São Paulo, segunda-feira, 06 de março de 2006

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MERCADO

Itag e IGC, que dão condições melhores para acionistas em caso de venda da empresa, têm desempenho superior ao do Ibovespa

Índice que favorece minoritário sobe mais

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os investidores estão cada vez mais interessados em ações de empresas que demonstram dar maior atenção aos minoritários.
O desempenho dos diferentes índices da Bovespa ilustram bem esse movimento. Depois de liderarem as valorizações em 2005, os índices Itag e IGC (Índice de Governança Corporativa) estão se destacando novamente neste ano.
Enquanto o Ibovespa -principal índice da Bolsa, que reúne as 57 ações mais negociadas- tem alta de 16,9% no ano (até o último dia 2), o IGC subiu 20,1%, e o Itag, 24,6%. No ano passado, a diferença foi ainda maior: o Ibovespa deu 27,7%, o IGC subiu 43,7%, e o Itag, 50,2%.
Há alguns anos, era mais comum ouvir histórias em que acionistas minoritários eram prejudicados em processos de venda ou de fusão de companhias. Quando havia negócios desse tipo, os detentores de ações PN (preferenciais) -que oferecem preferência no recebimento de dividendos, mas não dão direito a voto- ficavam a ver navios.
O Itag é o índice formado por ações de 49 empresas que oferecem a seus investidores "tag along" diferenciado -uma forma de corrigir a distorção referente aos papéis PN.
O "tag along" é a regra que diz que, quando o controle de uma empresa de capital aberto é vendida, os minoritários têm direito a receber por suas ações ordinárias pelo menos 80% do que foi pago ao controlador. No caso dos detentores de ações preferenciais, a regra não é estendida.
Nas ações que entram no Itag, a empresa tem de oferecer ao minoritário que tem ação ON mais de 80% do preço obtido pelo controlador na hora da venda da companhia e/ou prolongar o direito do "tag along" aos papéis PN.
Se a empresa não pertence ao Itag e o controlador vende a parcela que detém na companhia, o minoritário que tem ação preferencial pode ter de engolir prejuízo. Por exemplo: o controlador recebe R$ 10 por ação ON. Pela atual lei, o minoritário poderia receber, se vendesse seu papel ON, R$ 8 (80%). Quem tivesse ação PN poderia não ter direito a vender nada ao novo controlador.
Por isso, muitos analistas consideram uma anomalia as ações preferenciais, que não existem em outros mercados acionários.
"A preocupação tem aumentado. Muitas das novas empresas têm lançado ações no Novo Mercado [no qual só são negociadas ações ON]. Essas novas companhias estão interessadas em ganhar credibilidade", afirma André Castro, gestor de renda variável da Sul América Investimentos.
Esse tipo de decisão ajuda a evitar conflitos futuros entre minoritários e controladores.
Analistas afirmam que melhores práticas de governança corporativa -entre elas, a extensão do "tag along" a ações preferenciais- têm cada vez mais sido levadas em conta por investidores.
Para os estrangeiros, acostumados às regras dos mercados de seus países, investir em ações PN é algo até estranho: ao fazerem isso, passam a carregar um risco extra, que está embutido nas ações PN no caso de a companhia ser incorporada ou adquirida por outro grupo. Especialistas avaliam que, no longo prazo, os índices que reúnem as empresas com boas práticas de governança corporativa devem se destacar ainda mais ante índices mais técnicos, como o Ibovespa -no qual o critério é a liquidez das ações.
Luiz Antonio Vaz das Neves, diretor da corretora Planner, não se empolga muito com o atual desempenho de índices como o IGC e o Itag. Mas diz que, aos poucos, as empresas e os investidores estarão mais atentos e exigentes em relação a direitos e deveres. "É uma tendência que vai se propagar", diz o especialista.


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