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Lula faz pressão para BC segurar dólar
Banco faz compras acima do normal, mas não consegue evitar que moeda caia abaixo de R$ 2,10, como quer presidente
Entre quarta e sexta, autoridade monetária comprou US$ 2,5 bi, mas dólar voltou a recuar ontem e fechou o dia em R$ 2,09
KENNEDY ALENCAR
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pressionado nos bastidores
pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tentar conter a
desvalorização do dólar, o Banco Central fez intervenções atípicas no mercado na semana
passada. Entre quarta e sexta-feira, o BC comprou cerca de
US$ 2,5 bilhões. Em dias normais, a média oscila entre US$
200 milhões e US$ 300 milhões.
A Folha apurou que o BC
tenta evitar que a moeda americana caia para menos de R$
2,10, mas tem fracassado. O dólar terminou cotado a R$ 2,09
na sexta e ontem. O recuo de
ontem foi de 0,48%, com a
moeda americana fechando em
R$ 2,095 para venda -o valor
mais baixo desde 10 de maio de
2006 (R$ 2,056).
Por meio da assessoria de
imprensa, o BC nega pressão
política. Diz que eventuais intervenções não têm o objetivo
de "interferir na tendência de
flutuação da taxa de câmbio",
mas seriam "esforço de recomposição de reservas no contexto de um regime de metas de
inflação com câmbio flutuante" e que não devem ser confundidas com "fixação de tetos
ou pisos" para o câmbio.
Ou seja, o BC estaria operando tecnicamente, por avaliar
que essa atuação seria benéfica
ao país a médio e longo prazos.
A Folha apurou, porém, que
Lula e o ministro da Fazenda,
Guido Mantega, disseram no
final de janeiro ao presidente
do Banco Central, Henrique
Meirelles, que estavam muito
preocupados com o câmbio.
Durante a elaboração do
PAC (Programa de Aceleração
do Crescimento), Lula se reuniu com economistas de fora
do governo que criticaram duramente o BC. Segundo eles, a
queda do dólar poderia prejudicar as exportações, dificultando o crescimento da economia, maior meta do PAC.
Quando começou a fazer intervenções mais fortes no mercado, as reservas cambiais do
país somavam cerca de US$ 20
bilhões (janeiro de 2004). Hoje, estão perto de US$ 92 bilhões. Ou seja, estariam num
nível de conforto que não justificaria atuações tão agressivas
como as da semana passada, a
não ser que tivessem o objetivo
de fixar uma espécie de piso para a desvalorização do dólar.
Desde quando o Banco Central passou a comprar dólares
para reforçar suas reservas em
moeda estrangeira, apenas em
fevereiro de 2005 o banco comprou mais de US$ 1 bilhão num
único dia.
Naquele mês, havia forte cobrança de Lula sobre o BC e a
política econômica, cenário
agravado pelo início da crise
política que marcaria a segunda etapa do primeiro mandato
de Lula. O PT perdera a eleição
para presidente da Câmara,
iniciando um processo de fragmentação da base governista.
O real mostra tendência de
valorização desde o ano passado. Mas ela foi acentuada na última quarta-feira devido ao
maior otimismo dos mercados
internacionais, puxado por indicadores nos EUA mostrando
que a economia do país se recupera sem grande pressão inflacionária.
As melhores perspectivas em
relação ao futuro da economia
dos EUA fizeram com que muitos investidores voltassem a
procurar aplicações em países
emergentes, o que ajudou a puxar o dólar para baixo no Brasil.
Na avaliação de Cassiana
Fernandes, economista da
Mauá Investimentos, o BC não
deveria tomar medidas mais
drásticas -como intensificar
operações no mercado de derivativos- para conter a queda
do dólar, pois esse movimento
não tem caráter especulativo.
"Essa valorização do real é totalmente respaldada pela melhora nos fundamentos da economia", disse.
Colaborou FABRÍCIO VIEIRA, da Reportagem Local
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