São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Alta no emprego beneficia menos a mulher

Taxa de desemprego caiu para ambos os sexos em 2007, em relação a 2006, mas redução foi maior entre os homens

Diferença se deve ao perfil dos postos de trabalho abertos no ano passado, com destaque para a construção civil e a indústria

Paula Huven - 18.fev.08/Folha Imagem
Mulheres disputam vaga de pedreiro no Rio; ocupação é tradicionalmente "reduto" masculino

TATIANA RESENDE
DA REDAÇÃO

Embora a taxa de desemprego tenha caído para ambos os sexos em 2007, a expansão no número de vagas criadas beneficiou mais os homens do que as mulheres devido ao perfil dos postos abertos.
Pesquisa do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) mostrou que a taxa masculina caiu em ritmo mais acelerado do que a feminina em todas as regiões metropolitanas pesquisadas (São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Distrito Federal, Salvador), com exceção do Recife, onde o decréscimo foi menor para os homens.
Segundo Lúcia Garcia, coordenadora do sistema PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego) do órgão, houve estabilidade na pressão das mulheres no mercado de trabalho, o que contribuiu para a redução na taxa. Porém, associado a isso, as oportunidades se concentraram na construção civil, na indústria e nos segmentos do setor de serviços mais ligados à produção, áreas tradicionalmente dominadas por homens.
"A sociedade designa lugares culturalmente ocupados pelas mulheres", afirma, referindo-se a profissões como professoras do ensino fundamental, enfermeiras e domésticas.
Em Belo Horizonte, foi registrada a maior diferença entre a taxa de desemprego feminina (15,9%) e a masculina (8,9%), mas foi em São Paulo, onde os números são respectivamente 17,8% (menor taxa desde 97) e 12,3%, que o dado chamou mais a atenção dos pesquisadores.
"É a maior diferença dos últimos 19 anos", diz Marcia Guerra, pesquisadora da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados).

Nível de ocupação
Isso se deve a uma expansão maior no ano passado, com relação a 2006, do nível de ocupação masculino (3%), que chegou a ser o dobro do feminino (1,5%). "Ainda assim, é o nono ano consecutivo em que há crescimento", destaca Marcia, lembrando ainda que, em 2007, apenas 29,7% das vagas criadas foram ocupadas por mulheres, contra 62% no ano anterior e 60,4% em 2005.
Na divisão por faixa etária, a maior diminuição na taxa de desemprego está no intervalo entre 40 e 49 anos, com queda de 8,6%. O mesmo grupo teve alta na participação no mercado de trabalho. Na faixa entre 10 e 17 anos, foi registrada a segunda maior retração (5,7%), mas nesse caso a redução se deve à diminuição de jovens procurando emprego. "Elas podem estar investindo mais em educação, adiando a entrada no mercado", analisa.

2008
Para este ano, Fábio Romão, economista da LCA Consultores, prevê uma continuidade no aumento de empregos formais superior ao da ocupação em geral, "o que já vem acontecendo desde 2005".
No entanto, construção civil e indústria devem continuar puxando a abertura de postos, o que significa que os homens tendem a permanecer em vantagem na disputa pelas vagas.
Na opinião da coordenadora do PED, é necessário implementar políticas de estímulo a segmentos tradicionalmente dominados pelas mulheres, com programas de educação infantil, por exemplo. "É preciso haver intervenção pública. Naturalmente, o mercado não resolve esse problema."


Texto Anterior: Mercado Aberto
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.