representou perda de aproximadamente 20% do patrimônio
total dos fundos, que chegou ao final do ano passado com R$ 341 bilhões, menor volume desde 99.
Em março do ano passado, antes das mudanças nas regras, os
fundos chegaram a ter patrimônio de R$ 443 bilhões.
Nos três piores meses enfrentados pelos fundos (junho, julho e
agosto), a captação líquida -diferença entre resgates e aplicações- ficou negativa em R$ 51
bilhões.
Bom para a poupança
Boa parte deste dinheiro foi direcionado para a caderneta de
poupança e os CDBs (Certificados
de Depósito Bancário).
Em junho, a poupança teve captação recorde. Os depósitos superaram os saques em R$ 5,29 bilhões -maior saldo desde a criação da poupança, em 1966.
Apesar de a expectativa de rentabilidade ser menor, a segurança
da caderneta de poupança atraiu
os investidores.
Essa aplicação conta com a cobertura do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), que funciona como uma espécie de seguro. Caso a
instituição financeira onde o poupador mantém sua conta quebre,
o FGC garante o depósito, em um
limite de até R$ 20 mil.
Na opinião de Eduardo Fornazier, gestor da Santos Asset Management, o pior momento para os
fundos já passou. "Todo esse dinheiro que fugiu dos fundos de
investimento no ano passado vai
voltar gradativamente. Os fundos
são as aplicações mais rentáveis
do mercado. Não há motivo para
os investidores deixarem de apostar neles."
Parte do dinheiro que saiu dos
fundos no ano passado foi direcionada para a compra de ouro,
ativo procurado em épocas de incerteza. Outra parte, porém menor, foi direcionada para a compra de imóveis -ativo considerado seguro, mas com pouca liquidez.
Dias melhores
Para José Alberto Tovar, sócio-diretor da Arx Capital Management, a recuperação dos fundos
de investimento já começou em
dezembro e deve seguir nos próximos meses.
"O investidor já absorveu o
trauma da marcação a mercado. É
importante lembrar que mesmo
com a marcação a mercado os
fundos DI deram muito mais
[rentabilidade] do que a poupança no ano passado", afirma Tovar.
Após o susto de junho, quando
o imbróglio da marcação a mercado fez a rentabilidade média
dos fundos DI ser de apenas
0,40% no mês, o retorno desse tipo de aplicação começou a se recuperar. No ano passado os fundos DI renderam, na média,
19,12%. Já a caderneta de poupança pagou apenas 9,14% em 2002.
Rentabilidade maior
A alta dos juros nos últimos meses fez os fundos DI se tornarem
mais atrativos e, com isso, os investidores começam a voltar a
aplicar seus recursos neles.
Em dezembro, a captação dos
fundos DI chegou ao dia 30 positiva em R$ 1,4 bilhão, segundo dados do site Fortuna. Desde fevereiro, os fundos DI tinham fechado todos os meses com captação
negativa.
Por enquanto, a expectativa do
mercado é que os juros básicos
-hoje em 25% ao ano- se mantenham nos patamares atuais no
médio prazo. As projeções dos
contratos DI -que consideram
os juros interbancários- na Bolsa de Mercadorias & Futuros
(BM&F) para julho deste ano são
de 26,8% anuais.
Isso é positivo para os fundos DI
e renda fixa, que têm como principal referência os juros básicos.
Quanto mais altas estão essas taxas, maior é a rentabilidade dessas aplicações.
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