São Paulo, domingo, 06 de janeiro de 2008

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NY negocia mais ações brasileiras que SP

As 32 empresas nacionais listadas na Bolsa dos EUA movimentaram US$ 556 bi em 2007, ante US$ 529 bi transacionados na Bovespa

Apenas oito companhias responderam por 84% do total das transações feitas pelas ADRs brasileiras na Bolsa de Nova York em 2007

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

Pelo segundo ano consecutivo, o volume negociado em ações de companhias brasileiras listadas na Bolsa de Nova York, as chamadas ADRs, foi superior ao total transacionado pela Bovespa. A exemplo da Bolsa de SP, as movimentações das ações das companhias brasileiras em Nova York também registraram recordes em 2007.
Nos Estados Unidos, as 32 empresas brasileiras listadas na Bolsa de Nova York negociaram em 2007 um total de US$ 555,6 bilhões, crescimento de 120,2% em relação ao ano anterior. Já na Bovespa, o total foi de US$ 528,9 bilhões, 128% mais que em 2006. Nos dois casos, o volume total superou a casa de R$ 1 trilhão pela primeira vez na história.
Os cálculos foram feitos pela empresa de consultoria Economática e levam em conta, nos números da Bovespa, o volume financeiro negociado no mercado à vista/lote padrão. Não foram considerados os negócios realizados pela Bovespa nos mercados de opções e fracionários, entre outros.
"Pode-se dizer que há uma Bovespa sendo negociada na Bolsa de Nova York", afirma Einar Rivero, economista da Economática.
O estudo mostra que existe uma concentração muito grande nos negócios na Bolsa de Nova York em oito companhias: Vale, Petrobras, Unibanco, Bradesco, Itaú, CSN, Gerdau e AmBev. O volume negociado pelos papéis dessas empresas responde por 84% do total de transações feitas pelas ADRs brasileiras em Nova York. Já as ações equivalentes na Bovespa respondem por 44,1% do total negociado no Brasil.
Entre as ADRs, o maior destaque foi a ação ordinária da Vale, que movimentou um total de US$ 141,5 bilhões em Nova York, um crescimento de 227,3% em relação a 2006. Já na Bovespa, o total negociado da ação ordinária da Vale foi de US$ 15,7 bilhões, 176,4% mais que no ano anterior.
Em segundo lugar na Bolsa de Nova York ficou a ação ordinária da Petrobras, que negociou US$ 107,9 bilhões no ano passado, 89,1% mais que em 2006. Já na Bovespa, o volume negociado do mesmo papel foi de US$ 13,6 bilhões, um crescimento de 122,3% em relação ao ano anterior.
A diferença muito maior de ações ordinárias de Vale e Petrobras em Nova York se explica pelo fato de o estoque desses papéis ser mais expressivo nesse mercado. No início da década, o governo realizou grandes emissões dessas ações na Bolsa de Nova York para captar recursos para o Tesouro. Na época, a Bolsa brasileira ainda sofria a taxação da CPMF e isso afugentava empresas e investidores do mercado de capitais.
Os investimentos na Bovespa não sofrem a cobrança da CPMF desde 2002, e, por isso, não deixa de ser surpreendente o fato de, pelo segundo ano consecutivo, o volume de negócios com ações de companhias brasileiras em Nova York ter superado o giro da Bovespa.
De acordo com o economista Caio Megale, sócio da Mauá Investimentos, esse comportamento favorável dos papéis de empresas brasileiras negociados na Bolsa de Nova York reflete o megaapetite dos investidores estrangeiros por companhias daqui. Ele não considera uma concorrência predatória para a Bovespa, mas até um sinal de que há espaço para atrair mais investimentos de fora para o mercado brasileiro. "É melhor que esses investimentos sejam feitos em ADRs de empresas brasileiras do que em ações de outros países."
Na opinião do economista, se o Brasil for promovido neste ano a grau de investimento pelas agências de "rating", que significa uma espécie de selo de qualidade do crédito e das instituições brasileiras, a Bovespa terá condições de atrair ainda mais recursos estrangeiros. O jogo então poderá virar a favor da Bolsa de São Paulo.


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