São Paulo, quarta-feira, 06 de fevereiro de 2008

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Bolsas americanas têm o pior dia do ano

Dados do setor de serviços e declaração de dirigente do BC dos EUA fazem Dow Jones ter maior queda desde fevereiro de 2007

Merrill Lynch diz que é grande a chance de o Fed realizar um novo corte antes da sua próxima reunião, que ocorre em 18 de março

David Karp/Associated Press
Corretores na Bolsa de Nova York; Dow Jones caiu 2,93% ontem


DA REDAÇÃO

As Bolsas dos EUA tiveram ontem o seu pior dia no ano, com dados do setor de serviços americano alimentando ainda mais os temores de recessão na principal economia mundial. Declarações de um dirigente do Fed (o BC dos EUA), que sinalizou riscos de estagflação (baixo crescimento e inflação alta), também colaboraram para a queda nos mercados
O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, caiu 370,03 pontos, a sua maior queda desde agosto de 2007, o que representou um declínio de 2,93%, o maior desde 27 de fevereiro de 2007, na época da turbulência nos mercados chineses. O S&P 500 se desvalorizou em 3,20%, e a Nasdaq, de empresas de tecnologia, caiu 3,08%.
"Existe muita coisa com o que se preocupar sobre a economia", afirmou Howard Silverblatt, analista da Standard & Poor's. "A principal dificuldade é que nós não sabemos o quão ruim está." Segundo ele, os setores financeiro, de telecomunicações e de energia, que vinham se recuperando nos últimos dias, foram os mais afetados pela queda de ontem, com os sinais de que a desaceleração está continuando a se espalhar por toda a economia.
O medo de recessão nos EUA também derrubou os mercados europeus, que tiveram forte desvalorização. A Bolsa de Paris retrocedeu 3,96%, e a de Frankfurt, 3,36%. Em Londres, a queda foi de 2,63%. Na América Latina, a Bolsa mexicana caiu 4,56%, e o índice Merval, da de Buenos Aires, 1,43%. A Bovespa não funcionou devido ao feriado de Carnaval.
Os mercados asiáticos, que fecharam antes da divulgação dos dados do setor de serviços nos EUA, terminaram em baixa devido ao resultado negativo nas Bolsas americanas no dia anterior e com o corte na previsão de lucro de empresas.
O índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio, caiu 0,82%. As Bolsas de Xangai (China) e Hong Kong, que só voltam a operar na semana que vem por causa do feriado do Ano Novo Lunar, fecharam em baixa de 1,55% e 0,89%, respectivamente. Pelo mesmo motivo, outros mercados da região não operam amanhã e sexta.
Dados do instituto de pesquisa privado ISM (Institute for Supply Management) mostraram que o mercado de serviços em janeiro nos EUA se contraiu pela primeira vez desde março de 2003. O índice do setor caiu para 41,9 pontos, ante 54,4 pontos em dezembro. Ele varia de 0 a 100 pontos, e resultados abaixo de 50 pontos apontam retração no setor.
Esta foi a maior queda nos mais de dez anos da história do levantamento e o pior resultado desde outubro de 2001, logo após os ataques terroristas do 11 de Setembro.
"Os dados são terríveis", disse Nigel Gault, economista-chefe da Global Insight. "Eles mostram claramente que provavelmente isso não é apenas uma desaceleração no primeiro semestre do ano, mas uma recessão. O quadro geral que está surgindo é que a economia está se contraindo."
Para Stephen Stanley, economista-chefe da RBS Greenwich Capital, os dados de ontem são "o sinal mais inequívoco" que a economia está enfraquecendo. "Não tem nada nesse relatório que fosse reparador", disse ao site da CNN. "Foi simplesmente terrível."
O estudo também mostrou que 24% dos empregadores do setor de serviços reduziram o número de funcionários (eram 13% em dezembro) e apenas 6% contrataram mais trabalhadores -ante 16% no mês anterior. Na última sexta-feira, o governo dos Estados Unidos divulgou que o mercado de trabalho eliminou 17 mil vagas no mês passado, o primeiro resultado negativo desde agosto de 2003.
O setor de serviços foi um dos que contribuíram menos para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos no quarto trimestre do ano passado ante os três meses anteriores. Ele colaborou com uma expansão de 0,67 ponto percentual no último trimestre, depois depois de ajudar no aumento de 1,20 ponto percentual de julho a setembro.
A economia dos EUA cresceu 0,6% no quarto trimestre de 2007, o menor avanço em cinco anos e 4,3 pontos percentuais inferior ao resultado dos três meses anteriores.

Fed
O presidente da divisão regional do Fed em Richmond, Jeffrey Lacker, disse que os últimos dados sobre a economia americana, como os do mercado de trabalho, elevaram a probabilidade de uma recessão. "Eu acho que os riscos aumentaram", afirmou, sem, no entanto, quantificá-los.
Ele disse ainda que podem ser necessários novos cortes na taxa de juros básica para garantir o crescimento. Ao mesmo tempo, demonstrou preocupações com a inflação, sinalizando o temor de estagflação.
O banco central dos Estados Unidos cortou os juros duas vezes no mês passado -a primeira delas em uma reunião emergencial, o que não ocorria desde 2001-, para 3%. O próximo encontro está marcado para o dia 18 de março, e o Merrill Lynch disse que é grande a chance de um novo corte emergencial.


Com o "New York Times" e Reuters


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