São Paulo, domingo, 06 de janeiro de 2008

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Economia e geopolítica definem rumo do petróleo

Analistas não descartam fortes oscilações na cotação

CLIFFORD KRAUSS
DO "NEW YORK TIMES"

Agora que o preço do petróleo bruto cruzou a barreira dos US$ 100 por barril e depois se retraiu ligeiramente, que direção tomará a seguir? Muitos especialistas prevêem que subirá, voltará a cair e então talvez suba de novo. Pelo menos tem sido esse o padrão registrado nos últimos anos de instabilidade de preços.
Os argumentos que justificariam preços ainda mais altos para o petróleo são bem conhecidos. As economias da China e da Índia estão em expansão e famintas de energia. Os campos de petróleo no México, nos Estados Unidos e em diversos outros países produtores de petróleo estão secando, o que comprime a oferta mundial.
O presidente Hugo Chávez, da Venezuela, está usando o petróleo como arma política. Os rebeldes nigerianos vêm criando distúrbios em alguns dos mais produtivos dos campos petroleiros do país africano- um dos integrantes da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), o cartel responsável por cerca de 40% da produção mundial.
A guerra continua no Iraque. O dólar está em queda, o que faz com que os fundos de hedge e outros operadores procurem o petróleo e outras commodities como refúgio.
Mas todos esses fatores já existiam na metade do ano passado, quando o preço do petróleo caiu para cerca de US$ 60 por barril, antes que se recuperasse no final do ano. O preço chegou aos US$ 100 na quarta-feira e ultrapassou essa marca por um breve período no dia seguinte, antes de recuar depois que o governo norte-americano divulgou estoques de gasolina e óleo de aquecimento superiores aos estimados. O preço do petróleo ficou em US$ 97,91 na última sexta-feira em Nova York, apresentando um ganho de 10,86% em relação à cotação de um mês antes.
"Prever os preços do petróleo demonstra continuamente os perigos reservados aos profetas, porque a cotação deriva daquilo que acontece na economia e no cenário geopolítico mundial", disse Daniel Yergin, presidente do conselho da Cambridge Energy Research Associates. Para ele, seria lícito prever tanto altas do petróleo para a casa dos US$ 150, nos próximos anos, como queda para apenas US$ 40.
John Richels, presidente da Devon Energy, empresa internacional de petróleo e gás natural, disse que um preço de US$ 150 por barril é possível, mas que US$ 55 também é concebível. "Temos de fazer investimentos com base em nossas perspectivas quanto aos preços do petróleo em prazo muito longo", afirmou. "Não é fácil."
Há grandes montantes em investimentos públicos e privados voltados ao desenvolvimento de energia solar, eólica e biocombustíveis, no entanto, até o momento, a contribuição dessas fontes ao abastecimento mundial é modesta. Saltos na engenharia e na ciência, como o desenvolvimento da bomba atômica ou o envio de um homem à Lua, podem ocorrer com relativa rapidez, mas ainda assim requerem anos.

Economia americana
Até agora, a maioria dos economistas estava surpresa com o fato de a alta dos preços do petróleo -que há menos de uma década estava cotado a apenas US$ 11- não estar afetando mais os consumidores americanos. Mas, com a ascensão cada vez mais rápida dos preços do produto nos últimos meses, combinada à queda no mercado da habitação e à compressão de crédito, muitos economistas agora imaginam que um novo período de alta sustentada no petróleo talvez empurre a economia dos EUA a uma recessão.
Se isso acontecer, a demanda por petróleo será reprimida, o que gerará queda nos preços do produto -ou assim dispõe a teoria. Menos consumidores usariam seus carros para ir às compras, as empresas produziriam e distribuiriam menos bens e o comércio mundial se desaceleraria.
"Caso haja uma desaceleração, não compraremos mais tantos produtos da China e serviços da Índia", disse Addison Armstrong, diretor de pesquisa de mercado na Tradition Energy, uma corretora de energia que opera com bancos e fundos de hedge. "Minha previsão para 2008 é que o preço médio por barril de petróleo cru será de US$ 75 e se baseia em um cenário de desaceleração dos Estados Unidos."
Mas Armstrong e outros especialistas alertam que uma insurgência prolongada na Nigéria, uma temporada de furacões devastadora ou outros eventos imprevisíveis poderão gerar alta ainda maior para os preços do petróleo. Assim, o que explica a atual alta do petróleo? A situação militar no Iraque está em tese melhorando, e as exportações iraquianas de petróleo começaram a fluir de novo. As tensões entre os EUA e o Irã se aliviaram um pouco.
Existem previsões de um inverno americano ameno e tardio, o que poderia reforçar os estoques de petróleo e gasolina na primavera e no verão, a temporada de férias e de maior uso de automóveis. Muitos especialistas consideram que a resposta esteja nas decisões de investimento de "traders" e fundos de hedge. Com os mercados de ações, habitação, crédito e câmbio abalados, nos EUA, eles estão apostando em petróleo e outras commodities como refúgios.
Phil Flynn, vice-presidente e analista de mercado da Alaron Trading, disse que o recente corte de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) sublinhou a seriedade dos riscos econômicos que o país enfrenta, aos olhos dos operadores, e os levou a adquirir contratos futuros se petróleo. O organismo cortou em 0,25 ponto percentual, para 4,25%, a taxa de juros básica americana na sua última reunião do ano passado. Novo encontro está marcado para o final do mês e parte dos analistas aposta em um novo corte.
Flynn afirma que considera que a probabilidade de queda nos preços do petróleo supera a de alta, "porque creio que os fatores que nos conduziram à situação atual dificilmente se repetirão em 2008". Ele acrescentou acreditar que o dólar deve encerrar sua queda em 2008 e que os mercados já incluíram em suas cotações o efeito da crise da habitação. Mas a maioria dos especialistas diz acreditar que, caso o preço do petróleo caia, não ficará baixo por muito tempo. Richels, da Devon Energy, disse que os consumidores da Europa e Japão não estavam sob pressão semelhante aos dos EUA, porque suas moedas estão em alta, e não em queda. "Continua a haver muita demanda fora dos EUA", ele afirmou. "O consumo de petróleo está em alta nos países em desenvolvimento, e encontrá-lo está se tornando mais difícil."


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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