São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2008

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BC mantém taxa de juros em 11,25%

Decisão do Copom já era esperada pelo mercado e foi tomada pela diretoria do Banco Central de forma unânime

Manutenção da taxa Selic ocorre apesar de novas quedas no dólar e redução da pressão inflacionária vista no final de 2007

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Sem surpresas, o Banco Central resolveu não mexer nos juros básicos da economia, que permanecerão em 11,25% ao ano pelas próximas seis semanas. A decisão foi tomada ontem na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).
Como de costume, não foram informadas as razões que levaram os diretores do BC a manterem a taxa. Segundo nota distribuída após o encontro, a decisão foi tomada depois de avaliada "a conjuntura macroeconômica e as perspectivas para a inflação".
Assim como na reunião anterior, o texto dizia também que "o Comitê [de Política Monetária] irá monitorar atentamente a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária".
O Copom volta a se reunir nos dias 15 e 16 de abril.
A Selic está no nível atual desde setembro do ano passado. De lá para cá, o BC tem considerado a possibilidade de um aumento nos juros para combater os riscos de uma alta mais forte da inflação neste ano.
A meta do governo para 2008 é manter a alta do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em 4,5%, com uma margem de tolerância de até dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
No final de 2007, reajustes mais fortes dos alimentos fizeram a inflação ficar acima do projetado tanto pelo BC quanto por analistas do setor privado.
O receio era que esses aumentos pudessem ser repassados para outros preços, preocupação que ganhava força devido ao aquecimento da economia.
Mas a alta dos alimentos já arrefeceu, como vêm mostrando os índices mais recentes de inflação (leia texto ao lado).
Em tese, um ambiente de crescimento econômico é mais propício a aumentos de preços, já que, com o aumento no nível de emprego e de renda, a população costuma ficar mais disposta a pagar caro pelos produtos que consome.

Atenção
Segundo o BC, num cenário como o atual é recomendável uma maior atenção com o comportamento da inflação, principalmente porque o país ainda estaria vivendo os efeitos dos cortes dos juros efetuados entre setembro de 2005 e setembro passado, período em que a taxa Selic foi reduzida em 8,5 pontos percentuais.
Nas últimas semanas, porém, ganharam força argumentos que poderiam abrir espaço para novas reduções de juros no curto prazo. Por um lado, os índices de inflação de janeiro mostraram desaceleração ante o fim de 2007, indicando que as pressões sobre os preços podem ter sido temporárias.
Além disso, outro item que poderia justificar uma redução dos juros é a taxa de câmbio. O dólar, que nos dias que antecederam a reunião do Copom de janeiro era negociado perto de R$ 1,80, já está hoje abaixo de R$ 1,70, no menor nível em quase nove anos.
A valorização do real barateia os importados, e a concorrência que essas mercadorias impõem em alguns setores ajuda a controlar a inflação.
Os juros altos tendem a intensificar a tendência de queda da moeda americana, pois ajudam a atrair investimentos estrangeiros ao mercado financeiro nacional em busca de maior remuneração proporcionada pelas taxas brasileiras.
Do lado do BC, o argumento é que o efeito do câmbio valorizado sobre a inflação é limitado, pois não é suficiente para afetar os preços de setores como o de serviços. Além disso, existe também entre os diretores da instituição um consenso de que a economia já está crescendo num ritmo bastante satisfatório, não sendo necessário, portanto, um impulso adicional que poderia ser dado por um corte nos juros.


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