São Paulo, terça-feira, 06 de fevereiro de 2007

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Lula faz pressão para BC segurar dólar

Banco faz compras acima do normal, mas não consegue evitar que moeda caia abaixo de R$ 2,10, como quer presidente

Entre quarta e sexta, autoridade monetária comprou US$ 2,5 bi, mas dólar voltou a recuar ontem e fechou o dia em R$ 2,09


KENNEDY ALENCAR
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pressionado nos bastidores pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tentar conter a desvalorização do dólar, o Banco Central fez intervenções atípicas no mercado na semana passada. Entre quarta e sexta-feira, o BC comprou cerca de US$ 2,5 bilhões. Em dias normais, a média oscila entre US$ 200 milhões e US$ 300 milhões.
A Folha apurou que o BC tenta evitar que a moeda americana caia para menos de R$ 2,10, mas tem fracassado. O dólar terminou cotado a R$ 2,09 na sexta e ontem. O recuo de ontem foi de 0,48%, com a moeda americana fechando em R$ 2,095 para venda -o valor mais baixo desde 10 de maio de 2006 (R$ 2,056).
Por meio da assessoria de imprensa, o BC nega pressão política. Diz que eventuais intervenções não têm o objetivo de "interferir na tendência de flutuação da taxa de câmbio", mas seriam "esforço de recomposição de reservas no contexto de um regime de metas de inflação com câmbio flutuante" e que não devem ser confundidas com "fixação de tetos ou pisos" para o câmbio.
Ou seja, o BC estaria operando tecnicamente, por avaliar que essa atuação seria benéfica ao país a médio e longo prazos.
A Folha apurou, porém, que Lula e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disseram no final de janeiro ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que estavam muito preocupados com o câmbio.
Durante a elaboração do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), Lula se reuniu com economistas de fora do governo que criticaram duramente o BC. Segundo eles, a queda do dólar poderia prejudicar as exportações, dificultando o crescimento da economia, maior meta do PAC.
Quando começou a fazer intervenções mais fortes no mercado, as reservas cambiais do país somavam cerca de US$ 20 bilhões (janeiro de 2004). Hoje, estão perto de US$ 92 bilhões. Ou seja, estariam num nível de conforto que não justificaria atuações tão agressivas como as da semana passada, a não ser que tivessem o objetivo de fixar uma espécie de piso para a desvalorização do dólar.
Desde quando o Banco Central passou a comprar dólares para reforçar suas reservas em moeda estrangeira, apenas em fevereiro de 2005 o banco comprou mais de US$ 1 bilhão num único dia.
Naquele mês, havia forte cobrança de Lula sobre o BC e a política econômica, cenário agravado pelo início da crise política que marcaria a segunda etapa do primeiro mandato de Lula. O PT perdera a eleição para presidente da Câmara, iniciando um processo de fragmentação da base governista.
O real mostra tendência de valorização desde o ano passado. Mas ela foi acentuada na última quarta-feira devido ao maior otimismo dos mercados internacionais, puxado por indicadores nos EUA mostrando que a economia do país se recupera sem grande pressão inflacionária.
As melhores perspectivas em relação ao futuro da economia dos EUA fizeram com que muitos investidores voltassem a procurar aplicações em países emergentes, o que ajudou a puxar o dólar para baixo no Brasil.
Na avaliação de Cassiana Fernandes, economista da Mauá Investimentos, o BC não deveria tomar medidas mais drásticas -como intensificar operações no mercado de derivativos- para conter a queda do dólar, pois esse movimento não tem caráter especulativo.
"Essa valorização do real é totalmente respaldada pela melhora nos fundamentos da economia", disse.


Colaborou FABRÍCIO VIEIRA, da Reportagem Local

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