São Paulo, quarta-feira, 06 de janeiro de 2010

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ANÁLISE

Empresa busca manter liderança na web móvel

MIGUEL HELFT
DO "NEW YORK TIMES"

A rápida ascensão do celular inteligente como um aparelho versátil de computação pode representar tanto um desafio quanto uma oportunidade para o Google, que construiu seu bilionário império com base quase exclusiva em pequenos anúncios em formato de texto vinculados a resultados de buscas feitas em computadores.
À medida que as pessoas passam a recorrer cada vez mais a poderosos celulares, e não a computadores, para acessar a internet, seus hábitos de navegação devem mudar. Além disso, a publicidade on-line pode perder seu papel como principal propulsor econômico da web, e isso colocaria em questão a liderança do Google.
"O novo paradigma é a computação móvel e a mobilidade", disse David Yoffie, professor da Harvard Business School. "Isso tem o potencial de alterar o cenário econômico da internet e produzir uma nova redistribuição dos lucros", afirmou.
Nas últimas décadas, o poder de gigantes do setor como IBM e Microsoft, visto em dados momentos como inabalável, decresceu com a transição de mainframes para computadores pessoais e destes para a internet. Muitos analistas dizem que agora é o Google que encara um futuro menos certo, diante de uma nova virada.
Ainda assim, afirmam que a empresa antecipou a tendência anos atrás e que vem se preparando para ela.
"Estamos muito entusiasmados com as oportunidades que vemos no segmento móvel", disse Vic Gundotra, vice-presidente de engenharia do Google encarregado de aplicativos móveis. "Investimos montantes consideráveis, e agora somos capazes de oferecer uma experiência móvel realmente convincente aos usuários."
Importantes executivos do Google vêm dizendo há muito que a internet móvel é a maior oportunidade de crescimento novo da empresa. Orquestraram uma sucessão de aquisições de empresas de tecnologia para comunicação móvel, como a Android, criadora de sistema operacional para celulares, e a AdMob, rede de publicidade para aplicativos móveis.
O Google também investiu de forma muito mais agressiva que os concorrentes em tecnologias de mapeamento e serviços de localização do usuário, que provavelmente terão papel vital em novos sistemas publicitários para celulares com chips do sistema GPS. E o Google age sistematicamente para afrouxar o domínio de outras companhias na internet móvel.
O Nexus One é um desafio para a Apple, nova potência de comunicação móvel com o seu iPhone, dominante entre os celulares inteligentes de preço mais alto. Analistas dizem que, com o Nexus One, a empresa tenta se libertar da crescente influência da Apple. O aparelho deve ser vendido desbloqueado, o que permitirá aos usuários adquirir o plano de telefonia móvel que preferirem.
Gundotra disse que todas as ações do Google na comunicação móvel foram motivadas por um objetivo: forçar a abertura do setor para reproduzir na telefonia móvel o ambiente que permitiu o crescimento explosivo da web nos computadores.
Alguns analistas dizem que o sucesso inicial do sistema operacional Android, adotado por muitos fabricantes de celulares, mostra que o Google já está derrotando a Microsoft, sua maior rival, no setor móvel.
Mas restam perguntas: será que a publicidade manterá seu papel central na economia da web quando mais consumidores trocarem computador por celular? E os aplicativos farão com que as pessoas dependam menos de serviços de busca?
Os anúncios em formato de texto do Google são vendidos por um sistema de leilão, e os analistas afirmam que alguns dos mais lucrativos são os veiculados em tarefas que requerem pesquisa intensiva, como busca de imóvel ou contratos de hipoteca. É mais provável que tarefas como essas continuem sendo feitas no computador, não em um celular.

As previsões sobre o potencial de crescimento da publicidade móvel variam muito. Relatório recente do Morgan Stanley diz que, enquanto a publicidade responde por 40% da receita na internet fixa, na móvel é só 5%. Isso pode mudar com o uso de tecnologias mais personalizadas, como promoções baseadas na localização do usuário, que podem abrir uma nova era de crescimento no marketing digital.
Ao mesmo tempo, pesquisas mostram cautela dos usuários quanto a anúncios que podem ocupar muito espaço na pequena tela do celular. E o usuário de celular parece mais disposto a pagar por aplicativos e conteúdo do que o de computador, o que pode reduzir a importância da publicidade. Gundotra desconsidera essas preocupações. E diz que o ritmo de crescimento da receita na web móvel reproduz o visto no início da venda de publicidade na fixa.


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