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Economia e geopolítica definem rumo do petróleo
Analistas não descartam fortes oscilações na cotação
CLIFFORD KRAUSS
DO "NEW YORK TIMES"
Agora que o preço do petróleo bruto cruzou a barreira dos
US$ 100 por barril e depois se
retraiu ligeiramente, que direção tomará a seguir?
Muitos especialistas prevêem que subirá, voltará a cair e
então talvez suba de novo. Pelo
menos tem sido esse o padrão
registrado nos últimos anos de
instabilidade de preços.
Os argumentos que justificariam preços ainda mais altos
para o petróleo são bem conhecidos. As economias da China e
da Índia estão em expansão e
famintas de energia. Os campos
de petróleo no México, nos Estados Unidos e em diversos outros países produtores de petróleo estão secando, o que
comprime a oferta mundial.
O presidente Hugo Chávez,
da Venezuela, está usando o petróleo como arma política. Os
rebeldes nigerianos vêm criando distúrbios em alguns dos
mais produtivos dos campos
petroleiros do país africano-
um dos integrantes da Opep
(Organização dos Países Exportadores de Petróleo), o cartel responsável por cerca de
40% da produção mundial.
A guerra continua no Iraque.
O dólar está em queda, o que faz
com que os fundos de hedge e
outros operadores procurem o
petróleo e outras commodities
como refúgio.
Mas todos esses fatores já
existiam na metade do ano passado, quando o preço do petróleo caiu para cerca de US$ 60
por barril, antes que se recuperasse no final do ano. O preço
chegou aos US$ 100 na quarta-feira e ultrapassou essa marca
por um breve período no dia seguinte, antes de recuar depois
que o governo norte-americano divulgou estoques de gasolina e óleo de aquecimento superiores aos estimados. O preço
do petróleo ficou em US$ 97,91
na última sexta-feira em Nova
York, apresentando um ganho
de 10,86% em relação à cotação
de um mês antes.
"Prever os preços do petróleo
demonstra continuamente os
perigos reservados aos profetas, porque a cotação deriva daquilo que acontece na economia e no cenário geopolítico
mundial", disse Daniel Yergin,
presidente do conselho da
Cambridge Energy Research
Associates. Para ele, seria lícito
prever tanto altas do petróleo
para a casa dos US$ 150, nos
próximos anos, como queda para apenas US$ 40.
John Richels, presidente da
Devon Energy, empresa internacional de petróleo e gás natural, disse que um preço de US$
150 por barril é possível, mas
que US$ 55 também é concebível. "Temos de fazer investimentos com base em nossas
perspectivas quanto aos preços
do petróleo em prazo muito
longo", afirmou. "Não é fácil."
Há grandes montantes em
investimentos públicos e privados voltados ao desenvolvimento de energia solar, eólica e
biocombustíveis, no entanto,
até o momento, a contribuição
dessas fontes ao abastecimento
mundial é modesta. Saltos na
engenharia e na ciência, como o
desenvolvimento da bomba
atômica ou o envio de um homem à Lua, podem ocorrer
com relativa rapidez, mas ainda
assim requerem anos.
Economia americana
Até agora, a maioria dos economistas estava surpresa com
o fato de a alta dos preços do petróleo -que há menos de uma
década estava cotado a apenas
US$ 11- não estar afetando
mais os consumidores americanos. Mas, com a ascensão cada vez mais rápida dos preços
do produto nos últimos meses,
combinada à queda no mercado da habitação e à compressão
de crédito, muitos economistas
agora imaginam que um novo
período de alta sustentada no
petróleo talvez empurre a economia dos EUA a uma recessão.
Se isso acontecer, a demanda
por petróleo será reprimida, o
que gerará queda nos preços do
produto -ou assim dispõe a
teoria. Menos consumidores
usariam seus carros para ir às
compras, as empresas produziriam e distribuiriam menos
bens e o comércio mundial se
desaceleraria.
"Caso haja uma desaceleração, não compraremos mais
tantos produtos da China e serviços da Índia", disse Addison
Armstrong, diretor de pesquisa
de mercado na Tradition
Energy, uma corretora de energia que opera com bancos e
fundos de hedge.
"Minha previsão para 2008 é
que o preço médio por barril de
petróleo cru será de US$ 75 e se
baseia em um cenário de desaceleração dos Estados Unidos."
Mas Armstrong e outros especialistas alertam que uma insurgência prolongada na Nigéria, uma temporada de furacões
devastadora ou outros eventos
imprevisíveis poderão gerar alta ainda maior para os preços
do petróleo.
Assim, o que explica a atual
alta do petróleo? A situação militar no Iraque está em tese melhorando, e as exportações iraquianas de petróleo começaram a fluir de novo. As tensões
entre os EUA e o Irã se aliviaram um pouco.
Existem previsões de um inverno americano ameno e tardio, o que poderia reforçar os
estoques de petróleo e gasolina
na primavera e no verão, a temporada de férias e de maior uso
de automóveis.
Muitos especialistas consideram que a resposta esteja nas
decisões de investimento de
"traders" e fundos de hedge.
Com os mercados de ações, habitação, crédito e câmbio abalados, nos EUA, eles estão apostando em petróleo e outras
commodities como refúgios.
Phil Flynn, vice-presidente e
analista de mercado da Alaron
Trading, disse que o recente
corte de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central dos
EUA) sublinhou a seriedade
dos riscos econômicos que o
país enfrenta, aos olhos dos
operadores, e os levou a adquirir contratos futuros se petróleo. O organismo cortou em
0,25 ponto percentual, para
4,25%, a taxa de juros básica
americana na sua última reunião do ano passado. Novo encontro está marcado para o final do mês e parte dos analistas
aposta em um novo corte.
Flynn afirma que considera
que a probabilidade de queda
nos preços do petróleo supera a
de alta, "porque creio que os fatores que nos conduziram à situação atual dificilmente se repetirão em 2008". Ele acrescentou acreditar que o dólar
deve encerrar sua queda em
2008 e que os mercados já incluíram em suas cotações o
efeito da crise da habitação.
Mas a maioria dos especialistas diz acreditar que, caso o
preço do petróleo caia, não ficará baixo por muito tempo.
Richels, da Devon Energy,
disse que os consumidores da
Europa e Japão não estavam
sob pressão semelhante aos dos
EUA, porque suas moedas estão em alta, e não em queda.
"Continua a haver muita demanda fora dos EUA", ele afirmou. "O consumo de petróleo
está em alta nos países em desenvolvimento, e encontrá-lo
está se tornando mais difícil."
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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