São Paulo, sexta-feira, 06 de janeiro de 2006

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RECEITA ORTODOXA

Índice fechou 2005 com elevação de 1,22%; queda no preço no atacado foi decisiva para o resultado

Dólar baixo leva ao menor IGP-DI da história

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna) fechou 2005 com alta de 1,22%, na menor taxa anual do indicador, que começou a ser elaborado em 1944 pela FGV (Fundação Getúlio Vargas). Antes, os mais baixos índices foram os de 98 (1,7%), na recessão pré-crise cambial do ano seguinte, e de 47 (2,73%), quando os preços do café despencaram. Em 2004, o IGP-DI foi de 12,14%.
Com seis meses em deflação neste ano (algo inédito na história), o IPA (Índice de Preços por Atacado) assegurou a alta discreta do IGP-DI. Os preços no atacado registraram deflação de 0,97% em 2005, sob efeito da retração dos preços de alimentos, do menor nível de atividade e da queda do dólar. Em dezembro, o IGP-DI subiu 0,07%.
A queda dos preços de algumas commodities internacionais e o recuo do dólar fizeram com que os preços agrícolas no atacado baixassem 6,34% em 2005, contribuindo para o IGP-DI baixo.
Em dezembro, a desaceleração dos preços dos combustíveis e de alguns alimentos fez o IPA ter queda de 0,14%.
Para Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da FGV, o câmbio foi o fator determinante para que o IGP-DI tenha ficado tão baixo em 2005. O dólar, diz, propiciou a queda das matérias-primas (como soja, milho, aço e outros produtos com cotações internacionais), o que fez cair também os preços de muitos itens de consumo final.
Já Carlos Thadeu de Freitas Filho, economista do Grupo de Conjuntura da UFRJ, disse que 2005 foi um ano de fraco nível de atividade (graças especialmente aos juros altos), o que também levou à retração da demanda e, conseqüentemente, dos preços.
Ele citou os exemplos de carnes, leite, derivados de trigo e soja, além de utilidades que levam aço. Sob efeito das quedas no atacado, esses produtos tiveram fortes retrações no IPC (Índice de Preços ao Consumidor). O índice fechou o ano de 2005 com alta de 4,93%. Em dezembro, o IPC ficou em 0,46%, ante 0,57% em novembro.
No varejo, a inflação só não cedeu com mais força em 2005 por causa dos reajustes de tarifas públicas e preços administrados. Puxaram a fila os ônibus urbanos, que haviam subido pouco em 2004 por causa das eleições, e os combustíveis. Com esses aumentos, o grupo transportes teve alta de 9,23% em 2005. Também puxou o índice para cima o grupo educação, cujos preços foram reajustados, em média, 5,49%.
Referência para os reajustes dos serviços de telefonia, o IGP-DI não terá neste ano uma variação tão baixa como em 2005, prevê Quadros. Ele diz que o indicador que corrigirá a partir desse ano apenas parcialmente as contas de telefone deve ficar próximo a 3% no acumulado até maio, período utilizado para calcular o reajuste.
Neste ano, com a revisão dos contratos de concessão, a Anatel decidiu alterar a regra e calcular o reajuste anual parte com base no IGP-DI e parte usando um indicador que mede os custos do setor.
Freitas Filho, da UFRJ, estima que o IGP-DI fechará 2006 com alta de cerca de 5%. "No ano passado, aconteceu algo atípico, que foi a combinação de economia em desaquecimento e dólar em queda. Neste ano, o índice deve voltar ao seu padrão normal", disse.


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