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ANÁLISE
As coisas só podem melhorar na América Latina
MARK MULLIGAN
DO "FINANCIAL TIMES"
Enquanto os investidores no
mercado de ações latino-americanas reviram os destroços de 2002,
seu principal alívio para este ano é
que seria difícil as coisas piorarem
muito.
Como se não bastassem a fraqueza econômica global, o estouro das bolhas financeiras e os escândalos corporativos nos Estados Unidos, para não falar do espectro da guerra, a América Latina teve sua própria lista de calamidades que a deixaram agonizante no final das tabelas de desempenho do ano passado.
O calote da dívida e os controles
bancários na Argentina, o nervosismo do mercado no Brasil e o
caos político na Venezuela se somaram para provocar uma venda
em massa de papéis e liquidação
de ativos financeiros por parte das
instituições locais e dos fundos estrangeiros por volta da metade do
ano. Mas os analistas esperam
que uma fraca recuperação no
quarto trimestre aponte para um
2003 mais luminoso.
Recuperação frágil
Depois de perder cerca de 35%
até outubro, o índice latino-americano MSCI se recuperou e, no final de dezembro, ficou em cerca
de menos 25% no ano. O resultado foi apenas ligeiramente pior do
que o das Bolsas norte-americanas, mas muito abaixo dos índices
asiáticos (exceto o Japão) e da
queda de 8% no índice amplo
MSCI de mercados emergentes.
Apesar de um surto de negociação nominal -apelidado de "recuperação tóxica" pelo banco
UBS Warburg-, a forte desvalorização na Argentina fez de Buenos Aires o mercado mais atingido em termos de dólares, ficando
abaixo do parâmetro regional pelo sétimo ano consecutivo.
São Paulo também teve um ano
difícil, com o índice MSCI Brasil
em queda de 40% em 2002. O
principal índice Bovespa fechou
2002 com redução de 50% em termos de dólares.
Descontando o mercado peso
leve peruano, o México teve novamente a melhor atuação. Analistas dizem que sua estreita associação com a economia e o sentimento norte-americanos deverão
fazer novamente do México um
foco de interesse dos investidores
neste ano, juntamente com o
mercado brasileiro.
A maioria dos especialistas está
dividindo este ano em dois, com a
primeira parte de 2003 incluindo
uma guerra entre os Estados Unidos e o Iraque. "Isso levará a mais
uma rodada de aversão ao risco,
na qual a América Latina obviamente não se sairá muito bem",
diz Geoffrey Dennis, chefe de pesquisa de valores na América Latina para o Salomon Smith Barney.
"No entanto, supondo que a
guerra acabe rapidamente, esperamos que os investidores comecem a se concentrar na recuperação econômica. Isso deverá favorecer os mercados emergentes."
A maioria dos analistas tempera
suas previsões com extrema cautela. Com tanta incerteza global,
os fluxos de capital para a América Latina -que atingiram seu
ponto mais baixo desde a "década
perdida" de 80- talvez só se recuperem no final do ano.
No entanto há claros sinais de
uma leve recuperação econômica
em toda a região. Com exceção da
Venezuela, do Uruguai e do Paraguai, todos os países latino-americanos deverão se beneficiar da
estabilidade das moedas, maior
demanda de exportações e melhores condições comerciais e do
aumento na confiança dos consumidores e das empresas, segundo
a maioria das agências econômicas globais.
Guerra e Bolsas
O principal problema é o aumento do preço do petróleo, induzido pela ameaça de guerra dos
Estados Unidos contra o Iraque,
que poderá prejudicar o progresso em países dependentes de importações. Também há um medo
generalizado -embora tênue-
de um calote da dívida brasileira,
e o Uruguai continua rumando
para o abismo. A estabilidade política é uma séria preocupação na
Venezuela.
Apesar da estabilidade no Chile,
o mercado de valores do país não
foi poupado da carnificina do ano
passado, perdendo cerca de 25%
em termos de dólares, ou 15% nominais, com queda de mais de
12% em volume.
Nos 12 meses até 30 de novembro, mais de US$ 850 milhões foram retirados do valor de mercado das companhias chilenas que
negociam Recibos de Depósito
Americanos, em Nova York.
No entanto os otimistas dizem
que o Chile poderá ser um dos
grandes ganhadores deste ano,
depois do México e do Brasil, onde alguns bancos de investimento
prevêem aumento de 30% dos
rendimentos em dólar.
Ações de recursos no Brasil e no
Chile e operações de consumo,
construção e telecomunicações
no México estão entre os setores
preferidos.
No entanto até que a situação se
resolva no Oriente Médio, ninguém se aventura a fazer uma
previsão confiante sobre o que
aguarda a América Latina em
2003.
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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