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IOF "substitui" até 2 pontos de alta na Selic
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Duas simulações de financiamentos feitas pela gestora de
recursos Quest Investimentos
mostram que a alta do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) anunciada na semana
passada encarece o crédito na
mesma proporção de uma elevação na taxa básica Selic de
0,95 ponto percentual (no caso
de um veículo) e 2,03 pontos
percentuais (em uma simulação para crédito consignado).
O governo anunciou aumentos no IOF e na CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) como forma de compensar parte do fim da CPMF (o
tributo do cheque), que garantiria neste ano uma arrecadação de R$ 38 bilhões.
Mas economistas apontam
que, além da arrecadação de R$
10 bilhões a mais com a alta
nessas alíquotas, como estima
o governo, a alta terá efeito de
política monetária. Ou seja, como encarecerá o crédito, pode
até ajudar a restringir o consumo em um momento de acelerada expansão econômica e temores de mais inflação.
As simulações realizadas pelo economista-chefe da Quest
Investimentos, Luiz Carlos
Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), ex-ministro das Comunicações do governo FHC e colunista da Folha, mostram que o aumento
do IOF substitui, em alguns casos, elevações importantes na
taxa básica de juros.
Ele simulou o impacto do aumento anunciado no imposto
sobre a prestação de um veículo
financiado em 60 meses a uma
taxa de juros de 28,5% ao ano.
Chegou à conclusão de que a
alta na prestação seria de 1,5%:
no caso do financiamento de
um veículo com o preço de R$
30 mil, por exemplo, o valor da
prestação passaria de R$
886,50 para R$ 899,80, ou seja,
aumentaria R$ 13,30.
Para produzir o mesmo efeito do aumento de IOF, a Selic,
atualmente em 11,25% ao ano,
teria que aumentar em 0,95
ponto percentual, ou seja, teria
que passar para 12,2% ao ano.
No caso do crédito consignado, com prazo menor, de 24
meses, e com a mesma taxa de
juros de 28,5% ao ano, o aumento equivalente na Selic seria de 2,03 pontos percentuais
-precisaria passar a 13,28% ao
ano para ter o mesmo efeito da
alta do IOF sobre a prestação.
"Além de aumentar a arrecadação, [a alta no IOF] está no
sentido correto de uma política
econômica que objetive diminuir a corrida às compras a que
estamos assistindo, para evitar
problemas com a inflação",
afirmou Mendonça de Barros.
Ele destacou ainda que o aumento é positivo, pois eleva o
custo do crédito ao consumo,
mas não recai sobre o crédito
para investimentos das empresas. "A economia está superaquecida e o aumento do volume
do crédito ao consumo, em
uma situação de aumento da
massa salarial, é hoje um dos
elementos mais importantes
no aumento do gasto das famílias. Tentar reduzir sua expansão está na direção correta",
disse Mendonça de Barros.
Para o economista Francisco
Pessoa, da consultoria LCA, a
alta do IOF pode ter "algum
efeito contracionista sobre o
nível da atividade".
Apesar do encarecimento do
crédito, a maior parte dos economistas diz não acreditar que
a alta da IOF será suficiente para reduzir a expansão do crédito ao consumo, a começar por
Mendonça de Barros. A avaliação é que haverá mais emprego
e renda e que o consumidor
continuará tomando crédito.
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