São Paulo, segunda-feira, 06 de janeiro de 2003

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ANÁLISE

As coisas só podem melhorar na América Latina

MARK MULLIGAN
DO "FINANCIAL TIMES"

Enquanto os investidores no mercado de ações latino-americanas reviram os destroços de 2002, seu principal alívio para este ano é que seria difícil as coisas piorarem muito.
Como se não bastassem a fraqueza econômica global, o estouro das bolhas financeiras e os escândalos corporativos nos Estados Unidos, para não falar do espectro da guerra, a América Latina teve sua própria lista de calamidades que a deixaram agonizante no final das tabelas de desempenho do ano passado.
O calote da dívida e os controles bancários na Argentina, o nervosismo do mercado no Brasil e o caos político na Venezuela se somaram para provocar uma venda em massa de papéis e liquidação de ativos financeiros por parte das instituições locais e dos fundos estrangeiros por volta da metade do ano. Mas os analistas esperam que uma fraca recuperação no quarto trimestre aponte para um 2003 mais luminoso.

Recuperação frágil
Depois de perder cerca de 35% até outubro, o índice latino-americano MSCI se recuperou e, no final de dezembro, ficou em cerca de menos 25% no ano. O resultado foi apenas ligeiramente pior do que o das Bolsas norte-americanas, mas muito abaixo dos índices asiáticos (exceto o Japão) e da queda de 8% no índice amplo MSCI de mercados emergentes.
Apesar de um surto de negociação nominal -apelidado de "recuperação tóxica" pelo banco UBS Warburg-, a forte desvalorização na Argentina fez de Buenos Aires o mercado mais atingido em termos de dólares, ficando abaixo do parâmetro regional pelo sétimo ano consecutivo.
São Paulo também teve um ano difícil, com o índice MSCI Brasil em queda de 40% em 2002. O principal índice Bovespa fechou 2002 com redução de 50% em termos de dólares.
Descontando o mercado peso leve peruano, o México teve novamente a melhor atuação. Analistas dizem que sua estreita associação com a economia e o sentimento norte-americanos deverão fazer novamente do México um foco de interesse dos investidores neste ano, juntamente com o mercado brasileiro.
A maioria dos especialistas está dividindo este ano em dois, com a primeira parte de 2003 incluindo uma guerra entre os Estados Unidos e o Iraque. "Isso levará a mais uma rodada de aversão ao risco, na qual a América Latina obviamente não se sairá muito bem", diz Geoffrey Dennis, chefe de pesquisa de valores na América Latina para o Salomon Smith Barney.
"No entanto, supondo que a guerra acabe rapidamente, esperamos que os investidores comecem a se concentrar na recuperação econômica. Isso deverá favorecer os mercados emergentes."
A maioria dos analistas tempera suas previsões com extrema cautela. Com tanta incerteza global, os fluxos de capital para a América Latina -que atingiram seu ponto mais baixo desde a "década perdida" de 80- talvez só se recuperem no final do ano.
No entanto há claros sinais de uma leve recuperação econômica em toda a região. Com exceção da Venezuela, do Uruguai e do Paraguai, todos os países latino-americanos deverão se beneficiar da estabilidade das moedas, maior demanda de exportações e melhores condições comerciais e do aumento na confiança dos consumidores e das empresas, segundo a maioria das agências econômicas globais.

Guerra e Bolsas
O principal problema é o aumento do preço do petróleo, induzido pela ameaça de guerra dos Estados Unidos contra o Iraque, que poderá prejudicar o progresso em países dependentes de importações. Também há um medo generalizado -embora tênue- de um calote da dívida brasileira, e o Uruguai continua rumando para o abismo. A estabilidade política é uma séria preocupação na Venezuela.
Apesar da estabilidade no Chile, o mercado de valores do país não foi poupado da carnificina do ano passado, perdendo cerca de 25% em termos de dólares, ou 15% nominais, com queda de mais de 12% em volume.
Nos 12 meses até 30 de novembro, mais de US$ 850 milhões foram retirados do valor de mercado das companhias chilenas que negociam Recibos de Depósito Americanos, em Nova York.
No entanto os otimistas dizem que o Chile poderá ser um dos grandes ganhadores deste ano, depois do México e do Brasil, onde alguns bancos de investimento prevêem aumento de 30% dos rendimentos em dólar.
Ações de recursos no Brasil e no Chile e operações de consumo, construção e telecomunicações no México estão entre os setores preferidos.
No entanto até que a situação se resolva no Oriente Médio, ninguém se aventura a fazer uma previsão confiante sobre o que aguarda a América Latina em 2003.


Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves


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