|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Inflação "suspeita" fica em 1,1% na Argentina
Governo Kirchner é acusado de ter manipulado o indicador oficial, que teria ficado em 2,1% em janeiro
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
Sob suspeita de fraude no
cálculo da taxa de inflação argentina, o Indec (Instituto Nacional de Estatística e Censos),
órgão que corresponde ao IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), divulgou ontem que a inflação de janeiro foi de 1,1% ante o mesmo
mês do ano passado.
Segundo técnicos do instituto, a inflação chegaria a 2,1% se
não houvesse alterações na metodologia consideradas por eles
como "manipulação".
O indicador, que, em princípio, seria menos importante do
que o da inflação do ano passado, que ficou em 9,8% (cumprindo a meta de um dígito do
governo), acabou se tornando o
mais esperado até agora no governo de Néstor Kirchner em
razão do escândalo com o afastamento da diretora responsável pelo cálculo do IPC e a intervenção no instituto.
O anúncio ocorreu com quase três horas de atraso. A inusitada expectativa foi o grande
assunto ontem na imprensa e
nos cafés de Buenos Aires, enquanto crescia a tensão em
frente ao prédio do Indec, onde
trabalhadores protestavam
contra a suposta manipulação e
militantes "kirchneristas" faziam contramarcha.
Em carta aberta à população
argentina, os funcionários do
Indec acusaram anteontem
Kirchner de manipular o cálculo do IPC para exibir uma taxa
de inflação inferior à verdadeiramente registrada no mês passado. O governo nega.
No cálculo do IPC de janeiro,
o Indec desconsiderou a alta de
22% dos planos de saúde tradicionais e só computou os 2,2%
de reajuste de um plano alternativo recém-criado.
Obsessão
Desde que assumiu a presidência em 2003, Kirchner tem
aumentado sua obsessão pela
taxa de inflação. Os indicadores
da economia mostram tendência positiva, e a inflação tornou-se o dado mais difícil de domar.
Para conter a inflação, Kirchner aplica uma política de congelamento de preços específicos. Os produtos que compõem
a lista dos controlados são exatamente os que mais têm impacto no cálculo do IPC.
Os economistas criticam a
estratégia e dizem que a inflação real da economia é maior. A
acusação feita pelos técnicos,
porém, é mais grave e representa uma escalada no alerta sobre
a maquiagem do índice.
Entre as mudanças no Indec,
segundo os técnicos, estariam
ordens para revelar ao governo
a lista de estabelecimentos comerciais consultados (o que
violaria o segredo estatístico).
Texto Anterior: Tesouro vai desviar recursos para a Caixa Próximo Texto: Energia: Cuiabá diz que pagará mais pelo gás importado da Bolívia Índice
|