São Paulo, #!L#Domingo, 06 de Fevereiro de 2000


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NEGÓCIOS
Jovens descobrem na Internet caminho para boa idéia dar lucro
"Netfortunas" nascem com centavos e adolescentes


MARCELO BILLI
JOSÉLIA AGUIAR


da Reportagem Local Aos 17, ganhar R$ 15 mil por mês e ter um negócio que vale R$ 10 milhões. Ou aos 30 e tantos, abandonar o emprego com um cheque de US$ 0,85 e em pouco tempo reunir um patrimônio avaliado em R$ 20 milhões.
Foi assim, com pouco ou nenhum capital para investir, que pelo menos meia dúzia de novos empresários descobriu na Internet a chance de amealhar uma fortuna nada virtual -e na mesma velocidade com que a tecnologia chegou ao país.
A maioria soube aproveitar por aqui idéias que começavam a ter sucesso nos EUA. Alguns fizeram dinheiro vendendo e revendendo suas empresas para grupos maiores e ainda continuam nelas em cargos executivos.
O carioca Edgar Nogueira tinha 13 anos quando ganhou um modem de presente. Com o aparelho, que serve para que computadores se conectem à Internet, ele descobriu um jeito de ganhar dinheiro. Criou seu próprio serviço de procura na rede, o Aonde, que hoje vale R$ 10 milhões.
"Eu sabia que sites de busca davam dinheiro. Mas eu não esperava que fosse tão longe", diz Nogueira, que fatura R$ 15 mil e trabalha cinco horas por dia em sua casa, à frente do computador.
A empresa ainda não tem funcionários. Os ajudantes são o pai, que aprendeu a ler e-mails há menos de um ano, e a mãe, que mal sabe ligar o computador.
O Aonde quer deixar de ser uma empresa familiar. Nogueira já contratou uma consultoria que procura investidores dispostos a se tornarem sócios minoritários. Alexandro Marcel, o consultor responsável, afirma que a empresa vale pelo menos R$ 10 milhões e já tem interessados. E diz que anunciará quem serão os novos parceiros em poucos dias.

Século passado
O adolescente carioca não foi o primeiro a descobrir que podia ganhar dinheiro com os serviços de busca.
Antes dele, dois paulistas, Gustavo Viberti e Fábio de Oliveira, hoje com 34 e 35 anos, criaram o Cadê?, em 95, uma versão brasileira dos norte-americanos Yahoo! e Altavista.
"O Brasil estava no século passado da Internet em 95", recorda Viberti. "Não havia nenhum serviço de busca, mas sabíamos que existiam sites suficientes para que criássemos um."
Em 96, o ano de estréia, a empreitada rendeu US$ 50 mil. Depois de faturar US$ 1,5 milhão em 98, o Cadê? foi vendido ao provedor StarMedia por um valor que nenhuma das partes quer revelar.
Fernando Espuelas, presidente da StarMedia, diz que só contará quanto pagou pelo Cadê? em sua biografia. Mas, em um relatório para investidores, a empresa informa que já teria desembolsado pelo menos US$ 6 milhões.
Poucos meses depois do lançamento do Cadê?, outro serviço de busca brasileiro, o Zeek, entrava no ar. A história do site começou em 96, quando o paulista Flávio Ortolano, com 25 anos, estudava computação nos EUA.
Cansado de ter de cortar grama ou trabalhar como garçom para ganhar dinheiro nas férias, ele resolveu passar uns meses no Brasil vendendo sites para as empresas.
Numa das visitas a clientes potenciais na avenida Paulista, no centro de São Paulo, ele conheceu Sidney Oliveira, gerente de marketing de um grande banco. Os dois decidiram trabalhar juntos oferecendo serviços pela Internet. Pierre Schurmann se tornou o terceiro sócio em 97. O Zeek também foi vendido à StarMedia no ano passado por cerca de US$ 1 milhão. Os antigos sócios são diretores da empresa com salários acima de R$ 10 mil.
Vender -e revender a empresa- também levou os gaúchos Marcelo Lacerda, 40, analista de sistemas, e Sérgio Pretto, 44, engenheiro eletrônico, a construir um patrimônio na Internet. No começo dos anos 90, eram donos da Nutec, que desenvolvia softwares para empresas. A Nutec virou o provedor ZAZ e já foi vendida três vezes -para a Companhia Rio Grandense de Participações, para a RBS e para a Telefónica Interativa. O ZAZ diz faturar hoje US$ 25 milhões ao ano e possuir 930 funcionários.

Velha guarda
Não são apenas os jovens que fazem dinheiro com a Internet no Brasil. Aleksander Mandic já tinha quase 40 anos quando deixou seu emprego em uma multinacional alemã com um cheque de US$ 0,85. "Na época eu já havia recebido férias, 13º e adiantamento. Acabei não tendo o que receber", explica Mandic, que diz ter emoldurado o cheque.
Mandic criou um dos primeiros provedores de acesso à rede no Brasil em 95 e pouco depois conseguiu a parceria do GP Investimentos. Em 98, o provedor foi parar nas mãos da argentina Impsat.
Ele agora é um dos diretores do iG, provedor de acesso gratuito. Ele não revela quanto já ganhou, mas teve seu patrimônio estimado em R$ 20 milhões.

Incubadoras
As histórias bem-sucedidas convenceram universidades a ajudar candidatos a empreendedores a desenvolver seus projetos na Internet.
Na PUC do Rio de Janeiro, funciona o que a universidade chama de incubadora de projetos para novos empresários que prioriza as idéias relacionadas à Internet.
Não há ajuda financeira. Mas o aval da universidade confere credibilidade para que os projetos consigam investidores.
A MHW foi uma das empresas que conseguiram apoio em 97. Criada pelo então estudante de engenharia da computação Franklin Madruga, hoje com 28 anos, ganhou na web o nome de UniverSite e passou a oferecer serviços de educação à distância para grandes corporações.
Em 98, a empresa faturou US$ 800 mil. No ano passado, conseguiu um novo parceiro, a JDTC. Há um mês, teve mais um aporte de capital da Latinvest, divisão brasileira de um fundo de investimentos norte-americano.
"Não falamos mais de números. Só que queremos triplicar este ano os resultados de 98", disse Madruga.


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