São Paulo, terça-feira, 06 de fevereiro de 2007

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Inflação "suspeita" fica em 1,1% na Argentina

Governo Kirchner é acusado de ter manipulado o indicador oficial, que teria ficado em 2,1% em janeiro

BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES

Sob suspeita de fraude no cálculo da taxa de inflação argentina, o Indec (Instituto Nacional de Estatística e Censos), órgão que corresponde ao IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgou ontem que a inflação de janeiro foi de 1,1% ante o mesmo mês do ano passado.
Segundo técnicos do instituto, a inflação chegaria a 2,1% se não houvesse alterações na metodologia consideradas por eles como "manipulação".
O indicador, que, em princípio, seria menos importante do que o da inflação do ano passado, que ficou em 9,8% (cumprindo a meta de um dígito do governo), acabou se tornando o mais esperado até agora no governo de Néstor Kirchner em razão do escândalo com o afastamento da diretora responsável pelo cálculo do IPC e a intervenção no instituto.
O anúncio ocorreu com quase três horas de atraso. A inusitada expectativa foi o grande assunto ontem na imprensa e nos cafés de Buenos Aires, enquanto crescia a tensão em frente ao prédio do Indec, onde trabalhadores protestavam contra a suposta manipulação e militantes "kirchneristas" faziam contramarcha.
Em carta aberta à população argentina, os funcionários do Indec acusaram anteontem Kirchner de manipular o cálculo do IPC para exibir uma taxa de inflação inferior à verdadeiramente registrada no mês passado. O governo nega.
No cálculo do IPC de janeiro, o Indec desconsiderou a alta de 22% dos planos de saúde tradicionais e só computou os 2,2% de reajuste de um plano alternativo recém-criado.

Obsessão
Desde que assumiu a presidência em 2003, Kirchner tem aumentado sua obsessão pela taxa de inflação. Os indicadores da economia mostram tendência positiva, e a inflação tornou-se o dado mais difícil de domar.
Para conter a inflação, Kirchner aplica uma política de congelamento de preços específicos. Os produtos que compõem a lista dos controlados são exatamente os que mais têm impacto no cálculo do IPC.
Os economistas criticam a estratégia e dizem que a inflação real da economia é maior. A acusação feita pelos técnicos, porém, é mais grave e representa uma escalada no alerta sobre a maquiagem do índice.
Entre as mudanças no Indec, segundo os técnicos, estariam ordens para revelar ao governo a lista de estabelecimentos comerciais consultados (o que violaria o segredo estatístico).


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